Capítulo 3

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Outubro de 2020
Vitória, Brasil

A única coisa que Giulia tinha certeza naquela hora era de que  precisava sair da vista dos outros. Não por si própria, mas pela mulher na sua frente. Ela simplesmente estava ignorando o que quer que fosse o assunto, mas mesmo assim pensava que talvez isso seria melhor para a mais velha.

Victoria era famosa. Se uma foto caísse na mídia e descobrissem que ela estava no Brasil, algo ruim poderia acontecer para ela.

A garota não sabia ao certo o que ela buscava ali - ou pelo menos não sabia ainda -, mas não queria que nenhum descuido seu fosse prejudicial para alguém a quem apreciava. Ela faria isso por qualquer pessoa, mas sendo alguém que conhecia, além de irmã de um piloto que gostava, ela sentiu mais urgência.

- Eu não sei o que você quer conversar comigo e agora não é o mais importante. - Giulia começou a falar, olhando para os lados para ter certeza de que ninguém perceberia nada de suspeito. - Primeiro precisamos sair daqui. Estamos no meio do estacionamento de uma faculdade movimentada. Você poderia facilmente ser reconhecida e eu não quero que isso seja um empecilho para o que for que você veio resolver aqui. - a mais nova disse realmente preocupada e tentando mostrar suas verdadeiras intenções na frase.

- O principal é você se sentir confortável. - Victoria começou a responder, ignorando o pedido anterior. - Eu vim para conversar com você, como já lhe disse. Preciso que a conversa seja entre só nós duas. Mas se você preferir ficar em um lugar público, acreditando ser mais seguro, não tem problema. Eu só quero conversar, e não te deixar desconfortável ou apreensiva.

Um lugar público mais seguro? Ela tem medo que eu ache que ela vai me sequestrar? Só pode ser, pensava a mais nova, rindo pelo quão sem sentido a situação parecia na sua cabeça.

- Nós podemos conversar no carro. Esse aí é seu? - perguntou apontando pra o carro esportivo preto, no qual ela estava encostada antes de a abordar.

- É sim. Você se sente segura em conversar lá dentro? - ela perguntou e, ao ver que a menina confirmou com a cabeça, pegou as chaves, destrancando o carro e permitindo a entrada.

Victoria entrou no banco do motorista, enquanto  Giulia se acomodou no de passageiro, se virando e ficando de frente para ela. A mais velha se arrumou e olhou de volta, parecendo esperar algum sinal da garota para que a conversa se iniciasse. Ao perceber que possuía a atenção, Victoria logo começou a conversa.

- Eu peço, por favor, que, antes de tudo, você me escute com atenção. O que eu vou falar vai parecer loucura, mas espere até eu terminar para decidir o que você vai fazer.

Giulia só confirmou com a cabeça, de novo. Não estava entendendo nada.

O que estava fazendo no carro com uma estranha? O que ela tinha na cabeça? Sempre tentou ser o mais cuidadosa possível e do nada fazia isso. Chegou a conclusão, só poderia estar ficando doida. Mas ao mesmo tempo, ela sabia quem a pessoa era. Seria isso tão perigoso? Por que parecia que ela estava no lugar certo, na hora certa? E por que uma sensação de segurança tão contraditória começava a crescer dentro dela?

Giulia realmente não entendia. Estava tão confusa que conseguia sentir sua cabeça tonta, enquanto um enjoo subia seu corpo, fazendo-a sentir calafrios. Ela nem tinha começado a conversa e já se sentia afobada.

Que grande piada você é, Giulia. Uma criança, sem ter quem te defender e bater na suas costas, falando que tudo vai passar e melhorar.

- Olha, dona Victoria. - começou, mostrando a ela que também sabia quem ela era. - Eu acho que não estou me sentindo muito bem. A gente pode conversar sobre isso outro momento. Isso que está acontecendo... só não está certo. Eu nem sei quem você é e já vou entrando no seu carro assim, isso não faz sentido. - foi falando enquanto saia do carro e via a outra a acompanhar.

- Giulia, por favor! Eu nem imagino o quão estranho isso está sendo para você agora. Mas eu preciso que você me escute. O assunto é sério e eu realmente quero te explicar antes que você descubra de outra forma. - ela começou a falar, enquanto seguia a universitária e segurava seu braço, impedindo-a de ir embora.

Giulia estava mais perdida que cego no tiroteio. Como assim? Explicar o quê? Antes que ela descobrisse de outra forma, mas descobrir o que?

O que ela poderia saber sobre mim? O que ela poderia ter em relação com a minha vida a ponto de estar na minha faculdade para falar comigo?, era tudo o que Giulia conseguia pensar.

- Olha, eu não me importo com a conversa, mas será que podemos deixar para outro dia? Eu realmente estou cansada e quero ir pra casa. Estava no estágio desde ás 7 da manhã e vim direto para a faculdade. Eu não sei o que você quer comigo, mas acredito que possa esperar uns dias né? - começou a falar enquanto andava de novo até a saída. - Eu realmente sinto muito, mas acredito que vamos ter outras oportunidades para conversar.

Ela nem sabia porque estava indo embora. Deveria ficar? Ou estava certa em sair? Será que era realmente tão importante o que ela queria falar? Tão importante a ponto de ser necessário ir ali e mexer com sua cabeça assim? Giulia já estava começando a ficar doida. Sua cabeça já começava a doer de tantos pensamentos diferentes.

Desde quando era tão fraca emocionalmente? Seria tudo o cansaço e a vontade de simplesmente jogar tudo pro alto e desaparecer? Deveria ser, afinal ela não era nada mais que uma universitária formanda. Uma entre muitos outros estudantes surtados.

Com tantos pensamentos perdidos na mente, a menina simplesmente continuou andando até a saída num modo automático, como uma robô. Mas não percebeu que a mais velha a seguia.

- Eu realmente preciso conversar com você e não gostaria de deixar para outro dia. Então por favor! - ela foi atrás da mais nova, falando mais baixo. Parecia tentar pela última vez por agora. - Giulia, isso vai mudar sua vida, assim como mudou a minha esses últimos dias.

Ao escutar, a menina não pode continuar seu caminho. Estancou no mesmo lugar, esperando ouvir mais alguma coisa. Uma dica que fosse. Ou poderia ser a própria verdade. Só queria qualquer coisa. Mas, por segundos, nada veio.

Deveria ser só um exagero!

Porém, quando voltou a andar, ouviu um suspiro e a voz de Victoria, ainda mais baixa, falando a maior loucura que já tinha escutado:

- Giulia... você é minha irmã! Você é uma Verstappen.

Life Changes - Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora