Projeto de pesquisa

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Uma semana desde que começou a faculdade e Soraya se arrumava para sair. Dessa vez iria de carro porque estava atrasada e era um dia importante para sua vida acadêmica. Precisava chegar um pouco antes do horário de sempre.
Soraya arrumou sua cama assim que acordou, tomou um banho, lavou o cabelo, escovou seus dentes e foi se vestir. Escolheu uma calça jeans escura, uma blusa de manga comprida cinza clara e um sapato fechado preto combinando com sua bolsa preta de couro. Só penteou o cabelo e deixou secar naturalmente. Tomou um rápido café com torradas lendo o jornal, arrumou sua bolsa para a aula, pegou a chave pendurada, trancou a porta e foi em direção ao carro. Entrou no carro, colocou sua bolsa no banco ao lado, deu uma rápida arrumada no visual pelo retrovisor e saiu com o carro.
Pouco mais de 10 minutos já estava no campus.
Deu mais uma arrumada no visual antes de sair do carro, pegou suas coisas e saiu andando com pressa com a bolsa no braço e uma pasta na mão. Entrou em uma sala de estudos cheia de mesas redondas que eram usadas para estudo, mas naquele momento se encontravam vazias. Só havia uma mulher de cabelos negros até o ombro, vestindo uma calça social preta e camisa rosa pink de botões. Era Simone, que nem percebeu a aluna chegando, pois estava em pé apoiada com os braços na mesa olhando para uma folha de papel.
Soraya se aproximou, fazendo Simone se indireitar na mesa e prestar atenção nela.
—Então, pensou na minha proposta? —diz Simone depois de um tempo das duas em silêncio. E Soraya responde:
—Sim, pensei.
—E então?
—Eu vou aceitar!
Simone abre um sorriso involuntariamente quando ouve, e Soraya continua:
—Eu quero te agradecer por pensar em mim para te ajudar nesse projeto de pesquisa, é uma grande honra, e irá significar tanto para minha carreira, é o início de uma jornada. Então, muito obrigada de verdade por me escolher.
Simone ainda com um sorriso responde:
—Soraya, desde o primeiro dia eu soube que você era especial, uma aluna notável. É estudiosa, dedicada, vai muito bem nas atividades, não fala muito nas aulas, mas participa do seu jeito...é, eu reparo que você anota a resposta de todas as perguntas que eu faço no caderno. —as duas dão uma risadinha e Simone continua: —Te chamei porque vejo futuro em você, acho que você tem potencial para chegar longe na sua carreira, então, sim, você é a pessoa certa para esse projeto de pesquisa.
Soraya agradece com brilho nos olhos e diz:
—Muito obrigada, significa muito para mim ver você, minha professora, muito boa no que faz como professora e advogada, acreditando tanto em mim e no meu potencial. É isso que um aluno precisa! Você é uma inspiração para mim, Simone.
Simone agradece com um sorriso e brilho no olhar, e Soraya retira algumas folhas da pasta que colocou na mesa e entrega a Simone dizendo:
—Dei uma estudada no tema que mencionou quando me fez o convite, e rediji um texto sobre.
Simone pega os papéis, da uma olhada superficial passando as 2 páginas que tinha, e fala:
—Uau, olha só! Acredite quando eu digo que você é a pessoa ideal para esse projeto! —sorri para a aluna e volta a atenção para os papéis.
Simone passa alguns dados e orientações sobre o projeto para a garota que iria começar a fazer parte dele, e as duas saem conversando sobre em direção a sala de aula.
Durante a aula de direito administrativo, Simone olhava para Soraya sorrindo a cada explicação, e a garota sorria de volta disfarçadamente e sem jeito.
Ao término, a turma não iria ter a próxima aula que é de história do direito, então ao passo que todos foram indo embora, Soraya ficou na sala estudando sobre o assunto do projeto de pesquisa de Simone, que a viu estudando sem sair da sala e ficou por ali também redijindo um texto sobre o projeto.
As duas ficaram ali por 2 horas, cada uma muito focada em sua leitura, exceto por curtos períodos que olhavam uma para a outra com admiração, mas os olhares não se cruzaram dessa vez, foram olhares despercebidos pela outra.
Ao término dessas 2 horas, Simone vê Soraya se alongando na cadeira, larga os papéis que estava lendo e pergunta:
—O que acha de irmos comer alguma coisa, sei lá, um lanche? Já fizemos bastante por hoje, amanhã continuamos.
—Tudo bem, já estou com a vista cansada de ler esses artigos, e estou com um pouco de fome.
—Então vamos.
As duas organizam suas coisas, trocam os papéis que cada uma estava lendo e guardam na bolsa. Saem dali em silêncio, cada uma mexendo em seu celular como se conferissem algo ou respondessem mensagens. Saíram do campus, andando pela calçada e pararam na frente de uma lanchonete ao lado do campus. Se sentaram em uma mesa pendurando as bolsas na cadeira, e logo veio um garçom perguntar o que queriam.
Soraya olhando o pequeno cardápio que estava ali na mesa, disse sorrindo:
—Ah, eu vou querer um suco natural de laranja e um X-salada desse aqui. —aponta no cardápio e olha para Simone, que da uma rápida olhada no cardápio e diz:
—E eu vou querer um suco de limão com X-burguer.
O garçom anota e sai para preparar os pedidos.
Enquanto isso, as mulheres conversam, com um assunto puxado por Simone:
—Sério? Um X-salada? Hahaha
—Sim, o que tem?
—Ninguém gosta realmente disso.
—Eu gosto hahaha
—Então vai me dizer que prefere um X-salada ao invés de um com muito cheddar? Ou um de bacon?
—Ah talvez... tá bem, você me pegou. —as duas riem e Soraya continua: —Mas o X-salada pode ser simples, porém tem seu valor como lanche, e é muito bom.
—Eu ainda prefiro o meu lanche! Não resisto a um cheddar derretendo hahaha
As duas riem e chegou a vez de Soraya puxar o assunto:
—Então, para o projeto eu tava pensando...
—Não!
Soraya se assusta com a resposta de Simone que percebendo a cara de assustada de Soraya continua:
—Não vamos falar sobre o projeto agora, nem sobre aula, ou direito, ou faculdade. Passamos o dia inteiro na universidade, vamos tirar esse tempo de folga.
—Desculpe hahaha tudo bem.
—Amanhã você me conta suas ideias, agora... me fale mais sobre você.
—como assim?
—Me fale, quem você é, o que gosta de fazer no tempo livre... quem é Soraya Thronicke?
Nesse momento os lanches chegaram e elas se arrumaram para começar a comer. Soraya responde:
—Ah vamos ver... Eu, Soraya Thronicke, sou uma mulher que mora em uma casa no centro, moro sozinha porque meus pais são de descendência alemã e foram morar na Alemanha, um bom lugar para envelhecerem bem. Mas eu ligo para eles e eles me ligam todos os dias para conversarmos. Bom, eu trabalho como recepcionista de uma advocacia, gosto muito de estudar, adquirir novos conhecimentos, me aprimorar; gosto de ler, sou apaixonada por ler um livro durante horas, nem vejo o tempo passar. Também gosto de assistir seriados.
—Hm, interessante.... Você disse que seus pais são de descendência alemã, seu sobrenome é alemão né?
—Sim! "Thronicke", na verdade é "Thrrrrrrronika"
—"Thrrrrronika"?
—É. —sorri da pronúncia de Simone e as duas riem
—Interessante... E a Alemanha é um lugar melhor para viver? Para envelhecer?
–Eu nunca fui para lá, mas meus avós são de lá e eles sempre me contaram. A Alemanha está em 13º lugar no ranking dos países com melhor qualidade de vida, e em 5º lugar no IDH.
—Hm, olha só... bem interessante, e seus pais moram sozinhos lá?
–Eles estão com meus avós. Na verdade, eles moram sozinhos, meus avós moram na rua de trás da deles. Mas lá eles respeitam muito, as casas dos idosos são bem perto uma da outra, assim a vizinhança pode se ajudar.
—Bem legal. —fala dando uma mordida no lanche.
–E você? Fala sobre você. —Soraya diz olhando para Simone enquanto da uma mordida em seu lanche também.
—Ah, eu...deixa eu ver... não tenho uma história tão interessante quanto a sua, mas, eu tenho 20 anos, comecei a trabalhar como professora na universidade esse ano, mas antes eu trabalhava como recepcionista de advocacia também. Me interesso muito por política por causa do meu pai, e espero poder ingressar na área em breve...também gosto muito de ler, é muito bom, também passaria horas lendo um livro que eu gosto sem nem ver o tempo passar. Gosto de estudar, assistir a seriados também, mas confesso que não tenho muita paciência para acompanhar.
—Muito interessante. Mas espera, você tem 20 anos? Como assim? Dois anos mais velha que eu só? Como já é formada?
—Hahaha sim, eu me formei esse ano, por isso comecei a trabalhar na universidade. Durante meu 3º período fiz monitoria e eles gostaram bastante. Mas eu tenho magistério, que fiz junto com o ensino médio.
—Ah sim, uau! Que mulher guerreira e inspiradora.
Simone agradece sorrindo sem graça e puxa uma risada da colega:
—Por que? Eu pareço mais velha?
—não, claro que não. Você parece muito jovem.
As duas riem, e Soraya continua o papo:
—E você disse que quer seguir na área da política por causa de seu pai... ele é político?
—Sim, Ramez Tebet. Ele é ministro da integração nacional. Desde pequena sempre vejo ele trabalhando, sempre muito ocupado, quase nunca tinha tempo para mim. Então eu cresci nesse meio político, vendo e acompanhando meu pai em reuniões.
—Ah sim, entendi. E sua mãe?
—Fairte? Não, ela não é da política. Mas é minha heroína também. —sorri junto com Soraya que pega sua bolsa e diz:
—Melhor a gente ir, já está ficando tarde.
–Sim, claro. –Simone pega sua bolsa também levantando da cadeira e Soraya levanta também.
—Tem que pagar a conta, eu vou indo lá pagar. —Simone pega no braço de Soraya a impedindo de continuar andando e diz:
–Não, guarde seu dinheiro. Deixa que eu pago.
—Imagina Simone, vamos dividir.
—Não, não, não... —pega seu cartão na bolsa e entrega para o atendente no balcão, que pega o cartão e diz:
–Deu R$26,80 ok?
Simone coloca sua senha e pega a notinha. As duas saem da lanchonete, Soraya com cara emburrada que Simone percebe e pergunta o porquê:
–Por que está com essa cara?
—Por que não me deixou pagar?
—Você paga da próxima vez. –Simone sorri arrancando um sorriso da garota também.
Elas chegam na porta do campus e se viram uma para a outra para se despedir.
—Foi muito bom passar um tempo com você, te conhecer melhor além da universidade.
—Também gostei muito.
–Devíamos repetir mais vezes.
—Claro.
As duas se olham naquele encontro de olhares que quando acontecia as prendiam no olhar uma da outra. E a cada vez que isso acontecia durava mais tempo. Até que Soraya quebra o momento de silêncio entre elas falando:
—Eu preciso ir...até amanhã professora.
—Me chame de Simone, você já é uma amiga. —a professora fala sem conseguir tirar os olhos de Soraya, e esta, quase se prende naquele olhar novamente, mas consegue resistir:
—Ok...então, tchau, até amanhã Simone. —e se vira para sair andando um pouco nervosa e desconsertada que nem ouve o "até" de sua professora.
Há uns 10 passos uma da outra, Simone chama Soraya e fala:
—Da próxima vez, podemos ir para uma biblioteca ler por horas sem lembrar do tempo.
Soraya se vira sorrindo:
—Parece ótimo, eu topo. Mas só se você terminar de assistir a saga de Star Trek que você abandonou. —Soraya abre mais o sorriso e Simone da uma risada respondendo:
—Tudo bem.
—Mas sem pular hein?
–Ah você sabe que eu não tenho paciência! –Simone diz e Soraya da de ombros, fazendo Simone rir e continuar: —Tudo bem, vou ver o que posso fazer.
Soraya se vira de volta e continua a andar para sua casa. Simone a observa até onde pôde, e quando a garota não estava mais visível pela distância, entra no campus com um sorriso incontrolável pela tarde que passará com Soraya.
Era uma coisa que Simone não conseguia explicar: essa conexão que tinha com Soraya. Era como se já se conhecessem de outras vidas. Sentia um carinho e consideração tão grande pela garota que queria ficar o dia inteiro com ela, o máximo de tempo que desse para ficarem juntas ela tentava ficar. E na despedida, torcia para chegar logo o outro dia para ver a garota de novo. Não queria se despedir no fim do dia.
Soraya chegou em casa sorrindo pela tarde que passara com sua professora. Se pudesse ficaria conversando com ela por horas sem se importar com o tempo. Era incrível o quanto elas se entendiam, nunca faltava assunto quando estavam juntas, a conversa fluía que ela sentia que podia falar sobre qualquer coisa, o mesmo acontecia com Simone.
Soraya ficou pensativa lembrando do olhar: e aquele momento do olhar, em que as duas se encaravam e ficavam em silêncio sem conseguir dizer uma palavra, apenas admirando a outra. Será que tinham uma conexão tão forte a ponto de se perderem apenas no olhar? A ponto de não ser necessário nem uma palavra trocada entre elas, apenas um simples olhar? Soraya se pegou pensando o que podia significar aquilo, e depois de alguns segundos não chegou a uma conclusão e decidiu ir fazer seus afazeres.

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