Soraya chega no senado no segundo dia da nova legislatura, segurando uma caixa branca um pouco pesada. Sua acessoria que a esperava no salão de entrada, a vê chegando e acena para ela:
—Bom dia senadora Soraya, sua papelada já está quase pronta, e eu já peguei a chave de acesso para seu gabinete, pode colocar suas coisas lá e trabalhar por lá agora. —diz mostrando a chave a Soraya que sorri e a segue até o gabinete.
Sua acessora abre a porta e da passagem para Soraya entrar primeiro:
—Prontinho! Aí está...todinho seu.
—Aí meu Deus...eu vou entrar com o pé direito para dar sorte. —Soraya responde animada, e pisa na sala com o pé direito. Deixa a caixa que segurava em cima da mesa e olha em volta sorrindo. —Isso aqui é muito bom!
—Então, a senhora tem uma hora antes do plenário começar, quer arrumar as coisas ou eu peço para o Júnior? —a assessora diz olhando para agenda de Soraya pelo celular.
—Não, deixa que eu arrumo, obrigada, eu quero as coisas do meu jeito. —Soraya sorri para a assessora que sorri de volta e sai da sala deixando Soraya sozinha.
Soraya olha em volta, pega o celular no bolso, olha as notificações, e coloca uma música no seu fone, depois coloca o celular na mesa, abre a caixa e começa a retirar as coisas de dentro.
40 minutos depois já tinha acabado, o gabinete estava decorado do seu jeito: havia alguns quadros de paisagem na parede e um com sua foto oficial do senado, uma planta ao lado da porta e outra ao lado da janela, que deixou aberta mostrando a linda vista do planalto. Em sua mesa deixou seu notebook, seu iPad, um quadro com foto de sua família, e um porta-canetas preto com divisórias para canetas, marca texto, lápis, e post-its.
Parou a música em seu fone, colocou as mãos na cintura, olhou em volta da sala, e sorriu do que tinha feito. Pegou o celular para tirar umas fotos e quando viu o horário, se arrumou apressada, pegou sua bolsa e saiu em direção ao salão do senado.
Chegando lá foi direto para seu lugar e ficou observando esperando a sessão começar. O senado estava uma desordem, tinha poucas pessoas sentadas, a maioria estava em pé fora de seus lugares conversando, e ninguém prestava atenção, com exceção de Soraya, que após um tempo percebendo aquela zona, começou a mexer no celular e ficou até o fim da sessão.
A sessão daquele segundo dia da nova legislatura era destinada para o pronunciamento de alguns senadores, em especial os novos, e a votação da ordem do dia. Mas Soraya participou de tudo em silêncio, e sozinha durante toda a sessão. E como não tinha ninguém para conversar, ficou no celular.
Estava bem entretida nesse, quando ouviu o presidente falar:
—Senadora Simone Tebet, seu direito de fala.
E a mulher que estava em pé fora de seu lugar, conversando com outros senadores começa a falar:
—É, eu gostaria de indagar o senhor presidente da mesa, se eu consigo fazer um aparte ao orador que já não está mais falando. Mas, somente porque eu preciso fazer um reconhecimento público da fala do senador Confúcio. Eu acho que as pessoas tem que parar para ouvir o que o senador disse e irá voltar a dizer. Ele, senador Confúcio faz jus ao próprio nome, que tem homônimo a um dos maiores filósofos chineses da humanidade, que ensinou muitas lições. E traz aqui a lembrança da data de vida de um dos maiores líderes mundiais, que sem pegar uma única arma, pregando a não violência, foi capaz de conduzir todo um país, porque a Índia é um dos países mais populosos do mundo, a se rebelarem pacificamente contra a alta taxa de impostos contra o sal britânico, conduzir uma marcha de 400km a pé, apenas pelo gesto, pelo exemplo, e assim, conseguiu a independência da Índia, com a demonstração do que é ser um estadista. Um estadista não é aquele que grita, que radicaliza, não é dono da verdade. Mas é aquele que negocia, que faz política de verdade, não polariza, que procura juntar os extremos. E mais do que nunca o Brasil está precisando, num momento de polarização exacerbada, de um irracional radicalismo de ideias, nós precisamos de homens e mulheres públicos que possam sentar para dialogar, e não instigar, seja pelas redes sociais, pela mídia, imprensa, ou no dia a dia. Eu estou dizendo que isso é em uma pirâmide, serve para o chefe do poder executivo, para todos nós, para o dono da empresa e seus trabalhadores, para o pai e o filho. Essa teia social brasileira precisa ser restaurada em nome da convergência. Então, nesse momento, eu quero me solidarizar e me somar a fala do senador Confúcio, porque homens como Mahatma Gandhi não apenas precisam ser lembrados, mas seguidos todos os dias, em nome da paz, do progresso, dos envolvimentos. De que no discurso somos tão bons em dizer, mas na prática temos dificuldade de seguir. Parabéns ao senador Confúcio.
