Capítulo 34

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Dezembro de 2020
Vitória, Brasil

Era inevitável, para Giulia, sentir que a qualquer momento iria desmaiar. Dentre as semanas que sucederem a apresentação de seu TCC, - a qual foi excelente - a viagem aproximava-se cada vez mais.

O dia da defesa foi, de acordo com a brasileira, um dos dias mais angustiantes da sua vida. Ela sabia cada frase, cada palavra que deveria dizer, mas, ainda assim, não conseguiu não ficar ansiosa.

E, como prometido, lá estavam Aaron e Victoria. Meio camuflados, mas cem por centro atentos a tudo o que a garota dizia. O orgulho transbordava na mais velha, que via sua irmãzinha apresentando, com confiança; como uma profissional. E era o Giulia era. 

Algumas semanas depois, houve a cerimônia de colação de grau, na qual os gringos também compareceram e, juntos das famílias de Pedro e Camila, aplaudiram e comemoraram a vitória dos três. E depois, foram comemoram todos juntos. 

Para Giulia foi gratificante que a família de seus amigos não ficaram fazendo perguntas e nem desconfortáveis com a presença dos dois desconhecidos.

Realmente, nada poderia melhorar. Mas, na verdade, poderia!

As semanas após o TCC, como combinado, foram utilizadas para planejamento e execução da "Missão Surpresa", segundo Victoria. Ela, obviamente, era a mais animada. E, Giulia, a mais nervosa. E a cada etapa do planejamento que estivesse pronta era motivo de comemoração e de mais ansiedade para o dia.

Dessa forma, um mês se passou e, finalmente, a viagem seria amanhã.

Nos dias anteriores, Victoria e Giulia saíram pelas lojas de Vitória para comprarem coisas que a mais nova precisaria. Abu Dhabi naquela época estaria com um clima agradável, porém Londres estaria começando o inverno, inverno esse para qual a brasileira não tinha roupas. Por motivos óbvios.

Algumas roupas, sapatos, remédios e outras coisas foram sendo adicionadas nas sacolas das mulheres - tudo pago por Giulia, que fez questão de ser ela a gastar o dinheiro. E, depois de um último dia comprando o que realmente faltava, Aaron viu as duas entrando pela porta do apartamento. Ele iria ficar nos dias da corrida junto de Giulia, como um plano para tentar evitar o foco da câmera para a brasileira no caso de ela ser vista com os Verstappen.

- Estou vendo que compraram mais coisas. - ele comentou, vendo as duas se largarem no sofá, como sinal claro de exaustão.

- Dessa vez eu juro: foram as últimas coisas! Compramos mesmo foram besteiras pra comer na viagem. 

- E compramos a bala que você tanto gostou, seu chato. - Vic disse, jogando um pacote de balas Fini em Aaron.

- E eu agradeço! - ele disse rindo. - Podemos, antes de terminar de arrumar as malas, repassar os planos da viagem. 

As duas concordaram e se sentaram direito, com o homem se sentando na poltrona à frente delas.

- Nós embarcamos amanhã pela manhã. Temos uma escala em São Paulo, outra em Doha e depois chegamos em Abu Dhabi. A Giulia vai ficar no mesmo hotel que eu. Seu quarto vai ser ao lado do meu. - falou direcionado para a brasileira. - Eu quem vou levar Max e Sophie até vocês, falando que algo muito sério sobre a investigação surgiu e que eu precisei ir para conversar pessoalmente. Até aí alguma dúvida?

- Tudo certo, chefinho. - Vic disse, fazendo sinal de continência.

- Nas corridas, a Giu pode ficar com vocês, mas se começarem rumores ou muitas suposições vou aparecer como responsável por ela e amigo da família Verstappen, para tentar dar uma despistada. É essencial que você evite aparecer em fotografias oficiais para não levantar suspeita e devemos, juntos, evitar Jos. Ele claramente estará no paddock e, mesmo querendo, não podemos fazer nada ainda. 

- Eu, por mim, evitaria ele a vida toda. Já tive esse prazer e não queria que fosse agora que isso mudasse. - a brasileira disse.

- Quando o final de semana acabar, vamos para Londres, onde vocês estarão salvos em casa, com alguns seguranças, e eu darei prosseguimento nos quesitos legais do processo junto de Matthew.

