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Enquanto todos da Ordem queriam ir para casa como covardes, eu estava torcendo para que Dapher não aceitasse o acordo e eu pudesse arrancar as cabeças de uns azuis. Aquele exército merda de Dapher tinha a audácia de me olhar com desprezo enquanto eles se escondem atrás de armaduras pesadas. Covardes também.

Estou cercado por covardes.

Sinto uma mão quente sobre meu ombro e quase reviro os olhos.

— É bom acalmar os ânimos, não estou afim de juntar os miolos de ninguém hoje. — Puxei o ombro para longe da mão de Vidya ao ouvir suas palavras.

— Se não queria lutar, por que veio? — Questionei entre dentes, desviando o olhar.

Ela suspirou e se pôs ao meu lado, encarando a muralha de Berserkers paralisados a alguns metros de nós. Parecia tremer por dentro, mas o olhar sereno passava confiança a qualquer um que a olhasse de longe.

Eu não estava tão longe assim.

— Não lutamos por que queremos, Lucian. Lutamos por que precisamos. — Ela cruzou os braços, tentando me olhar nos olhos enquanto eu desviava de sua visão materna aterrorizante o mais rápido que pude.

— Sabe que nunca vou concordar com isso. — Eu disse, brincando com meus braceletes nos dois pulsos.

— Você não precisa concordar. Só entender. — Por algum motivo que só Vidya entenderia ela sorriu e passou a mão em meu cabelo. Eu tirei sua mão com um olhar de desaprovação e o ajeitei do jeito que gostava: para cima e um pouco bagunçado.

— Francamente mulher, se controle. Eu sei que sou muito gostoso, mas não quero problemas com o ruivo.

Ela riu de novo, e por algum motivo isso me acalmou. Vidya era a única que eu conseguia fazer rir com meu humor duvidoso. Por vezes penso que ela só faz isso por pena, mas eu prefiro aproveitar as risadas.

Mas aquela não era a hora para piadas, principalmente depois que os portões da capital se abriram pela segunda vez e saíram de dentro três... pessoas? Não, aquele terceiro definitivamente não era humano.

Apesar de ter o físico de um Berserker e a altura de uma pessoa normal, a pele cinzenta, as marcas escuras pelo corpo e os olhos negros deixavam claro que aquilo era tudo menos um humano. Eu odeio prestar atenção demais em uma única coisa, mas era impossível ver algo além daquele bicho escroto caminhando na minha direção. O exército de Jaya se dividiu inteiramente para que aquela coisa atravessasse até a frente de batalha.

Sinto que eu deveria teme-lo, mas nem um único fio de cabelo em meu corpo saiu do lugar com a presença daquele verme acinzentado.

Olhando mais de perto, pude ver aquela aberração perfeitamente. Suas roupas na verdade eram excesso de pele – aparentemente muito rígida - que se acumulava do pescoço até os pés como uma verdadeira armadura negra deformada.

Então a cabeça é mais fácil de cortar. Pensei, quase em voz alta.

— Boa sorte tentando. — A voz intensa e grave daquela coisa emanou por todo o campo de batalha, vibrando minha alma.

Que porra é essa? Ele conseguia ler meus pensamentos? Um Sol'Din? Essa coisa era um Sol'Din? E por que esse cara era cinza?

Eu apenas sorri, como sempre faço, e disparei:

— Que bom que não ficaremos de segredinhos. Se ler um pouquinho mais você descobre meus fetiches, cuidado. — Pus as mãos nos bolsos do macacão, encarando o que quer que aquilo fosse com deboche evidente. Eu queria que ele entrasse na minha mente. Era um desafio, cabia a ele aceitar.

A Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora