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O escritório de Dapher Klaus estava vazio. Centenas de papéis estavam rasgados, amassados e jogados por cima da escrivaninha, nas cadeiras à frente dela e pelo chão de carpete. Em um dos pedaços de papel picotados Mary pôde ver um resquício da manchete que ela havia lido para Elise alguns minutos atrás. Segurando aquele pedaço de jornal entre os dedos ela se ergueu e olhou para Megan - que era muito mais alta que ela - e deixou escapar com um olhar preocupado:

— Acho que ele já sabe o que aconteceu.

Megan e Maryenne - as mais próximas de Dapher depois de seus amigos pessoais - sabiam exatamente onde encontrá-lo. No topo da torre mais alta do castelo Klaus, onde o rei treinava todos os dias para continuar sendo o mais poderoso. Aquele também era o lugar onde ocorriam duelos especiais contra homens corajosos o suficiente para desafiar o rei e tentar tomar posse da coroa de Jaya. Por mais que Dapher estivesse um pouco velho, com alguns fios brancos enfeitando seu cabelo e sua barba e algumas rugas suaves se formando em sua testa, ninguém parecia ser capaz de derrotá-lo.

Naquela tarde, as duas de mais alto cargo do exército subiram até a torre em busca do rei afim de debater estratégias para deter o terror da Rosa de Sangue. Os melhores soldados pareciam incapazes de lidar com a situação, então seria preciso que os mais fortes da operação dessem as caras: Maryenne, Megan, Elise e o próprio Dapher.

Quando terminaram de subir a escada de mármore elas se encontraram em um enorme corredor amplo e aberto com colunas em lugares estratégicos e vigas douradas nas paredes que terminavam em um teto de vidro em formato de arco, por onde a luz do Sol entrava sem piedade. No centro daquela área, no meio de diversos manequins de diamante destroçados, havia um homem alto, musculoso e que trajava um sobretudo branco com detalhes em dourado, camisa preta de gola alta e calça escura. Seus cabelos dourados com fios grisalhos se alongavam e caiam por seu corpo de forma que lhe cobriam as costas. Ele ofegava. O suor pingava sobre sua testa delatando seu esforço assíduo, mas ele ainda parecia o reflexo de uma divindade, tendo ao seu redor uma aura dourada reluzente tão forte quanto a luz do Sol.

Mas seus olhos eram cruéis, de um azul tão frio quanto o Lago Congelado de Bloodstate. Aquele olhar de ódio mesclado a um cansaço infinito era capaz de paralisar qualquer um que se atrevesse a olhá-lo de perto.

— Vossa majestade. — As garotas reverenciaram o rei com os olhos fechados até que ele se virou e pôs-se a caminhar em direção a elas, fervendo em desgosto a cada passo.

— Como vocês foram incapazes de parar um único grupo de servos medíocres? Eu devia saber que não posso confiar a segurança de meu reino a duas mulheres de olhos... — Ele cuspiu no chão, próximo aos sapatos de Mary e Meg. — Verdes.

Dapher as olhava de cima a baixo, Maryenne tinha o mesmo semblante calmo de quem a anos lida com o temperamento tempestuoso de Dapher Klaus. Já Megan cerrava o punho, claramente contendo a vontade de esfregar a cara do rei das fadinhas brilhantes no asfalto.

Mas ela se manteve quieta. Megan sabia que a ex capitã sempre fora melhor em diálogos do que ela, por isso deu-lhe a palavra de forma silenciosa.

— Fomos informadas da situação neste exato momento senhor, medidas estão sendo providenciadas. Garantimos que a segurança de toda a elite safira está preservada. Recomendamos também que o senhor cancele o baile da rosa de cristal esta noite por motivos de segurança. — Maryenne sabia bem como lidar com o rei. Suas palavras dançavam por seus lábios como uma poesia ensaiada perfeita para acalmar leões famintos.

Dapher se recompôs, passou a mão sobre os cabelos suados e deu as costas para as duas garotas que ainda estavam em reverência, ajoelhadas ao chão, enquanto alguns pontos se ligavam em sua cabeça.

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