- Parece um excelente plano. - a neerlandesa finalizou. - Agora, acho melhor irmos fechar nossas coisas e ir descansar. Serão cerca de um dia e meio viajando. 

E, logo, os três se dispersaram para finalizar suas malas. Giulia já estava muito adiantada com suas coisas. Ela havia deixado algumas coisas na casa de Pedro - o que não precisaria ser levado para a viagem - e o restante havia colocado em sua mala grande e mala de mão. 

Em viagens internacionais 2 malas eram permitidas, sem contar a de mão, mas Giulia não tinha outra para levar, por isso precisou fazer TUDO caber naquele espaço. preciso até quase sentar em cima da maior para fechá-la. Mas deu certo. 

Finalizou sua mochila, separou a roupa para o dia seguinte e, depois de tudo pronto, tomou um banho e se arrumou para dormir.

Estava deitada na cama do "seu" quarto, mas não conseguia fechar os olhos. A ansiedade que a inundava era tremenda e ela se sentia assustada, com medo. 

Sabendo que não ia conseguir dormir, ela se levantou indo em direção ao quarto de Victoria. Timidamente, bateu na porta, com medo de estar acordando a mais velha, mas ficou aliviada ao ouvir um "entra".

Já no quarto, Giulia viu a neerlandesa, já de pijama, terminando de organizar suas coisas. Vic olhou para a mais nova sorrindo, mas seu semblante mudou para preocupada quando viu o rosto da irmã.

- O que houve, querida? 

- Não sei. Me sinto ansiosa, quase entrando em uma crise. - Giulia respondeu aceitando os braços da outra, que se abriram para um abraço.

Victoria puxou a brasileira para deitarem abraçadas. A cabeça de Giulia ficava na altura da barriga da estrangeira e essa acariciava seus cabelos. Aquele carinho estava sendo o que a mais nova precisava: não era totalmente calmante, mas a paz que passava ajudou a relaxar.

- É normal você se sentir assim. Você não faz ideia do quanto eu precisei criar coragem para conversar com você aquele dia na faculdade. Eu sabia um pouco sobre você, mas não fazia ideia de como seria sua reação com tudo o que eu precisava falar e aquilo me apavorou. Os cenários de tudo dando errado passavam 24 horas na minha cabeça. Mas deu tudo certo! E olha onde você tá hoje, aqui comigo.

Victoria dizia apertando o abraço ainda mais e causando lágrimas na brasileira.

- Eu sei que você está nervosa. Vai conhecer nossa mãe, nosso irmão, vai realizar o sonho de ver uma corrida ao vivo, ainda em outro país que você nunca visitou, isso além de correr o risco de encontrar Jos ou de descobrirem tudo. É justificável o medo e a ansiedade. Mas você não pode deixar isso te levar. Você é tão desejada na nossa família. Nós sonhávamos com você todos os dias! Nossa mãe sofreu tanto sem você, eu e Max também. E, finalmente, você é nossa. Nossa para amar, para cuidar, para estar junto. Não estamos te procurando pra ficar por isso, queremos você com a gente pra sempre!

Com todas aquelas palavras, o choro de Giulia passou de nervosismo para alívio e felicidade. Ela nunca imaginou ouvir tudo aquilo. O futuro pra ela, depois da faculdade, sempre foi tão assustador e misterioso, e piorou com essa história toda. Escutar que seu futuro tinha espaço junto a sua família a dava certeza de que teria em quem se apoiar, e nada era mais gratificante e especial que aquilo.

- Agora que te achamos, nunca mais deixaremos que você vá!

- Eu não quero ir. - Giulia disse baixo, se virando para olhar nos olhos da mais velha. - Eu nunca me senti tão feliz e bem antes, e sei que só vai melhorar. Obrigada por terem me encontrado!

- Você nunca vai precisar agradecer por isso. Eu quem agradeço por nos querer em sua vida. Eu já te amo tanto, Giu, você não faz ideia. 

Victoria disse, olhando nos fundos dos olhos de Giulia, dando à brasileira a confiança e o resto da certeza que ela precisava.

- Eu também te amo, irmã. - a mais nova disse, causando o choro de alegria de Victoria.

As duas mais nada disseram, somente adormeceram abraçadas naquela noite inesquecível.

Life Changes - Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora