Capítulo 18

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Setembro de 2020
Monza, Itália

As qualificatórias do dia anterior foram minutos agonizantes na opinião de Max. Sua cabeça não parava de vagar por diversos pensamentos. Tudo, menos a pista e seu carro.

Christian tentou o máximo permitir que o piloto ficasse tranquilo. Procurou não pressionar, nem reclamar no rádio. E pareceu fazer efeito, um quinto lugar, depois de tudo não era um resultado tão ruim.

A corrida no domingo era a maior preocupação do chefe da equipe Red Bull. A pressão sempre caía sobre o neerlandês, já que seu companheiro não estava fazendo a melhor temporada. E, se Max estava mal no quinto lugar, Albon estava pior em nono.

Mas a equipe tinha táticas para a recuperação ao longo da corrida, só era necessário que seus pilotos cooperassem.

Porém, as coisas não saíram como planejado.

O paddock naquele domingo estava cheio, como sempre. A corrida de Monza não era a preferida de Max, mas ele num geral gostava daquele GP. Mas esse ano estava sendo diferente.

Tudo estava o sufocando. A imprensa, os outros pilotos, a própria equipe. Max sentia seu ar faltando, mas tinha que manter-se de pé. Não podia deixar que descobrissem a verdade, não quando nem ele a sabia ainda.

O medo do que poderia acontecer caso o pai soubesse que eles descobriram tudo caía sobre os ombros do neerlandês. Agora mais que nunca, sabia do que o pai era capaz.

E foi andando pelos corredores do paddock que esbarrou, sem perceber, em outro piloto. Charles Leclerc. Ele estava andando com Pierre Gasly conversando sobre coisas variadas, quando bateu no oponente.

- Sinto muito. - Max disse, já pronto pra sair.

Os dois amigos, no mínimo, estranharam. Não era comum ver o Verstappen daquele jeito. Era claro o desconforto em estar naquele lugar, logo ele alucinado por correr.

- Max, está tudo bem? - Pierre tomou a liberdade para perguntar.

O francês tinha mais intimidade com o outro, já que a Alpha Tauri é da scuderia Red Bull.

- Tudo, eu acho. - o neerlandês forçou um sorriso. - Vocês sabem onde o Daniel está?

- Na verdade não. -Charles respondeu. - Mas nós vimos seu pai.

A expressão de Max nunca mudou tão rápido e muito menos havia ficado tão clara para os outros alguma outra vez. Os dois sabiam com certeza, Max não gostou do que foi dito. E o olhar de medo se tornou presente naqueles olhos azuis.

-Você tem certeza? Meu pai está aqui?

- Nós o vimos entrando no paddock. Ele deve estar na Red Bull nessa altura. - comento o monegasco.

- Eu preciso que vocês me ajudem a achar o Daniel. O mais rápido possível. - o Verstappen disse suplicante, enquanto segurava os braços de Charles.

Por sorte, eles nem precisaram fazer nada, já que Ricciardo passava por eles naquela hora e ouviu seu nome na conversa. Assim que viu o desespero no olhar do melhor amigo, logo entendeu. Jos estava ali. E sabia que agora Max não estava preocupado com ele, e sim com toda a história maluca que a família descobriu nos últimos tempos.

- Ei, ei... relaxa. - Daniel chegou pegando nos pulsos de Max, que tentou se acalmar, já que tinha encontrado quem precisava.

- Precisamos conversar. - o Verstappen falou, de forma direta. - Tenho novidades sobre aquele assunto e tô precisando de alguém comigo. Não tô conseguindo pensar direito.

- Tudo bem, vamos.

Os dois começaram a seguir pelo corredor, deixando os outros dois pilotos sem entender o que havia acontecido. Nunca haviam visto o neerlandês aparentar tão frágil. Porém, Max virou-se olhando de volta pra os companheiros de pista e sorriu de leve agradecendo e logo voltando a seguir Daniel.

A corrida já havia começado

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A corrida já havia começado. Max não teve muito tempo para contar tudo ao amigo, mas conseguiu falar o básico: havia encontrado sua irmã, sabia onde ela estava, sabia até seu nome.

Isso foi o suficiente no momento, já que Christian o ligou para que voltasse para o box.

O chefe de equipe ficou a todo momento ao lado do seu piloto, evitando que esse perdesse a cabeça com o pai. Até na hora que, finalmente, Max entrou no carro.

A corrida se passou totalmente turbulenta. Um safety car antes das 20 primeiras voltas deixou todos nervosos. O carro de Magnussen tinha parado e precisou ser retirado para o box.

Max havia caído para a posição 13 do grid e tentava a todo custo melhor sua posição, principalmente na relargada da bandeira verde na volta 25.

Mas foram necessárias somente duas voltas para as coisas desandarem totalmente. Em uma das curvas, a única coisa possível de se ver foi o carro da Red Bull escapando da pista e batendo, fortemente, na barreira de segurança.

Max havia perdido o controle do carro por segundos, passando reto e se colidindo, com uma intensidade que ele tinha certeza que sentiria dores por alguns dias.

Horner não conseguiu se conter. Havia feito uma promessa para si mesmo nesses últimos dias: procuraria cuidar do piloto enquanto ele não conseguisse cuidar de si mesmo.

O rádio foi ouvido pelo piloto dentro do carro, mas nada foi respondido. A equipe não sabia se ele estava consciente, mas Max estava. Sabia que estava acordado, mas o neerlandês se sentia longe, como se aquilo fosse um sonho, ou como se nem ao menos estivesse consciente de verdade.

A realidade voltou quando algumas pessoas se aproximaram do carro. Max fez sinal com as mãos, dizendo estar bem, fato que foi um alívio para a equipe nervosa no box, logo saindo do carro.

Ele foi andando até onde a equipe estaria, ignorando tudo a sua volta. Agora ele tinha outra preocupação. Não era a corrida, os pontos que perdera, a bronca que iria escutar de seu pai. Nada disso. Sua maior preocupação agora era sua família, sua nova irmã e agora Victoria e Sophie, que com certeza estariam morrendo de preocupação com o piloto.

Life Changes - Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora