15

39 6 1
                                    

Você, que está lendo isso, em algum momento já passou pela situação de ter tudo o que deseja a uma distância mínima, mas não poder tocá-lo? Aquela sensação de incapacidade, o sentimento de ter de se contentar minimamente com a visualização daquilo ou, em caso de pessoas, se contentar com conversas onde você não pode expor seus sentimentos mais profundos... Talvez você me acuse me ser um homem sentimental, mas é algo que faz sentido quando três das quatro pessoas mais importantes da sua vida te olham todos os dias e simplesmente... não lembram de você.

Mas isso aconteceu a tanto tempo... mal posso dizer quantos anos. Todos os presentes nessa história estão mortos.

Ou... quase todos.



— Muito trabalho? — Questionou Derek à porta do escritório de Lukas, segurando uma xícara de café em cada mão. Ele se aproximou e deixou uma das xícaras em cima da mesa do ruivo antes que ele recusasse e se afastou, bebericando sua própria bebida.

— Só estou de cabeça cheia, obrigado pela preocupação. — Lukas passou as mãos sobre o rosto e sorriu de canto com uma expressão claramente de cansaço. As olheiras estavam profundas e seus olhos de ametista - um dia tão brilhantes - agora estavam frios e opacos.

O ruivo pegou sua xícara de café e passou alguns segundos observando o líquido escuro e sua fumaça quente enquanto sua mente vagueava em inseguranças sobre seus próximos passos. E se, após tudo isso, Levann estivesse morto? Dez anos realmente era muito tempo e absolutamente ninguém tinha notícias sobre um garoto de olhos azuis em Bloodstate. Nenhum dos soldados da Ordem que vieram de lá conheciam alguém que soubesse do paradeiro do príncipe foragido. Como ele conseguiria comida ou água vivendo sozinho? De acordo com as histórias que contavam a respeito do garoto, Levann era um curandeiro, não um Elemental de água. As chances de ele estar morto só aumentavam cada vez mais.

— Vai esfriar. — Disse o sombrio, chamando o ruivo de volta à realidade enquanto apontava para o café nas mãos dele, que balançou a cabeça e enfim bebericou a bebida já morna.

O mais puro e cruel silêncio se instaurou no local, Derek observava o ruivo como se seu interior precisasse dizer algo, como se clamasse por despejar palavras em cima de seu líder. Mas ele apenas ficou observando.

E Lukas começava a ficar incomodado.

— Então... posso ajudar em algo? — Perguntou o ruivo, forçando um sorriso simpático enquanto era fuzilado por olhos vermelhos que por tantos anos fora ensinado a temer. Derek sempre lhe causava arrepios na espinha como um tipo de ser superior guiado pelas sombras... mas por dentro ele era apenas uma manteiga derretida.

— Ah! Não, não. Eu só... — Derek olhava ao redor procurando algo que pudesse usar como desculpa, mas não havia nada ali que justificasse sua estadia, então ele suspirou derrotado e olhou diretamente para Lukas, nervoso. — Eu queria dizer que estou orgulhoso de você! — Ele... levantou o polegar em aprovação. Muito bem Derek. — Você é um ótimo líder, e vai dar tudo certo! — Ele se atrapalhava com as palavras, mas aquilo soou engraçado aos ouvidos do ruivo, que deixou escapar uma lufada de ar pelo nariz, segurando o riso.

— Muito obrigado Derek. — Ele levantou a xícara de café com um sorriso iluminado e o sombrio fez o mesmo, deixando a sala logo em seguida lançando xingamentos a si mesmo.



Mary acordou em um pulo.

Onde estava? O que aconteceu? Tivera uma noite tão conturbada, uma pena não se lembrar de nada. A luz dourada da manhã entrava por uma janelinha simples, antiga, porém bem acabada. O local tinha imensas prateleiras repletas de livros que ela mesma escolhera e um baú de madeira ao pé da cama para suas poucas roupas. O diamante triangular em seu peito cintilava contra a luz do Sol, jorrando todas as cores do espectro contra os lençóis amarelados - apesar de limpos. Sua respiração estava ofegante e seu coração batia tão forte quanto se ela tivesse fugido de lobos a noite inteira.

A Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora