9

13 6 0
                                    

Talvez o "para sempre" que eu ouvia nas histórias não se trate de pessoas, mas sim de memórias. Pessoas entram e saem das nossas vidas a todo momento, seja por desentendimentos, por desvio de caminhos ou pelo encerramento do ciclo da vida. É tão frágil...

Eu perdi muitas pessoas, infelizmente minha mãe foi uma delas.

Eu era apenas uma garotinha, mas minha mãe era tão incrível que, mesmo tendo convivido pouco com ela, criamos memórias juntas que pude trazer pelo resto de minha vida...

Mas o luto dói. Ele rasga, corta e dilacera. Machuca o suficiente para te fazer pensar que não suporta aquilo, que não é possível viver em um mundo onde aquela pessoa não está mais. Comigo foi assim pelo menos, eu deixei de comer, de sorrir, trocar palavras simples com outras pessoas era incrivelmente exaustivo. E eu queria poder dizer que sou um exemplo de superação, que hoje em dia eu não choro mais.

Mas todos sabemos que seria mentira, porque Sarah Klaus pode não ser imortal, mas nossas memórias são.



Haviam se passado três dias após o baile, se aquela garota de olhos violetas estivesse certa, um corvo viria me visitar para ter minha resposta final sobre eu me aliar ou não à Rosa de Sangue. Pena que não existem corvos em Jaya, talvez fosse uma metáfora?

Por falar na Rosa de Sangue, todos pensamos que eles iriam atacar durante o baile, onde haveria mais pessoas, mas nada aconteceu. Acredito que até mesmo meu— o Rei... pense que eles não apareceram por lá.

Por mais que não tenham acontecido mais ataques a cidades periféricas de Jaya, o número de desaparecidos continuava a aumentar. Se o que aquela mulher disse fosse realmente verdade então haviam apenas um fato a se considerar: Eles estavam formando um exército.

E exércitos não são criados para debates civilizados.



Naquele dia eu preferi já deixar as malas prontas, não sabia o que eu poderia encontrar por lá então levei apenas roupas, a Roku e comida de emergência. Não achei que fosse precisar mais do que isso pra uma viagem que vai me levar até um exército.

Quando terminei de fechar minha mochila e sai pelas portas de meu quarto me deparei com uma criatura de um metro e sessenta parada em frente ao meu quarto. Ela pareceu não ter percebido minha presença então tentei chamar sua atenção da forma mais discreta possível.

— MARYYYYY!! — Eu gritei bem próxima de seu ouvido, e ela pulou com o susto que fez até seus óculos escaparem do rosto. Ela os pegou no ar e me olhou com a respiração ofegante.

— Pelos deuses, Elise! Quer me matar?

Eu dei um tapinha no ombro dela e disse olhando em seus olhos:

— A primeira regra é surpreenda, não seja surpreendida. —Eu sorri e me pus a caminhar pelos corredores do castelo em direção ao escritório do rei Dapher.

— Sinto muito se não estava esperando um inimigo! — Mary veio correndo atrás de mim com sua bagagem, toda desajeitada.

— Regra número dois: Sempre espere um inimigo. — Quando chegamos às portas do escritório eu me contive por um momento e lancei um olhar preocupado à Maryenne. — Você fala?

Ela assentiu com a cabeça e nós entramos.

Meu pai estava recostado na janela com o tronco de frente para a porta, mas o rosto virado buscando alguma coisa além da janela através da luz dourada que irradiava do Sol da manhã. Há muitos nãos que não reparava o quanto meu pai mudou desde que minha mãe faleceu. Seu rosto se tornou mais rígido e cruel, com rugas na testa causadas por seus frequentes ataques de raiva, os cabelos brancos que se perdiam pelo resto dos cabelos loiros que eram quase maiores do que os meus, mas ainda tão lisos quanto.

A Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora