Almoço

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Soraya estava no salão do senado federal, sentada em sua cadeira e mexendo em seu celular, enquanto esperava a sessão começar. O senado estava mais vazio naquele dia, pois não eram todos os senadores que foram convocados naquele domingo, pois era uma sessão não deliberativa, e Soraya foi chamada, pois era novata.
Simone não estava naquele dia, o que fez com que Soraya ficasse mais na sua, mas ao mesmo tempo querendo participar ativamente da sessão.
A sessão se iniciou, e o presidente anunciou que a pauta do dia seria sobre segurança pública. Soraya, que vinha estudando o tema intensivamente nos últimos dias, se sentiu confiante para montar seu projeto e participar. A votação começou, e um por um os senadores começaram a se levantar, falar ao microfone seus votos, e se sentar novamente.
Por incrível que possa parecer, aquele dia o senado estava em ordem: não tinha muito barulho, mas também não estava em silêncio total, todos estavam em seus lugares e a maioria prestava atenção, mesmo conversando. Talvez o problema seja a grande quantidade de senadores nos dias comuns.
Por conta disso, Soraya sentia paz e tranquilidade, e aproveitava cada segundo daquele raro momento.
O presidente então anunciou o resultado da votação, onde a maioria foi favorável. Alguns senadores começaram a se manifestar, e Soraya não ficou de fora. Pensou que seria um ótimo momento para começar a tomar algum reconhecimento ali dentro, que estava menos cheio,  e não poderia perder a oportunidade. Então pediu a palavra ao presidente, que concedeu, e ela começou:
——Sr. Presidente, eu acredito que não seria necessário aumentar a estrutura para que a gente tenha uma comissão específica de segurança pública. A câmara tem uma que junta a comissão de combate ao crime organizado e colarinho branco, e nos não temos. Isso é uma vergonha. Mas mesmo que não fosse, seria possível, priorizar. Segurança pública é prioridade. Então temos comissões que de repente, nesse momento não são prioridades, e mesmo que assim não fosse, se for necessário uma estrutura, que eu acho que não é necessário ter uma grande estrutura. Acho que é o barato que sai caro. Segurança pública tem reflexo no turismo, qualidade de vida, saúde, e em absolutamente tudo nesse país. Então eu, do estado de fronteira, não posso deixar de citar o problema do meu estado: Mato Grosso do Sul é mais um estado da federação, mas sabemos que o Rio de Janeiro tem um olhar especial do governo federal na questão de segurança pública. Porém, tudo o que chega no Rio de Janeiro e nos grandes estados, entram majoritariamente pelo meu estado. A polícia federal em nossa fronteira não tem uma delegacia. Segurança pública é prioridade! Essa casa não pode fechar os olhos para isso, nosso governo priorizou, somos estado mínimo, para que tudo ande bem precisamos ter segurança. Perdemos muito com turismo em todos os sentidos, o brasileiro sofre com isso, e de uma outra vertente a valorização de todos os profissionais de segurança pública que nos governos anteriores foram marginalizados. Então, isso tem que ser prioridade, se fazer uma outra estrutura seria oneroso, que transforme uma que nesse momento não é prioridade no país.
O presidente parabenizou Soraya, que se sentiu orgulhosa de si mesma, por ter tido coragem pra vencer a insegurança que a dominava.
O presidente encerrou a sessão, e todos começaram a sair. Alguns senadores vieram falar com Soraya, e parabenizá-la, e Soraya ficou um tempo conversando com eles, antes de sair do salão, segurando sua pasta, e mexendo em seu celular. Estava tão distraída, que nem viu Simone chegando se juntando ao lado dela e caminhando junto, olhando para ela para ver quanto tempo iria levar para Soraya perceber. Então, uns 5 passos depois, Soraya notou alguém ao seu lado, e sentiu que estava sendo observada, então olhou para o lado séria, e quando viu que era Simone sorriu, parou de andar e a abraçou, cumprimentando-na:
—Oi Simone... perdão, eu estava distraída aqui, nem notei...
—Ainda bem que eu não sou um sequestrador... fica atenta... —Simone brinca e as duas riem, então Simone continua —Então, você veio para sessão hoje? Foi chamada?
—É, eu sou novata, e amo trabalhar, então... você me conhece. —Soraya ri e Simone ri também dizendo:
—É, eu sei bem o quão viciada em trabalho você é... Bom, eu estava resolvendo umas coisas aqui e pensei que você poderia querer sair para almoçar, já que ontem não deu certo...
—Ah, claro que sim... eu vou guardar isso, e nós vamos, ok? —Soraya responde sorrindo com um brilho no olhar que tinha toda vez que olhava para Simone. Ela coloca a pasta em cima da mesa e sai conversando com Simone. Chegando ao restaurante, Simone puxa uma cadeira para Soraya se sentar, e se senta a frente dela. O garçom chega para anotar os pedidos e Soraya que acabara de abrir o cardápio, deu uma olhada superficial e disse olhando para Simone:
—Eu acho que eu vou querer um lanche... não estou muito afim de comida. E você, Simone?
—Ah, se você vai querer lanche, eu vou pegar também.
—Se você quiser comida, eu pego também, você pode pedir, sem problemas. —Soraya diz se achando culpada
—Não, por mim tanto faz. Vou te acompanhar. —E se vira para o garçom —A gente vai querer 2 x-salada... Você quer x-salada mesmo né, Yaya?
Soraya sentiu um frio percorrendo sua espinha, amava quando Simone a chamava pelo seu apelido, e sorriu involuntariamente, mas se deu conta que esqueceu de responder, e assim o fez:
—Isso, eu vou querer um x-salada e um suco natural de laranja.
O garçom anota e se retira.
—Pelo visto eu ainda te conheço. Ainda gosta do x-salada né? —Simone diz sorrindo, e Soraya se lembra que da primeira vez que saíram para almoçar, ela disse que seu lanche preferido era x-salada. Então sorriu e falou:
—Pois é... Mas pelo visto, eu é que não te conheço mais, porque ir do x-burguer para o x-salada...
As duas riem
—Pois é, eu tive que aprender a comer mais salada, e menos cheddar... —Simone responde fazendo cara de choro e Soraya ri
Os lanches chegaram e elas ficaram comendo e conversando por um bom tempo, até que Simone, terminando de tomar seu suco, olha para Soraya a admirando, percebendo como ela tinha mudado, e estava ainda mais linda desse quando a conheceu. Soraya usava um óculos de grau quadrado branco naquele dia, que a deixava ainda mais bonita. Simone percebeu também o quanto ela tinha evoluído intelectualmente também, e se sentiu orgulhosa. Deu um sorriso enquanto a olhava, o que fez Soraya percebê-la olhando para ela e sorrindo e perguntar:
—O que foi? —pergunta enquanto limpa a boca com guardanapo, um pouco envergonhada.
—Nada. Só estava reparando o quanto você mudou, desde que te conheci. Intelectualmente e fisicamente, ficou mais sábia, decidida, preparada, e mais bonita, um verdadeiro mulherão. —Simone responde e morde o lábio inferior enquanto olha para o corpo de Soraya, que nem percebe a secada que levou da amiga, e só agradeceu.
—Ah, você também mudou bastante. Envelheceu como vinho, ficou ainda melhor. —Soraya responde
—Está me chamando de velha, Soraya? Eu te faço um elogio e você me retribui assim? —Simone brinca com voz de brava, e Soraya ri
—Não. Eu quis dizer que a cada dia você está mais bonita, e parece muito jovem... Você É muito jovem na verdade, é só dois anos mais velha que eu, não tem muita diferença. —Soraya responde tentando consertar sua fala fazendo Simone rir, e então continua —Se bem que nós estamos envelhecendo né? Sejamos sinceras, mas estamos envelhecendo muito bem. E faz parte da vida, que bom não é?
—Eu acho que sim... Um brinde a isso. —E levanta seu copo para tomar o último gole de seu suco, e Soraya faz o mesmo.
As duas pagam a conta e saem do restaurante conversando. Quando chegam em frente ao palácio, param para se despedir, e Simone diz:
—Bem que poderíamos fazer mais um daqueles programas que fazíamos na época de faculdade né? De leitura.
E Soraya se lembra que na época de faculdade, chamava Simone para sua casa, ou ia para a casa dela, e passavam horas lendo cada uma um livro, mas juntas. Ou escutando música, ou assistindo a uma série, mas a leitura era mais comum. Então respondeu animada:
—Sim, claro, eu adoraria! Seria incrível.
—Podemos marcar um dia? Na sua casa? —Simone pergunta para não deixar só no plano.
—Tudo bem, pode ser... no sábado de manhã? —Soraya pergunta
—Sim, sábado está ótimo. —Simone responde animada.
—Certo, então está marcado: sábado de manhã na minha casa. Eu te mando o endereço por mensagem. —Combinado! Mal posso esperar. —Simone responde
Elas se despedem com um beijinho na bochecha, e cada uma vai para um lado.
Simone ficou animada em pensar que passaria um dia inteiro sozinha com Soraya de novo, depois de tanto tempo. E era a oportunidade perfeita para conhecer a casa dela, e seu marido que tinha pesquisado, por isso foi rápida em sugerir a casa de Soraya para o programa. Soraya nem pensava nisso, só ficou animada pelo fato de ficar perto de Simone sem ninguém para interromper por um dia inteiro.

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