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Enquanto eu segurava a mão de Aly tudo que passava na minha cabeça era medo medo medo, eu me ferrei.

Eu não escolhi isso pra minha vida! Quer dizer eu escolhi sim, MAS... não tem "mas", eu realmente escolhi. Isso aqui não é só um exército, isso aqui é uma família, e eles vão me proteger porque eu também vou proteger eles, não é?

Eu queria gritar, sair correndo e chorar com Luna em meus braços enquanto eu assoo o nariz no pelo fofinho dela. Cada passo em direção ao enorme e monstruoso castelo de mármore com telhado dourado me deixava desesperada.

— Eu quero ir embora! — Eu disse, puxando a mão de Alycia para chamar a atenção dela.

Ela se virou pra mim, piscou algumas vezes...

— Se quiser ir embora eu chamo uma das aves. Tem certeza?

A pergunta fatídica! Eu NUNCA tinha certeza, eu não sabia mais se queria lutar, eu só sabia que estava com medo. Não é como se eu fosse uma guerreira corajosa treinada por anos como os capitães.

SE ACALME LUCY! Eles vão achar que você está amarelando e que você é fraca. Você é a Elementalista, recomponha-se!

Bati em meu rosto com as duas mãos algumas vezes para voltar à realidade e balancei a cabeça em negação.

— Não, eu vou ficar! — Eu disse com empolgação e confiança.

Lukas sorriu para mim e disse algo do tipo: Você é incrivelmente corajosa Lucy, você é incrível! Por favor seja a próxima capitã da Ordem!

Eu tenho certeza que ele disse isso.

Depois daquilo as coisas ficaram um pouco nebulosas na minha cabeça. Eu não consigo me lembrar muito bem... eu só me lembro de entrarmos no castelo nós cinco e de eu ficar tão encantada com aquele jardim de entrada. Eu sei que nós já tínhamos ido lá no baile da rosa, maaaas...! Era realmente muito bonitinho. O caminhozinho de pedra, a fonte, os portões dourados, era tudo incrível! Achei até que o Dapher estava tramando alguma coisa, porque não tinham guardas do lado de dentro! Tinham alguns guardas nas torres que estavam olhando MUITO pra gente, mas...

Era como se todo o caminho até os portões dourados fosse inteiramente nosso.

Haviam casas muito bonitas na região de fora do castelo principal, Lukas disse que era onde os outros azuis viviam. Realmente era uma vida muito luxuosa. Mas as casas pareciam estar vazias... as portas e janelas abertas como se alguém tivesse fugido e não se deu ao trabalho nem de fechar a casa. Era preocupante!

Acho que Alycia compartilhava da mesma ideia que eu, porque ela ficava olhando para os lados preocupada buscando algum ataque pelas costas e segurava minha mão mais forte, com medo de eu sumir do nada. Ela era tão bonitinha preocupada!

Foco, Lucy.

Nós paramos em frente aos portões dourados e esperamos... esperamos muito. Mais do que eu estava disposta a aguentar.

— A gente tem que bater ou... tem uma campainha? Talvez um sininho? — Perguntei, diminuindo o tom de voz gradativamente até parar de falar.

Ninguém me respondeu ou sequer olhou para mim. O ambiente estava muito tenso para simplesmente tirarem os olhos dos portões.

Até que eles finalmente começaram a se abrir.

Por impulso me escondi atrás de Alycia e olhei para dentro do castelo por cima de seu ombro. A vista era de cair o queixo... FOCO LUCY!

Não era o salão de baile, estava mais pra um hall de entrada com o pé direito incrivelmente alto. Logo que entramos fomos recebidos pela triunfante escada que dava acesso às alas superiores do castelo, se dividindo em dois caminhos; um lustre de cristal descia até quase nossas cabeças, cheio de esferas de luzinha condensada para iluminar o local; grandes janelas ajudavam com a luz, mesmo que cortinas que iam até o chão tampassem parte dos vidros; havia um piano no lado esquerdo que estava coberto por um lençol branco e tinha por cima dele uma rosa branca quase morta. Era um lugar lindo e assustadoramente solitário.