O presidente parabeniza a atitude de Simone e seu colega.
Soraya que havia largado o celular para prestar total atenção quando ouviu o nome de Simone ser chamado, não conseguiu tirar os olhos dela nem por um minuto, e ao final do discurso, Soraya sorriu com um brilho no olhar, e ficou com um sentimento de motivação. Viu que Simone perseguia suas ideias até o fim, era muito determinada e não se deixava desanimar por nada e ninguém, não abaixava a cabeça para nenhum homem. Se sentiu inspirada por ela, e começou a pensar sobre isso enquanto sorria. Anotou em seu caderninho na primeira página: "Eu entrei na política e estou aqui hoje, no senado federal, como senadora do meu estado Mato Grosso do Sul, porque estava descontente e resolvi sair da fila dos que reclamam e vir para a fila dos que fazem." Colocou a data, e ficou olhado alguns segundos para aquela frase passando o dedo pela boca e refletindo sobre. Chegou à conclusão de que iria fazer as coisas acontecerem, ia perseguir suas ideias até o fim, e ficar no celular como tinha ficado a sessão inteira não iria ajudar. Se quisesse fazer acontecer, teria que deixar a timidez, insegurança ou medo de lado e fazer.
Ao fim da sessão, se levantou, guardou suas coisas na bolsa e olhou em volta procurando por alguém na multidão que saia do salão, quando se virou de novo para o lado em que ia sair da bancada, achou quem procurava: Simone estava ali guardando suas coisas, e de vez em quando se despedia de alguém que passava por ela. Soraya sentiu um arrepio assim que a viu e começou a ficar nervosa, mas conseguiu controlar com uma respiração funda, e pensou:
*Eu preciso ir lá agora, aproveitar que ela está sozinha... vamos, coragem Soraya!" respirou fundo, levantou a cabeça e foi até Simone:
—Oi —disse sorrindo e Simone que estava abaixada na mesa sobe o olhar pelo corpo de Soraya até chegar ao rosto, e quando percebe que é ela derruba o caderno que estava na sua mão e abaixa para pegar um pouco atrapalhada. Se levanta, coloca o caderno na mesa, olha para Soraya com total atenção e responde:
—Oi, tudo bem? Senadora Soraya né? —sorri fazendo Soraya sorrir também.
—É, isso... eu vim para te parabenizar pelo seu discurso hoje na sessão. Foi realmente muito inspirador, e eu concordo totalmente com você, de que estamos aqui pelo país, e podemos até discordar, mas temos que construir, agregar algo todos os dias.
—Ah obrigada, com toda certeza, temos que ter em mente que há um país aguardando pelas decisões tomadas aqui. —Simone responde e Soraya concorda com a cabeça. Ficaram um tempo em silêncio até Simone falar:
—Eu ia falar com você, mas você estava no celular, não quis incomodar.
—Imagina... —as duas sorriem e ficam alguns segundos em silêncio olhando uma para a outra, pensando em um novo assunto para ficarem ali mais tempo, mas sem sucesso, Soraya se despede murmurando um "tchau" e coloca a mão no ombro de Simone antes de sair.
Simone fica olhando ela sair até não estar mais visível, e sorri.
29 anos depois, e aquele olhar de conexão que tinham uma pela outra e sentimento de nervosismo quando estão perto, não mudou nada. O que significaria aquilo? Era o que ambas pensaram.
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Destiny
FanfictionSerá que Destino existe? E almas gêmeas? É possível duas pessoas que se amam não ficarem juntas? O destino pode dar vários sinais quando você encontra o amor da sua vida, você não percebe ou ignora? Há uma frase popular que descreve isso: "almas gê...