Capítulo 11

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O crepúsculo invadiu as zonas rurais do sul da Escócia, brindando o motel onde
elas estavam com os últimos raios de sol. Enquanto Rangi dormia, Kyoshi se sentou ao seu lado na cama e se deixou ficar ali, tomando mais uma xícara de café.

A maior parte do seu dia fora cheio e, por decisão pessoal, ela não dormira. Naquele momento, descansava junto da vampira, vestindo apenas jeans confortáveis, comprados de uma forma estranha, pois eram muito antigos e pareciam mais usados do que botas velhas. Leu um dos romances modernos que havia na biblioteca da recepção e prestou atenção a algumas notícias do dia. Poderia até mesmo se considerar satisfeita – se a tivesse possuído na noite anterior. E se
acreditasse que esse momento estava prestes a se tornar realidade.

Mas não houvera oportunidade para isso, nem haveria, mesmo que Rangi não tivesse estremecido de emoção durante a viagem toda, depois de sua enxurrada de perguntas inconvenientes no restaurante. Achara que poderia levá-la novamente ao desespero, obrigando-a a responder de um jeito irritado, como acontecera na noite anterior ao ver o estado em que o quarto ficara. Só que dessa vez ela inclinara a cabeça e lançara-lhe uma expressão tão severa que deixara Kyoshi desconcertada.

Quando, na noite anterior, tinham chegado ao motel, Rangi estava tão cansada que nem protestara quando a Lykae a despira até deixá-la apenas de calcinha e a transportara para a banheira. Kyoshi, é claro, sentira uma onda renovada de intenso desejo de possuí-la. Contudo, em vez de castigá-la quando ela se deixara cair suavemente em seus braços, a Lykae a afagara novamente, olhando confusa para o teto.

Depois do banho, secara-a e vestira-lhe uma das camisolas de dormir dela
mesma – a menina atrevida não tinha pedido para usar uma de suas camisas
novamente – e a colocara na cama. Ela olhara para a Lykae com ar sério e manifestara preocupação diante da possibilidade de Kyoshi “enlouquecer novamente”. Quando a Lykae lhe prometera que não iria dormir, a vampira olhou tristemente para o chão e chegara a tentar tocá-la, mas adormecera em segundos, antes de fazê-lo.

Kyoshi olhava agora para as pregas das cortinas e viu que a luz estava
completamente bloqueada. Nas duas noites anteriores, ela acordara
precisamente à hora do pôr do sol. Acordara bem, sem bocejos nem balançar de cabeça para espantar o sono. Simplesmente abrira os olhos e se erguera de forma quase etérea, como se tivesse acabado de retornar à vida. Kyoshi tinha de admitir que achara esse tipo de comportamento… muito estranho e misterioso. Obviamente, nunca vira nada assim antes. No passado, quando se deparava com um vampiro dormindo, este nunca mais acordava.

Os olhos dela iriam se abrir a qualquer instante, e a Lykae deixou de lado o livro que estava lendo para poder observá-la.

O sol se pôs. Passaram-se alguns minutos, e Rangi continuava sem acordar.

– Levante-se! – disse Kyoshi, sacudindo-a pelo ombro. Ao ver que ela não reagia, sacudiu-a com mais força. Tinham de prosseguir viagem. Ela achava que poderiam chegar a Kinevane ainda naquela noite e estava ansiosa por rever seu lar.

A vampira se enroscou ainda mais nos lençóis.

– Ahn… me deixe dormir!

– Se você não sair já dessa cama, eu vou rasgar suas roupas e me deitar nua ao seu lado.

Vendo que nem a essa provocação ela reagia, ficou assustada e colocou a mão na testa dela. Sua pele estava gelada.

Ergueu-a um pouco mais e sua cabeça tombou para o lado.

– O que há de errado com você? Conte-me!

– Por favor, me deixe em paz. Preciso descansar mais uma hora.

Kyoshi a deitou novamente na cama.

– Se você está doente, precisa beber alguma coisa.

Ela abriu os olhos um pouco, depois de breves instantes.

Desejo Insaciável (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora