Paredes brancas

587 49 16
                                    

— Ei, porca! — mais uma vez encontro nos corredores aquela que claramente me evita desde mais cedo. — Pare de fugir de mim, o que aconteceu? — pergunto.

Corro um pouco para alcançá-la, ela carrega uma pequena caixa em uma mão com alguns materiais de expediente que denunciam sua ida ao almoxarifado. Junto as sombrancelhas, Ino detesta o almoxarifado e quando precisa de algo pede que eu o busque ou para qualquer um que passe e se derreta pelos seus encantos.

— Desculpa, Sakura. Estou bastante atarefada e não tem como eu falar agora porque... — começa a me jogar desculpas esfarrapadas enquanto anda apressadamente, me obrigando a seguí-la e desviar de pessoas a todo momento.

— Qual o resultado? — a corto, me dirigindo exatamente ao ponto que faz seu corpo tremer de nervosismo. Ela me olha aturdida. — Você já sabe, não? Então me diga quem é o pai do seu filho.

Ino chegou ao hospital depois das nove da manhã e eu sei que sua demora foi em razão de que receberia a visita de um dos médicos de Suna, responsável por examiná-la e noticiar a paternidade do seu filho. Pelo seu evidente nervosismo, eu consigo constatar somente uma coisa:

— O pai é o Sai, não é mesmo?! — pergunto e ela faz cara de nojo ao mesmo tempo em que nega com a cabeça, me olhando como se eu fosse uma aberração. Eu cesso meus passos. — Espera, então... — olho para sua barriga pequena, mas já um pouco aparente. — Existe realmente um herdeiro do Kazekage aí? — meu cenho se franze, é difícil imaginar uma criança ruiva ou loira com os genes da pessoa mais desinibida que conheço misturados ao da mais reservada. — Só pode ser brincadeira.

— O quê? Acha que eu não estou a altura de um líder de aldeia como você? — ela me devolve com desdém e eu fecho a cara diante das suas especulações absurdas.

— Sabe exatamente que não foi isso o que eu quis dizer, se deseja descontar suas frustrações faça isso com outra pessoa que não seja aquela que apóia você desde o início. — a repreendo e ela morde os lábios, olhando para os seus sapatos com tristeza.

— Me desculpa, Saky. — sua mão livre brinca com os botões do seu jaleco. — É só que a reação de Gaara foi maior do que eu esperava, ainda estou processando tudo. Entende? — nego com a cabeça e ela me oferta uma expressão de tédio.

— Ele reagiu mal? — ela nega. — Então qual o motivo dessa palhaçada toda, Ino? 

Embora saiba da condição delicada da minha amiga, não consigo evitar me irritar um pouco com sua atitude. Porém, diferente de quando tenho que lidar com Naruto ou Shikamaru, pessoas que não merecem um terço da minha paciência, eu me permito respirar fundo e aguardar enquanto ela parece escolher minuciosamente as palavras para me responder.

— Ele pediu para que eu me mude para Suna onde me fará a sua esposa. — não sei se sua resposta mereceu realmente o tempo que levou para ser arquiteta, porque ela foi bastante direta ao expôr. Eu abro a boca para tentar responder, mas ela prossegue ao mesmo tempo em que balança a cabeça horizontalmente: — Não, eu ainda não dei a resposta e ele disse que esperaria o tempo que fosse necessário. — sorri tristemente. — Bem, ao menos até o momento em que nosso filho nasça, acredito eu.

— Não me parece uma pergunta que mereça tanto para ser respondida. — digo e ela cerra os olhos, voltando a caminhar, dessa vez não tão rápido como se fugisse de um predador. — Eu sei que isso pegou você de surpresa e que está pensando em tudo e todos que terá que deixar ao atender o que ele pede. — ela confirma com a cabeça apenas brevemente para eu ter a certeza de me ouve mesmo que seus olhos não estejam mais em mim. — Eu mesma quero ser egoísta ao pensar em convencê-la de ficar, colocando os anos de amizade que temos como desculpa para que não me deixe — Ino me olha tristemente, o sentimento também se distribui em um sorriso fraco. —, mas como sua melhor amiga tenho a responsabilidade de pensar além do que você me mostra. Eu vejo muito mais do que a distância e o provável tempo que talvez fiquemos sem nos ver se assim o decidir, nesse momento eu tento enxergar o seu coração e tudo o que ele tem refletido mesmo que você não perceba. — os olhos azuis se acendem e eu sorrio. — Você o ama, Ino. Ama há mais tempo que talvez nunca venha admitir nem para si própria. Os seus comentários quando ele visitava Konoha nunca foram somente, hum... — penso um pouco tentando recordar as palavras que ela normalmente usava ao se referir a alguém que despertava sua atenção quando ainda namorava Sai. — Como você dizia mesmo?

Através do tempo - Kakasaku Onde histórias criam vida. Descubra agora