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Jaya sempre fora um lugar agradavelmente frio, nada que fizesse com que seus habitantes andassem com casacos grossos durante o verão, mas era o suficiente para que, ao mínimo farfalhar de folhas pelo vento, os pelos de todo o corpo se eriçassem.. Já no alto do castelo da família Klaus, os ventos sempre sopravam mais forte devido à altura em que se encontrava, levando embora folhas mortas do jardim, pétalas de flores, lembranças e cartas de amor, que eram soltas pelas janelas na esperança de que um dia chegassem aos entes queridos dos trabalhadores daquele lugar, fadados a viver e servir para sempre um rei tirano e sua família.

Levann Klaus era apaixonado pelo vento e pelo frio de Jaya, pela sensação de senti-lo em sua pele. Seu porto seguro sempre fora o telhado acima de seu quarto, onde sempre subia com a ajuda de vinhas firmemente agarradas às paredes externas do castelo. De cima das telhas douradas o rapaz podia sentir o vento balançar seus cabelos dourados e, sentir-se livre de sua vida teatral ao lado de sua família.

Inclinando o corpo para frente para que não caísse, o garoto escalou as telhas brilhantes até o ponto mais alto do telhado da torre que se encontrava seu quarto, que não era tão alta quanto as outras torres do castelo, mas, para Levann, sempre fora o suficiente para que se sentisse livre.

Ele encheu os pulmões e expirou lentamente, enquanto admirava a vista das montanhas de diamante ao longe: Uma cadeia montanhosa cujos cumes cobertos de diamante puro brilhavam intensamente, refletindo a pouca luz alaranjada que sobrava ao fim do crepúsculo, jorrando luz aos cantos mais escuros de Jaya, onde o Sol por si só jamais alcançaria. Levann sentou-se sobre as telhas onduladas, abraçando os joelhos pálidos enquanto o vento soprava forte em seu rosto, cada vez mais frio. A noite se aproximava, e com ela, a maior insegurança do rapaz ficaria evidente: Ele mesmo.

Buscando algo em seus bolsos, Levann encontrou um estilete, pequeno, fino e azul. Ele segurou a ferramenta fechada entre seus dedos até que o último resquício do dia fosse embora. As montanhas de diamante agora sequer podiam ser vistas, estavam sem vida em meio a névoa e a escuridão da noite. A luz sempre fora tudo no reino de Jaya, e a ausência dela amedrontava a todos. Então por que Levann sentia-se amaldiçoado por sempre tê-la por perto?

Ele abriu o estilete e estendeu a mão esquerda ao nada. Segurando a respiração, cortou a palma de sua mão de forma profunda e rápida. Agonizando em dor, Levann guardou de volta em seu bolso o estilete, cuja ponta da lâmina agora brilhava assim como sua mão. Por entre seus dedos não escorria sangue ou algum líquido, mas uma luz dourada irradiava da ferida, como se tivesse escapado das veias do rapaz.

Após um breve momento de dor e agonia, a ferida não mais ardia, a luz era quente e reconfortante. Ela parecia dançar na palma da mão de Levann, querendo voltar para dentro de seu corpo. O garoto, por sua vez, estendeu a outra mão sobre seu machucado, e, tomando a forma de um líquido pastoso, a luz dourada moveu-se, expandindo-se e lentamente tomando a forma de algo achatado porém muito afiado: Uma adaga.­

Empunhando-a com as mãos tremendo, Levann apontou a lâmina para seu coração, tentando manter seu pensamento longe de sua família ou de seus conhecidos. Ele sabia que se pensasse demais desistiria da ideia, então decidiu manter em mente apenas o pensamento de que o que ele faria a seguir era pelo próprio bem das pessoas que eram queridas para ele.

Seu pai, o rei, apesar de um homem difícil, nunca fora um pai ou marido ruim. Pelo contrário, sempre foi muito carinhoso e atencioso com sua família, colocando sua segurança e bem-estar acima de tudo e todos, mas a que custo? Levann nunca concordou com as medidas adotadas por seu pai para o controle de Jaya, e, por ser o próximo na linha de sucessão, decidiu estudar e ir a fundo na situação da periferia para mudar aquela situação. Tudo caminhava bem para que Levann Klaus fosse aquele que mudaria toda a história de um reino.

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