Capítulo 17

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Chris
O natal sempre foi o meu feriado favorito. Não sei se era por conta das comidas, das pessoas, dos presentes ou se era o clima em si, mas eu tinha memórias maravilhosas dessa época do ano. Quando eu era criança, meus irmãos e eu colocávamos pijamas natalinos no dia 24 e nos sentávamos na sala para assistirmos um filme de natal, enquanto tomávamos um chocolate quente especialmente feito pela minha mãe. Quando chegava perto da minha noite, meu pai sempre contava uma história de terror que ele mesmo havia inventado e nós riamos mais do que ficávamos com medo. No dia 25, quando a gente acordava, tomávamos café em família e depois podíamos abrir nossos presentes, o que sempre vira a uma festa. Agora que éramos adultos, nós nos reuníamos na casa da minha mãe na véspera do natal pra jantar e trocar presentes e no dia seguinte partíamos para a casa da minha avó e passávamos o dia lá. As tradições haviam mudado, mas ainda me traziam a mesma sensação boa e o quentinho no coração de quando eu era uma criança.

Porém, naquele ano, o quentinho no coração deu lugar a um aperto ruim e a sensação boa fora substituída por uma mistura de tristeza, angústia e compreensão que eu não sabia explicar muito bem. Eu acordei no dia 24, após um longo sono de pós plantão, me sentindo animado e pronto para o dia. Peguei o celular na mesinha de cabeceira, vendo que passava um pouco das oito da manhã, e minha atenção logo se voltou para a notificação que indicava que Sofia havia me mandado uma mensagem durante a noite. Eu havia passado o dia anterior inteiro esperando que ela falasse comigo, mas eu sabia que ela provavelmente estava muito ocupada com sua família e com a repercução da notícia sobre nós dois. Para a nossa sorte, nenhuma foto havia conseguido capturar meu rosto com clareza e, consequentemente, ninguém além de Megan havia conseguido me identificar.

Cliquei na notificação, abrindo nossa conversa, e não demorou para que eu percebesse que a mensagem não era boa. Quando terminei de lê-la pela primeira vez, eu fiquei alguns segundos parado, encarando o celular, esperando uma nova mensagem dela falando que era uma brincadeira de mau gosto, mas ela nunca veio. Li o texto mais uma, duas, três, quatro vezes. Na quinta vez, precisei me forçar a bloquear o celular e deixá-lo de lado, pois meus olhos estavam cheios de lágrimas.

Não sabia o que pensar, como reagir. Eu sabia que Sofia tinha dúvidas, mas não esperaria nunca por aquela mensagem. E minha cabeça estava uma confusão de pensamentos e sentimentos que era complicado de colocar em ordem. Eu estava triste para caramba, levemente chateado e aborrecido. Mas a pior coisa eram as questões que martelavam em minha cabeça, me fazendo tentar entender porque ela tinha decidido aquilo naquele dia. Tinha sido a notícia? Tinha sido o fato de eu ter confessado que estava apaixonado? Ela estava se sentindo pressionada? Eram perguntas demais e resposta nenhuma, o que me deixava extremamente angustiado.

Pensei em respondê-la, pedindo uma resposta para esses questionamentos, mas não o fiz. Ela queria um tempo e por mais confuso que eu estivesse, eu iria respeitar esse tempo. Me levantei da cama, coloquei uma regata, bermuda e tênis e sai para correr. Não sei a distância que percorri ou o tempo que passou, mas sei que fiquei correndo até conseguir me controlar e pensar mais claramente.

E aí a tristeza e a angústia deram lugar à compreensão e a aceitação. Eu sempre soube que Sofia tinha receios sobre nós dois e eu sempre soube que chegaria um momento que essas receios falariam mais alto, acho que só não esperava que fosse agora. Todavia, quando Sofia havia aceitado dar uma chance para a nossa relação, eu prometi a ela que seria tudo no tempo dela e eu não ia voltar atrás agora. Seria difícil me distanciar, mesmo que fosse só por alguns dias - assim eu esperava-, mas eu faria, porque, acima de qualquer coisa, eu a respeitava e respeitava suas vontades.

Eu passei o dia todo arrumando coisas para fazer para não pensar novamente na mensagem. Contudo, quando cheguei na casa da minha mãe, as palavras dela voltaram com força. Eu já havia lido tantas vezes que as sabia de cor. Sofia não havia sido agressiva e não havia me machucado e eu havia entendido o que ela queria dizer e o que ela precisava naquele momento, mas eu ainda me sentia triste. O fato de Ashley estar assistindo um dos filmes dela junto com a namorada do meu irmão não ajudou em nada. Aparentemente, minha cunhada também era fã de Sofia e as duas a elogiavam a todo momento, o que fazia meu coração se apertar um pouquinho.

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