Capítulo 23

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Kirima passando tanto tempo junto de uma vampira era um mau sinal.

Adora saltou para o telhado para se colocar entre as duas e lançou um olhar
ameaçador para Kirima.

– Sobre o que vocês estão conversando?

Kirima respondeu com muita naturalidade.

– Isso é assunto nosso!

O rosto de Rangi empalideceu.

– Já discutimos esse assunto. Você precisa aceitar o que aconteceu. – Adora não era conhecida no clã pela sua sutileza, muito menos por perder tempo para explicar a mesma coisa duas vezes. Caso Kirima tivesse piorado a relação entre Kyoshi e Rangi, Adora faria de tudo para corrigir a situação. Passou a poucos centímetros dela e sugeriu: – Vá embora, Kirima. Quero conversar a sós com Rangi.

Ela lançou os ombros para trás e tentou argumentar.

– Nada disso, eu não pretendo…

Adora revirou os olhos e rugiu baixinho. Faria tudo o que estivesse ao seu alcance para evitar que a sua amiga mais antiga ficasse como a vampira, incluindo atirar Kirima do telhado.

– Deixe-nos a sós! – repetiu.

– De qualquer modo, já tínhamos terminado o papo – disse Kirima, sem
perder a serenidade, e se afastou rapidamente. – Vou fazer uma visitinha a Kyoshi enquanto vocês conversam.

Adora ficou aliviada ao ver que a vampira não apreciou nem um pouco essa ideia. Suas sobrancelhas se uniram e seus olhos cintilaram de ódio. A loira nunca se sentira tão satisfeita por ver a angústia de uma mulher. Torceu para que Rangi protestasse, mas ela não abriu a boca.

Antes de saltar para baixo, Kirima virou-se mais uma vez e disse:

– Não se esqueça da minha oferta, vampira!

Quando ficaram sozinhas, Adora quis saber:

– O que foi que ela lhe ofereceu?

– Isso não lhe diz respeito.

A loira também lhe lançou um olhar ameaçador, mas Rangi se limitou a
encolher os ombros.

– Você não me assusta, tá legal? Sei que não pode me fazer mal algum; caso
contrário, Kyoshi iria encher seu traseiro de pontapés antes de você dar por si.

– Você fala de um jeito estranho…

– Se eu ganhasse um dólar a cada vez que ouvi essa frase… – comentou a vampira, com um suspiro.

Por que será que Kyoshi descrevera aquela criatura como retraída?

– Se não quer me contar que semente de maldade Kirima acabou de plantar, tenha, pelo menos, a cortesia de caminhar ao meu lado durante alguns minutos.

– Não, obrigada. Estou muito ocupada.

– Estou vendo… Ocupadíssima, passeando pela borda de um telhado numa noite de nevoeiro, falando sozinha, certo?

– Você tem o dom da observação, sabia? – disse ela, virando-lhe as costas.

– Por falar em dons e presentes, durante o dia chegou um presente para você.

Rangi parou e se virou lentamente para ela, jogando a cabeça meio de lado.

– Um presente?

Adora não disfarçou a surpresa. Será que as Valquírias eram realmente tão gananciosas como se dizia no Lore?

– Se você der uma volta comigo e me escutar, eu mostro o presente.

Rangi mordiscou o lábio inferior vermelho, exibindo as presas para lembrar a Lykae que era uma vampira. As únicas ocasiões em que Adora tinha falado com vampiros fora durante as sessões em que ela os torturava.

Desejo Insaciável (Rangshi)Onde histórias criam vida. Descubra agora