Nós realmente pensamos estar sozinhos até ouvirmos passos carregados de eco vindos do segundo andar. A cada degrau que aquele ser descia era como uma flecha disparada em meu estômago. Eu queria vomitar, eu estava com medo, eu quis fugir, eu quis gritar...

Mas eu não fiz nada.

Eu só assisti ele descer. Aquele homem alto, de físico respeitável, com os cabelos iguaizinhos do Levann - apesar de muito mais longos - presos atrás no alto da cabeça; os olhos azuis assustadores e as feições macabras. Ele usava um sobretudo branco de lapela alta igual do Levann, que parecia um jaleco. Pensando bem, aqueles dois pareciam apenas uma versão do outro com anos de diferença. Só que estar no mesmo lugar que o Dapher era milhões de vezes mais assustador.

Eu estava tremendo, eu admito. A presença dele era cruel. Eu sempre ouvi histórias sobre como ele matava sem dó qualquer um que cruzasse seu caminho e, sério, eu não queria ser a próxima da lista de mortos.

— Ora, ora, o que temos aqui? — Ele sorriu com deboche ao chegar no final da escadaria, abrindo os braços. — Um filho pródigo, minha caçulinha e o bando de terroristas mais conhecido de Niford. Querem entrar e tomar um chá? Deve ter sido uma longa viagem desde o bueiro de onde vocês saíram.

Quem ele estava chamando de terrorista? Eu só coloquei fogo em algumas coisas!

Eu senti Levann engolindo em seco mesmo estando a dois metros de distância. Elise fechou a mão em um punho que se esforçava para parar de tremer. Lukas e Alycia pareciam tão calmos... era invejável o autocontrole deles. Ou eles só fingiam muito bem.

Dapher abriu caminho e estendeu o braço indicando que deveríamos passar por ele e subir a escadaria. Eu estava pronta para ir em frente, mas Aly me barrou com o braço.

— Você fica. — Ela sussurrou. — Não vamos demorar.

— Mas... — Tentei questionar, mas recebi apenas um olhar frio. — Ta bom. — Eu disse, derrotadíssima.

Conforme eles se aproximavam de Dapher Lukas ficou para trás para me dar um último recado, acompanhado do mesmo sorriso caloroso e gentil de sempre.

— Ela só fez isso porque se preocupa com você. Talvez aqui em baixo seja mais seguro. — Ele bagunçou meus cabelos e seguiu atrás dos outros, me deixando sozinha no hall de entrada até que eles desaparecessem nas escadas.

Uma parte de mim estava feliz e aliviada por não precisar subir e encarar Dapher, feliz por Aly se preocupar comigo. Mas... eu não quero ser inútil! Eu sou forte, eu não treinei esses anos todos para me deixarem para trás só porque é mais "seguro". Eu quero lutar, eu quero mostrar que eu não sou mais uma garotinha assustada. EMBORA EU ESTEJA ASSUSTADA!

Eu então decidi que iria atrás deles e me pus a correr até a escadaria. Quando estava prestes a subir o primeiro degrau eu fui barrada por alguma coisa e caí para trás. De joelhos no chão eu me aproximei da escadaria, mas uma barreira invisível me impedia de continuar o caminho.

— Onde pensa que vai? — Uma voz feminina afiada surgiu atrás de mim. Eu me virei, ainda no chão e encarei seus olhos vermelhos como sangue e seu cabelo longo, liso e prateado como a lua. Uma brisa forte se instaurou entre nós, balançando meus cabelos a cada passo que ela dava em minha direção com as longas botas brancas que faziam muito barulho contra o piso. — Saiba que aquela é uma reunião particular, garotinha. Não posso deixar que atrapalhe isso, então acho que vou ter que matar você se der mais um passo.

Seu sorriso malicioso, as feições afiadas e perigosas como de um falcão predatório. Sem dúvidas eu conhecia aquela mulher. Bem à minha frente com instinto assassino transbordante estava a sacerdotisa do vento: Arya Wynd.

A Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora