Capitulo 31

445 57 3
                                    

Chris
- Essa é a última. - Comentei, retirando uma caixa de papelão do porta malas do meu carro e fechando-o em seguida.

- Graças a Deus! - Minha mãe comemorou, parecendo aliviada, e eu ri. - Achei que elas não iam acabar nunca.

- Não adianta ficar toda felizinha não, dona Mary, porque a gente ainda tem que desencaixotar tudo e guardar nos lugares certos.

Nós dois saímos da garagem, voltando para dentro de casa, e minha mãe soltou um suspiro fundo quando chegamos ao quarto, onde cerca de 10 caixas de papelão estavam espalhadas.

- Por que é que eu me ofereci para ajudar mesmo? - A mulher brincou e eu ri novamente.

- Porque você me ama.

- É verdade. - Ela concordou. - Mas preciso dizer que também é porque eu estou muito feliz de você estar se mudando para cá, para morar junto com a Sofia. Essa menina é muito especial, filho, e eu sou muito grata por você tê-la encontrado e por vocês fazerem tão bem um ao outro.

Eu sorri com aquilo, porque eu também estava extremamente feliz com a mudança. Já faziam alguns meses que Sofia e eu praticamente vivíamos juntos. Sempre que eu e ela não estávamos no trabalho, eu estava na casa dela e uma quantidade grande de roupas e pertences meus já estava se misturando com as coisas dela. Porém, sempre que tentávamos tornar aquilo oficial, algo nos atrapalhava.

Essa semana, entretanto, eu havia entrado de férias no trabalho e nós dois decidimos que era a hora perfeita para a mudança. Sofia estava me ajudando em todo o processo de encaixotar coisas e trazer tudo para o que agora era a nossa casa. Todavia, hoje ela tinha uma gravação agendada em um programa de televisão e não poderia estar comigo. Então, minha mãe tinha se oferecido para me ajudar a terminar de organizar tudo.

- Ela é sim, mãe. Nunca pensei que eu poderia amar tanto alguém como eu a amo.

- É, meu filho, quando a gente encontra a pessoa certa, a gente descobre o quão pouco conhecíamos do amor.

- Com você e o papai também foi assim? - Perguntei, abrindo uma das caixas e minha mãe sorriu, enquanto pendurava umas roupas nos cabides.

- Foi. - A mulher soltou um suspiro baixo, parecendo perdida em lembranças. - Eu o amo tanto que chega a doer e sei que era recíproco.

- Você sente muita falta dele, não é?!

- Todos os dias, Chris. Seu pai era meu marido, mas também meu melhor amigo e meu companheiro. E até hoje eu acordo esperando encontrá-lo ao meu lado, até hoje eu espero ele voltar do trabalho, até hoje eu vou no quintal achando que ele vai estar lá fora cuidando das rosas.

- Não consigo nem imaginar como perder o papai foi difícil para a senhora, mãe.

- Perdê-lo foi como perder um pedaço do meu coração. - Ela suspirou. - Mas você e seus irmãos me deram forças. Se não fosse por vocês, acho que eu não teria aguentado.

- Se a senhora pudesse voltar no tempo, acha que mudaria algo no seu relacionamento com o papai? - Perguntei. Minha mãe parou o que estava fazendo e pareceu pensar por alguns segundos.

- Acho que a única coisa que eu mudaria é que eu não teria deixado ele sair de casa no dia do acidente. Sei que passamos mais de vinte anos juntos, mas eu sinto que foi pouco. Claro que eu sinto muita gratidão pelo tempo que passamos juntos, mas eu queria ter tido mais tempo.

Ela respirou fundo, com um pequeno sorriso no rosto e os olhos cheios de água. Eu sabia que falar do meu pai ainda era muito difícil para ela e, por um tempo, não entendia o porquê. Porém, agora que eu tinha Sofia, eu entendia perfeitamente como era amar tanto alguém que somente a ideia de não tê-la mais ali era insuportável. Minha mãe tinha, de fato, passado pela experiência da perda e eu tinha certeza de que a dor era imensurável.

Esse tipo de amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora