Simone acorda com o barulho de seu celular tocando e pessoas conversando ao longe. Começa a se levantar do sofá de couro onde dormira, e abrir os olhos lentamente com muita dificuldade por causa da claridade que vinha da janela sem cortinas. Sentia um pouco de dor de cabeça, e tinha as palavras "casada" e "marido desde 1997" rondando pela sua cabeça. Aos poucos foi percebendo o ambiente ao seu redor: tinha dormido na sua sala do gabinete, no planalto.
Quando finalmente conseguiu chegar a sua mesa e pegar o celular, ele tinha parado de tocar. Então aproveitou para ver o horário, ainda com muita dificuldade de enxergar por causa da claridade: 06:37, era o horário que algumas pessoas costumavam chegar para trabalhar, enquanto o resto dos políticos só chegava às 10h. Estava distraída tentando verificar as mensagens em seu celular enquanto tentava acordar de fato, quando seu celular começou a tocar de novo e a assustou fazendo quase derrubar o celular. Atendeu disfarçando bem a voz de sono:
—Alô?
—Alô, oi meu amor. Onde está? —Simone reconheceu a voz de seu marido e murmurou um *droga* bem baixinho, antes de falar:
—Ah, oi amor. É, eu...acabei dormindo na minha sala sabe?
—Ah meu amor, dormiu nesse sofá duro da sua sala?
—É, pois é, eu tinha muito trabalho para fazer e acabei pegando no sono por aqui mesmo...
—Sim, eu entendo. Mas você tem que se cuidar também. Você trabalha demais, precisa saber separar o tempo de trabalho e o de descansar em casa.
—Eu sei, eu quis acabar tudo ontem e perdi o horário.
—Ligar para avisar que não vai para casa também é uma opção. Poxa, eu fiquei preocupado, te liguei umas 5 vezes ontem e só deu caixa postal.
—Eu sei, me desculpe. Provavelmente meu celular estava carregando. Me desculpe.
—Tudo bem.
—Tudo bem. Bom, eu pensei em passar aí hoje para almoçar com você o que acha? Eu vou estar livre na hora do almoço, e como não nos vimos desde ontem... Tudo bem por você? —Eduardo fala empolgado, e Simone começa a ficar inquieta e responde tentando pensar em algo:
—Ah, eu não sei Edu. Tenho muito trabalho para fazer hoje e acho que vou almoçar na minha sala.
—O que eu acabei de te falar sobre descansar, Simone?
—Aí Eduardo, você me conhece, sabe que eu sou assim, agora deixa de me dar bronca que eu preciso desligar, à noite a gente conversa, beijos.
—A gente se vê à noite mesmo? —Eduardo pergunta
—Eu já falei que sim, agora deixa eu desligar que eu preciso ir, tchauzinho. —Simone responde impaciente já desligando a ligação e nem ouviu seu marido dizer "Tchau, te amo." para se despedir.
Simone pega sua bolsa e vai até o banheiro se arrumar, passa um perfume, penteia o cabelo, escova os dentes e retoca sua maquiagem. Sai da sala com sua bolsa e vai até o refeitório, onde estava sendo servido o café da manhã. Foi até o canto e pegou uma xícara cheia de café. Pegou um pão com creme de avelã e foi se sentar. Ficou mexendo em seu celular respondendo mensagens e verificando sua agenda: teria uma reunião de seu partido na parte da manhã, e uma reunião com o conselho de comunicação do congresso nacional à tarde.
Terminou o seu café e foi para seu gabinete com um copo grande de café. Chegando lá, encontrou sua assessora que acabara de chegar. A moça lhe passou algumas informações e Simone entrou para sua sala, ligou o notebook e entrou na sala da reunião que estava prestes a começar.
Durou praticamente a manhã toda e Simone teve que fazer várias anotações em seu caderno durante a reunião.
Depois saiu para almoçar no refeitório do palácio, e encontrou Soraya enquanto montava seu prato. A moça estava sentada sozinha, almoçando, e Simone ficou relutante em ir falar com ela. Mas decidiu ir mesmo assim. Chegou a mesa dela e disse:
—Olá, posso me sentar?
—Oi! Claro que pode. —Soraya responde se animando ao ver Simone.
—Almoçando sozinha? —Simone pergunta.
—Ah, você me conhece, sabe que eu demoro a fazer amizades com as pessoas. —Soraya sorri e Simone sorri de volta.
—Então, vamos ter aquela continuação do nosso papo? —Simone pergunta.
—Sim, claro. —Soraya responde animada.
—Certo, então me fale um pouco de você, o que aconteceu desde a última vez que nos vimos. —Simone pergunta para ver se as informações que tinha pesquisado iriam bater com o que Soraya falava.
—Ah, bom, deixa eu ver... Depois que você saiu da universidade... eu me formei em direito, fiz minha especialização, fiz meu mestrado em direito administrativo, e minha pós em direito tributário e direito da família. Aí, eu fiquei trabalhando como advogada em um escritório conjunto, e depois abri minha própria advocacia. Aí, comecei a participar de alguns movimentos de rua, e mover ações contra alguns políticos e empresas, ganhei a maioria das causas. E então, ano passado, resolvi entrar na política, descontente com o modo que as coisas estão e resolvi sair da fila dos que reclamam e vir para a fila dos que fazem.
—Uau, muito interessante. Que mulher batalhadora! —Simone diz prestando atenção em cada palavra de Soraya, e percebeu que ela não mencionou que era casada. Talvez ela tenha esquecido, mas isso não é o tipo de coisa que você esquece, principalmente quando te pedem para falar sobre sua vida. Seus pensamentos foram interrompidos por Soraya que falou:
—Agora é sua vez! Me conte sobre você.
—Hmm... ok! Depois que eu sai da faculdade onde eu te dava aula, eu fui fazer minha especialização em ciência do direito no Rio de Janeiro, e meu mestrado em direito do estado em São Paulo. Aí, eu voltei para Mato Grosso do Sul e pulei em 3 faculdades dando aulas. Ai eu entrei para a consultoria técnica jurídica da assembleia legislativa do Mato Grosso do Sul onde fiquei 3 anos, e depois fui diretora técnica legislativa de 97 a 2001. Depois, eu entrei para a política me candidatando para deputada estadual de Mato Grosso do Sul, e ganhei com 25.251 votos. Aí eu fui crescendo na política: de deputada, fui para prefeita de Três Lagoas, secretaria de governo, vice governadora e hoje senadora. —Simone termina e da um sorriso pra Soraya, que diz:
—Uau! Que mulher inspiradora, guerreira.
—Hahaha nem tanto assim... Pensei em desistir quando meu pai morreu. —percebendo que Soraya a olhava com olhar de tristeza continuou —Por um curto tempo eu quis desistir. Eu pensava que nada disso iria fazer sentido sem meu pai aqui... Eu entrei na política por causa dele, foi porque desde pequena eu sempre chamava ele para brincar e ele sempre estava ocupado no trabalho, então eu queria a atenção dele, e o jeito de conseguir era entrar na política... Ah, você já conhece essa história. —as duas riem e Simone continua —Bom, eu consegui. Ele disse que estava orgulhoso de mim! Disse que acreditava em mim e no meu potencial, e que eu iria longe. Disse que talvez daqui uns anos eu até chegue à presidência do Brasil.
—Eu sinto muito, pela morte do seu pai, Simone. Sei que não deve ter sido fácil, você era muito apegada a ele... Eu até vi algo sobre a morte dele na época, mas como eu não tinha o seu contato não consegui falar com você. Mas eu senti muito quando vi na época, e sinto muito agora. —Soraya diz segurando as mãos de Simone que estavam sobre a mesa.
—Obrigada. Hoje eu já estou melhor. Percebi que, por mais que eu tenha entrado na política pelo meu pai, eu realmente amo dessa área, e tudo que eu faço é para tentar trazer um país melhor. E eu posso fazer isso como uma homenagem ao meu pai que foi um grande político. —Simone diz olhando para a mão de Soraya encima da sua.
—Sim, você pode fazer o que você quiser. E eu concordo com seu pai, você tem potencial para chegar longe. É raro achar um político que realmente faça isso por amor, e é isso que torna você perfeita para qualquer cargo politico. —Soraya diz e Simone sorri agradecida, e segura as mãos de Soraya também.
Após um tempo em silêncio e de mãos juntinhas, Soraya solta as mãos de Simone e se levanta dizendo:
—Desculpa, eu preciso ir agora... adorei nossa conversa, devíamos conversar mais um dia desses... Bom, tenho que ir, beijos Simone.
Simone se levanta também e se despede de Soraya. Pega suas coisas e vai para seu gabinete pensando na conversa incrível que teve com Soraya. Deu um sorriso enquanto lembrava. Então lembrou que ela não mencionou seu casamento enquanto contava de sua vida, e pensou nos motivos que a levaria a não mencionar esse fato para ela.
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Destiny
FanfictionSerá que Destino existe? E almas gêmeas? É possível duas pessoas que se amam não ficarem juntas? O destino pode dar vários sinais quando você encontra o amor da sua vida, você não percebe ou ignora? Há uma frase popular que descreve isso: "almas gê...