A sensação é de ter todo o peso do mundo sobre a minha cabeça.Sombras, vozes, alguns feiches de luz e a terna sensação — ou alucinação — de ter minha testa beijada.
Eu sonhei com ela.
Uma bonita garotinha de meigos olhos verdes e cabelos prateados na altura dos ombros, não parecia ter mais do que quatro anos e corria pela aldeia atropelando a todos com sua animação infantil. Tão nova, mas tão fascinada por aquelas armas que eu tanto advertia sobre os perigos que traziam se manuseadas naquela idade. Mas enquanto eu quase arrancava os cabelos por vê-la empunhar uma kunai pela primeira vez e acertar um alvo bem distante. Ele, por outro lado, aplaudia o feito com euforia. A sua princesinha já mostrava ser um prodígio mesmo naquela idade e, claro, bobo como era, seu orgulho de pai ía às alturas.
Um sonho extenso onde eu a vi correr para treinar depois de todas as refeições e tive um vislumbre meio embaçado do dia em que recebeu o presente que, quando aberto, decretou o mesmo como sendo dos céus. Desde então, a máscara tão parecida com a daquele que considerava seu herói tornou-se a sua companheira de todas as missões.
"Não se preocupe comigo, mamãe, eu sempre encontro o caminho de volta para casa."
Era a sua costumeira despedida. Eu sempre sorria e assistia ela se afastar com aquela mochila cinza nas costas, os cabelos prateados chacoalhavam com o vento e ela sempre parava lá distante e acenava para mim, antes de sumir entre as árvores que a levavam até a sua próxima missão.
— Sakura, consegue me ouvir? — é a voz de Tsunade, mas não consigo vê-la tão claramente já que uma luz forte ofusca toda a minha visão. — Ela está acordando! — e para completar, seu grito estridente castiga meus ouvidos sensíveis.
— Não acredito! — a luz foi apagada, mas enxergo apenas sombras. Ainda assim, consigo discernir a silhueta de Ino vindo apressadamente até mim. — Testuda, você me deixou muito preocupada! — sinto a sua mão tocar a minha testa. — Dá próxima vez que for se explodir, me avise com antecedência pelo menos.
— Quieta, Yamanaka!
Isso Tsunade, faça-a calar a boca antes que comece a encher minha cabeça com suas asneiras.
— Oras, Tsunade-sama, não seja assim tão careta. — imagino sua expressão mais cínica nesse momento e suas mãos gesticulando enquanto fala. — É apenas as minhas boas-vindas para a dorminhoca aqui. — sei que ela indica meu estado deplorável com a cabeça e eu a amaldiçoo por isso.
— A dorminhoca... consegue ouvir cada palavra... — com certa dificuldade, consigo falar e me sentar na cama que julgo ser a do hospital. — Água. — peço, sentindo minha cabeça girar.
Imediatamente Ino sai do meu lado e retorna logo depois com um copo d'água. Bebo o líquido como se já não o sentisse há tempos na minha garganta. Minhas mãos tremem e rapidamente sinto o objeto ser tomado de mim. Ino não é tão atenciosa, mas provavelmente é a responsável por eu agora e eu sei que ela não deseja arcar com nenhuma sujeira.
— Como está se sentindo? — Tsunade pergunta, a voz branda de quem há muito não me via assim.
Aos poucos minha visão começa a retornar e, por estarem perto de mim, consigo vê-las com mais clareza. É nítida a preocupação em suas faces e me pergunto qual a gravidade em que me encontro para tê-las deixado assim.
— Estou bem, um pouco fraca — avalio meu corpo, não parece ter nada fora do lugar e para mim isso já é o suficiente. —, mas bem. Estou viva. — reforço, sorrindo pequeno.
— Você explodiu e dormiu durante quinze horas! — afoita, Ino expõe a notícia como se eu não tivesse consciência do meu próprio estado. — Deixou todo mundo preocupado! — suas mãos espalmam no colchão de forma exageradamente teatral e, pela fraqueza, não consigo revirar os olhos como desejo.
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Através do tempo - Kakasaku
FanficApós a quarta guerra ninja, os moradores da aldeia da folha desfrutam finalmente da tão almejada paz conquistada com muitos esforços e alianças Shinobi. Sakura Haruno, sucessora da Godaime Hokage, vive uma vida pacata enquanto exerce sua função de...