A situação é tão perturbadora que o silêncio que cai sobre a sala escura parece ser uma espécie de anestesia coletiva antes do momento crucial — a calmaria antes da tempestade.
Toda a atenção está voltada para o homem ao meu lado, eu o assisto apertar os olhos diversas vezes como se para comprovar se o que via era isso mesmo.
Alguns pingos de suor descem pela sua testa franzida e, tomada pelo impulso de querer seu bem estar, eu me aproximo e o toco no braço conseguindo, com certa dificuldade, a sua atenção. Nossos olhares se encontram e me pego sem ter o que falar para ele, como disse foi uma decisão tomada unicamente por impulso.
— V-você está bem? — as palavras escapam da minha boca sem que eu as processe devidamente.
Ele não me responde, continua me olhando fixamente, mas não se afasta ou dá indícios de que queira que eu faça isso. Apenas continua naquela espécie de transe que entrou desde o momento em que leu o último nome nas gravações do relógio.
Não posso julgá-lo por está sentimentalmente instável, eu consigo compreender a situação em que se encontra e tenho uma ideia de como se sente. Oras, ele é o último Hatake e acabou de ler que mais alguém, possivelmente, do seu clã está vivo. E isso não faz o menor sentido, ainda mais porque, segundo o que presenciei aqui até agora, o relógio pertence a ele mesmo.
— Rokudaime — Shikamaru o chama, amenizando a tensão no ar e sinto vontade de agradecê-lo por isso. — preciso que diga tudo o que sabe sobre isso.
— Nada do que eu pense em dizer parece fazer algum sentido. — Kakashi responde, sua voz mais grave e mais arrastada do que o normal.
— Você disse que o relógio estava com você ainda esta manhã. — Tsunade pontua. — Então como ele veio parar no meio dos pertences da garota internada? E por que o nome Misaki Hatake está nele? — seu cenho franze, é confuso até mesmo para ela.
Em resposta, Kakashi apenas balança a cabeça em negativa e novamente fita o objeto.
— E os outros pertences dela? — eu pergunto de repente e todos os olhares caem sobre mim, como se apenas agora dessem alguma importância a minha presença insignificante na sala. — Ainda há dois objetos, hum? Vocês já verificaram todos?
— Já. — Shikamaru suspira, suas mãos estão na cintura quando ele caminha até o outro lado da mesa e recolhe os outros dois objetos que citei, exibindo-os em ambas as mãos. — Uma carta e uma pulseira com o nome dela... — hesita, olhando para Kakashi. — O mesmo nome no relógio. — deixa claro.
E mesmo sendo quase imperceptível, noto que Kakashi vacila quando anda em direção a Shikamaru e toma posse dos objetos para uma análise própria.
Ele parece fazer um esforço considerável para filtrar o conteúdo em suas mãos. De forma rápida e silenciosa, os olhos negros varrem cada centímetro do que está sendo apresentado, coletando informações que apenas um ninja como ele pode processar e definir o grau de sua importância.
— Você tem algo a me dizer sobre essa carta, Shikamaru? — pergunta ao conselheiro, após finalizar a leitura, e o mesmo nega com a cabeça.
— Somente que, considerando o que está escrito no papel e a caligrafia fina, acredito que a autora da carta seja a mãe da garota. Mas pela ausência de uma assinatura ou qualquer outro nome que nos dê alguma pista, isso nos leva de volta à estaca zero. — ele dá de ombros, as mãos enterradas no bolso da calça. — O nome Misaki é novamente citado na carta, como você acabou de ver, o que nos confirma que esse é mesmo o nome dela.
Minha curiosidade explode e quando percebo eu já estou ao lado de Kakashi esticando o pescoço para bisbilhotar o papel em sua mão.
Me sinto um suricato.
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Através do tempo - Kakasaku
Fiksi PenggemarApós a quarta guerra ninja, os moradores da aldeia da folha desfrutam finalmente da tão almejada paz conquistada com muitos esforços e alianças Shinobi. Sakura Haruno, sucessora da Godaime Hokage, vive uma vida pacata enquanto exerce sua função de...