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Eu nunca pensei que fosse morrer dessa forma.

Cercada de pessoas que conhecia a poucos meses, atacada pelo exército que um dia chamei de meu. Esse foi o caminho que eu escolhi, e não posso mais voltar atrás. Meus companheiros de ambos os lados caíam aos montes, decapitados, afogados, queimados, cortados ao meio como simples pedaços de carne. Eu sempre temi a guerra, mas quando ela chama, você luta por aqueles que quer proteger... no meu caso, estou lutando contra aqueles que queria proteger.

A mim e Derek foi designada a tarefa de matar os dois coringas que Dapher havia trazido direto de Tempus, mas as coisas não estavam indo muito bem...

Eu tentei, usei minha magia ao máximo, me libertei dos diamantes, mas não foi o suficiente. Aquelas coisas eram resistentes, fortes e muito rápidas. Eram dois elementais de água. Parte dos dois exércitos já tinha morrido afogada por prisões aquáticas, pois eles sequer tinham o discernimento de por qual lado estavam lutando.

Nossos soldados caíam aos montes, mas não deixávamos as baixas serem de apenas um lado. Próximo a mim, Derek dava seu máximo contra um dos demônios gêmeos de água, mas ele começava a se mostrar cansado, frustrado por não conseguir finalizar a fera e partir para ajudar nossos aliados. Já eu, conforme o tempo passava e meu esforço se intensificava sem resultados, comecei a perder as esperanças.

Naquele ponto, se eu chegasse perto de alguma grama de diamante eu seria apagada, estava sem energia, sem forças, ofegante e inteiramente encharcada. Minha mão tremia ao empunhar minha katana, e tentei ao máximo me manter de pé quando uma rajada de agulhas de água foi lançada da boca daquela criatura sem olhos. Esquivar parecia uma tarefa impossível pra mim naquele ponto, mas meu pés se moveram sozinhos. A vontade de viver, de ter uma história para contar... eram maiores do que o medo e o cansaço.

Mas eu fui atingida. Não uma, não duas, mas dezenas de vezes. Elas perfuraram e atravessaram meu corpo. A dor era latente, ardia, queimava... mas eu não gritei. Eu sei que fiz o que pude, e, se não foi o suficiente, a culpa era única e exclusivamente minha. Conforme o sangue escorria por todo o meu corpo eu soube que seria meu fim. Eu caí de joelhos, soltando a katana e pondo as mãos sobre alguns dos buracos em minha barriga, mas eram muitos. A criatura? Já havia se virado para seu exército em busca de mais vítimas.

Eu não consegui proteger ninguém.

Ah, vovô... eu sempre disse que não servia para ser uma capitã. "Você é especial Mary" foi o que ele disse, mas... eu não sou, nunca fui. Eu falhei, sempre falhei. As pessoas confiaram em mim, e eu as decepcionei de novo vovô. Me perdoe.

Vovô... onde será que ele deve estar? No fosso a nossa frente, em casa, orando aos deuses por um milagre? Ou será que Dapher foi cruel o bastante para mandar um senhor de idade para a guerra? Eu não saberia. Sinto falta de quando morava com o vovô... foi a única época de minha vida em que realmente me senti amada. O vovô era a única pessoa que eu tinha em minha família, meu pai nunca deu as caras e minha mãe morreu no momento em que eu nasci. Talvez os deuses tivessem poupado ela de ver o fracasso que me tornaria... O vovô disse que ela morreu por amor, mas... o amor é cruel?

Eu não descobri o significado do amor verdadeiro em vinte e cinco anos de minha vida, e, aparentemente, morreria sem saber. Minha visão estava escurecendo. O céu de Jaya deixara de ser azul para se tornar um borrão preto que descia sobre minha visão. A hora estava chegando, e o sangue escorrendo. Por mais que as pessoas gritassem e se digladiassem ao meu redor, eu não ouvia outro som a não ser o de meu coração batendo cada vez mais lento.

A Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora