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Sarah abriu as portas do escritório principal de Dapher Klaus de forma imponente e com um semblante severo. Caminhando em passos largos até seu marido, o rei.

Dapher estava encostado na janela, de braços cruzados olhando para a imensidão do céu azul de Jaya. Parecia tão entretido em seus próprios pensamentos, ou quem sabe em algum pássaro, que nem percebeu Sarah se aproximando.

O rei tinha os cabelos longos, lisos e dourados como o Sol presos em um rabo de cavalo alto com mechas soltas que caíam pelas laterais do rosto. A barba rala e bem feita também refletia a luz com alguns fios que pareciam estranhamente ruivos. Dapher usava um sobretudo branco com detalhes em dourado que mais parecia um jaleco sob uma camisa preta de gola alta e calças escuras. Estava bem vestido, porém o destaque sempre foram seus olhos, azuis. Claros como o céu, brilhantes como a aurora, e tão perigosos quanto uma navalha.

Quando seus olhos encontraram os de Sarah, um sorriso singelo se formou nos lábios do homem, que descruzou os braços para segurar a mão de Sarah e leva-la até seus lábios.

— A que devo a honra de sua presença, minha rainha?

Sarah conteve um sorriso, haviam assuntos mais importantes para tratar. Limpou a garganta e soltou todo o ar de seus pulmões.

­— Você acredita em histórias?

Dapher endireitou-se, cerrando os olhos. Ele buscou por segundos algum vislumbre de que sua esposa poderia estar brincando, mas nada naqueles olhos gélidos e cansados de uma noite mal dormida parecia fraquejar em sua crença.

— Devo supor que uma delas seja verdade, já que você está aqui. Linda por sinal. — Sarah lançou um olhar de desaprovação para ele após sua última frase. — Desculpe.

O rei recostou-se novamente na janela e passou a mão pela barba, buscando em seus pensamentos algumas histórias que já lhe foram contadas, mas desde que se tornara rei ele frequentemente lia histórias de todos os tipos, então logo desistiu.

— De qual estamos falando?

Após muito tempo em silêncio, a rainha enfim praguejou.

— Do próprio deus da morte.



Outro pesadelo, exatamente igual a todos os outros. "Floresta, mulher morta, quem era? Eu quem matei? Monstro, era eu? Céu de sangue. Bloodstate? Nunca fui pra lá." A mente de Levann rodeava nessas mesmas frases por horas, buscando algum significado em seus sonhos repetitivos. Sua respiração ofegante e os lençóis molhados de suor denunciavam sua péssima noite de sono.

Após esfregar o rosto e ponderar em sua cama por algum tempo, Levann enfim levantou. Seu quarto era relativamente simples para os aposentos de um príncipe, escolha do próprio. Uma cama de solteiro no canto, com cômodas em madeira clara na parede contrária. Uma estante de livros bem recheada ao lado da porta e uma enorme janela com vista para as montanhas de diamante ao lado da cama.

A luz do nascer do Sol entrava diretamente pela janela de Levann, deixando seu quarto inteiramente em tons de laranja. O inverno estava cada vez mais próximo, as últimas flores do jardim da família Klaus só estavam vivas graças ao trabalho dos Myr'Lyr e suas músicas que davam força e vitalidade às plantas do castelo. Mas daqui a alguns dias nem mesmo isso seria o suficiente, aquele lugar voltaria a ser frio e sombrio assim como todos os anos, e Elise teria que procurar um novo hobbie até o fim do inverno.

Após tomar banho e pôr-se em suas vestes habituais, o loiro recostou-se na janela e subiu o vitral, pondo metade do corpo para fora para procurar por Blackjack, que ainda estava dormindo a campo aberto lá embaixo.

A Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora