Capítulo 5

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Abril de 2020
Londres, Inglaterra

Victoria entrou no restaurante ouvindo o sininho típico dos filmes. Aquele sonzinho anunciou sua entrada, fazendo com que sua mãe se virasse para checar se era ela quem chegava.

A mais velha tinha marcado no Buon Appetito, um restaurante de comida italiana que a família frequentava há anos. Ela já estava sentada na mesa comum, que usavam sempre que iam no estabelecimento: no fundo do lugar.

- Boa tarde, mãe. Como a senhora está? - Victoria perguntou, tentando ao máximo parecer normal.

A passagem para o Brasil ainda manifestava uma grande revolução nos seus pensamentos, para tentar ao máximo entender o que aquilo significava.

- Olá, minha filha! Está tudo bem, a semana um pouco corrida, mas queria tirar um tempo pra passar com você. Como vão as coisas? Como está Tom? E meus netinhos, tudo bem? Você não está precisando de ajuda com eles não?

- Calma mãe. - falou rindo e abraçando a mais velha de lado, sentando-se a sua frente logo após. - Estamos todos bem. Tom tem trabalhado bastante, mas sempre arranja tempo para os meninos. E eles estão cada vez mais espertos, e doidos pra visitar a casa da vovó.

- Leve eles no domingo. Podemos assistir a corrida do seu irmão juntos. - Victoria concordou com a cabeça, ainda se sentindo inquieta. - O que houve meu amor?

E como dona Sophie não deixa nada passar, ela logo perceberia, pensou a mulher mais nova.

- Mãe, eu não sei muito bem como perguntar isso. Sei que a senhora não gosta de falar sobre o assunto. Eu também não gosto! Por favor não pense que estou querendo te deixar triste, mas aconteceu uma coisa e eu preciso saber mais sobre. Eu prometo que tem lógica.

- Querida, você sabe que pode me perguntar tudo. - ela disse pegando as mãos da filha. - Vamos pedir nossa comida antes e depois você me conta tudo.

As duas mulheres, mãe e filha, optaram por massa. Victoria pediu um carbonara, enquanto sua mãe pediu um nhoque ao molho pesto. E, assim que o garçom se afastava da mesa, já com o pedido, ela voltou a questionar sobre o assunto.

- Pronto! Agora me explique o que está acontecendo.

- Mãe, o que exatamente aconteceu quando você perdeu nosso irmão mais novo?

A sensação de arrependimento logo atacou Victoria, a partir do momento que viu a tristeza aparecendo nos lindos olhos de sua mãe. Ela não queria causar isso.

- Pode deixar, mãe! Eu não quero que você fique triste. Eu vou deixar isso pra lá.

- Eu quero saber por que você está me perguntando isso. Mas eu conto tudo antes. Eu não sei do que você se lembra, meu amor. Quando eu estava perto da data do parto, que estava marcado para o dia 17 de janeiro, eu mandei vocês para cá, para que vocês ficassem na casa da sua avó, minha mãe, enquanto eu me recuperava. No dia que estava programado eu fui para o hospital, o parto foi completamente normal, e muito rápido até. O médico que fez o parto era o mesmo que estava no nascimento de vocês. Ele estava acompanhado de duas enfermeiras, uma responsável por mim e outra pelo meu menino.

Ela deu uma pausa. Parecia criar mais coragem para continuar a contar a história.

- O médico estava atrasado para outro parto, que era de urgência então quem ficou foi a enfermeira, que me ajudou em tudo. A outra levou o bebê para o berçário. Se passaram 40 minutos e a mesma enfermeira voltou dizendo que, enquanto faziam os procedimentos necessários, o neném não resistiu. Eu e seu pai fomos até o berçário e o vimos sem vida. Eu fiquei péssima e acabei desmaiando e tendo uma recuperação bem complicada, tanto que seu pai chamou sua avó paterna para ficar comigo no hospital, enquanto ele cuidava de vocês e de alguns procedimentos para aquele acontecido.

Sophie, finalmente, fez uma pausa, já com lágrimas escorrendo pela bochecha. Lágrimas essas as quais a filha secou enquanto ouvia a pergunta.

- Mas por que você queria saber, querida? Sei que você também não gosta desse assunto. Nem você, nem Max. Sempre foram bem fechados para isso. Por esse motivo até evito falar sobre com vocês por perto, porque além de me deixar mal, também machuca vocês.

- Mãe, você disse que meu pai estava resolvendo algumas coisas enquanto você se recuperava. Ele precisou viajar pra resolver alguma dessas coisas?

- Ah meu anjo, creio que não. Ele conseguiu resolver tudo sobre o bebê, sobre a estadia prolongada de vocês para eu me recuperar, sobre meu trabalho e sobre o trabalho dele. E foi até rápido, talvez por isso ele não frequentava tanto o hospital. Até porque foi bem difícil pra ele perder um filho. Mas cada um tem um jeito de melhorar sua dor.

- Olha mãe, eu não duvido do apoio que meu pai deu pra você, mas algo não está encaixando. Eu não entendo o que ele teria para resolver no Brasil, enquanto você estava precisando dele no hospital.

- Como? Do que você está falando Victoria?

Sophie perguntou já com um tom mais sério. E, apesar de se arrepender de falar tudo, agora já não tinha mais escapatória. Victoria já tinha começado, então precisava terminar de contar tudo.

- Eu encontrei uma passagem em nome do meu pai indo para o Brasil. Exatamente dia 19 de janeiro de 2000, dois dias depois de você perder o bebê.

Life Changes - Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora