Paredes brancas pt. II

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Com os olhos verdes fulminantes, Misaki encara cada um dos homens que estão no quarto e, em um movimento tão rápido, deixando apenas pequenos relâmpagos como evidências da sua passagem, ela vai de encontro ao fugit seu refém, golpeando o sujeito na face e recuperando o pequeno que, assustado, esconde o rosto na sua bata branca de paciente.

E na mesma rapidez em que deixou o lugar ao meu lado; ela retorna, agora com Raijin abraçando sua cintura e sob a sua proteção. Sua mão toca o ombro pequeno e, mesmo hesitante, ele ergue o rosto para olhá-la, percebo então que há um sorriso minúsculo embaixo do tecido preto que cobre metade da face feminina. E eu reconheço esse gesto melhor do que qualquer um, Misaki o está confortando e mentalmente pedindo para que Raijin aguente firme.

Percebo então que não é somente a sua aparência e traços bastante evidentes que denunciam o parentesco, ela também herdou partes da personalidade tão característica do seu pai. E talvez seja somente meu instinto materno recém aflorado ao estar na presença de Misaki agora desperta, mas eu ignoro toda a situação momentaneamente e me permito sentir orgulho da minha criança.

E Raijin, sendo a criança que também desperta meu orgulho e admiração, entende perfeitamente o que a expressão cuidadosa de Misaki diz e a solta, dando curtos passos para trás sem desviar os olhos dos dela e envolvendo seus bracinhos no meu. Ela assente para ele e depois para mim, se colocando em posição de batalha e encarando os inimigos.

Certa de que, mesmo se mostrando bastante forte e ágil, Misaki não conseguirá enfrentar os sete sem ajuda, me coloco de pé e me posiciono ao seu lado. De esguelha ela me direciona um olhar de cumplicidade ao mesmo tempo em que posso jurar que há certa hesitação em resposta ao que faço.

"Ele nos deu trabalho, mas conseguimos a sua captura após deixá-lo completamente sem chão com a morte da sua amada esposa."

As palavras do maldito comerciante vem à minha mente e eu consigo então compreender os sentimentos dela. Lá no futuro, a realidade dela, onde já sou a sua mãe, eu padeci para os inimigos, porém aqui no presente eu não posso permitir que aconteça o mesmo.

Vejo Raijin correr para perto da porta e se encolher no canto da parede. Me certificando da sua segurança, procuro o homem que guardava Misaki e o encontro tentando se erguer ao lado da sua cama, há uma Kunai cravada nas costas compridas e muito sangue manchando a capa preta que o cobre. Nitidamente Misaki surpreendeu a todos.

— Como é belíssimo mãe e filha assim juntinhas. — novamente Kotaro começa a falar, o sorriso psicopata em seu rosto ganha ainda mais vida quando ele gesticula. — É uma pena que tenhamos que separá-las nesse tempo também, não é mesmo, Misa-chan? Oh — os olhos horrendos se abrem e um indicador se ergue. —, tive uma ideia que você vai aprovar. Como lá no futuro você não chegou há tempo de ajudar a sua pobre mãezinha — assisto os punhos de Misaki se fecharem com força, a raiva evidente em sua face. —, vamos permitir que dessa vez ela morra depois de você e não ao contrário como pretendíamos. — gargalha escandalosamente.

— Eu vou acabar com você! — Misaki esplana, porém ainda não deixa a sua posição e estou ciente de que não o faz apenas por saber que estará se precipitando ao atacar primeiro. Ela é cuidadosa e seus olhos avaliam o ambiente com a precisão de quem está acostumada com estratégias. — Todos vocês pagarão caro pelo que fizeram com a minha família! — ameaça, a sua voz é doce e feminina, mas destemida.

— Você realmente pensa que nos assusta, fedelha? — ainda zonzo pelo ataque, Satoru rosna a nossa frente enquanto tenta inutilmente conter o sangramento com a sua agora única mão. — Já lutamos contra você, conhecemos cada um dos seus movimentos!

— E ainda assim você foi surpreendido agora há pouco quando cortei o seu braço fora. — Misaki cospe as palavras com arrogância. De repente, um estrondo é ouvido do lado de fora do quarto e em seguida tudo ao nosso redor estremece bruscamente, derrubando alguns quadros e equipamentos médicos, ouço um resmungo assustado de Raijin. Diferente dele, Misaki sorri desafiadora diante da situação. — Eu aposto tudo de valioso para mim que do outro lado dessas paredes quem se encontra agora é o meu pai — ela move a perna direita para trás, inclinando um pouco o corpo como se estivesse se impulsionando. — e ele com certeza está com muita raiva. E vocês não vão querer ver meu pai com raiva.

Através do tempo - Kakasaku Onde histórias criam vida. Descubra agora