Marido

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Soraya sai do banheiro direto no quarto, veste seu pijama de seda cor de rosa e vai para a sala onde vê César esticado no sofá assistindo tv. Se senta na poltrona com o celular na mão.
—Tá tudo bem Sory?
—Como assim?
—Você ficou trancada um tempão no banheiro...
—Ah, é que eu estava... tomando banho, fazendo umas coisas de higiene feminina é isso demora.
—Ta bom então, já entendi... Mas e você, como tá indo a semana?
—Ah, tudo bem, bem puxado no trabalho né, mas eu gosto desse ritmo.
—É, eu sei... Soraya, não tá feliz que eu estou aqui com você não? Saudade?
—Eu? O que? Por que tá perguntando isso? —Soraya arregala os olhos gelada com a pergunta.
—Ué, desde que eu cheguei você não veio me dar um beijo, um abraço, tá sentada em outro sofá, tá brava comigo por acaso? —César pergunta e Soraya respira aliviada
—Ah, eu te dei um beijo na hora que eu te encontrei ali fora antes de entrarmos.
—Um selinho rápido de cumprimento, isso não conta!
—o que quer que eu faça?
—Senta aqui do meu lado. —César diz batendo no sofá ao lado dele. Soraya se senta ao lado dele que passa o braço em volta dos ombros dela e a beija na cabeça.
—Senti muita saudade! —César diz beijando o pescoço dela, e a mulher fica imóvel sem saber como reagir, mas visivelmente desconfortável. E César continua: —Soraya? Você sentiu saudade também?
—Ãhn? Ah sim, claro, senti muita saudade meu amor. —Soraya mente sorrindo e treme a voz na última parte
—Tá com o pensamento longe hoje hein Dona Soraya... —Cesar diz e continua beijando o pescoço dela —Sabe o que eu tava pensando? Numa coisa que podíamos fazer para matar a saudade...
—O que? —Soraya pergunta e César ri da lerdeza dela
—Vem comigo que eu te mostro. —Cesar se levanta e a puxa até o quarto onde vai para trás dela passando as mãos pelos braços e beijando o ombro dela. Assim que ela percebe do que ele estava falando arregala os olhos e se afasta rapidamente.
—O que foi?
—Eu... tô muito cansada hoje.
—Tudo bem, deixa que eu faço o trabalho.
—NÃO! É melhor não, podemos só dormir?
—Tá tudo bem então. —César começa a se arrumar para deitar e Soraya já deita na cama agarrada com o celular virada para o canto da cama, encolhida é imóvel. César se deita ao lado dela e a abraça por trás ficando bem coladinho com ela.
—Boa noite!
—Boa noite! —Soraya responde e desbloqueia o celular escondido já que estava virada para o outro lado, diminui o brilho de tela e entra na conversa de Simone:
Boa noite Simone!
Poucos segundos depois ela responde:
Boa noite meu amor, dorme bem e sonha com os anjos. Te amo!
Soraya agarra o celular e fecha os olhos com um sorriso.

Soraya acorda no dia seguinte no susto. Pula se sentando na cama com a respiração forte e os olhos arregalados. O que fez César acordar assustado também e se sentar junto com ela passando a mão pelas costas dela para acalma-la
—O que foi amor? Tá tudo bem? O que aconteceu?
Soraya olha para os lados e para César voltando a realidade.
—Tá, tá tudo bem, eu tô bem, tô melhor, obrigada...Acho que foi só um sonho, um pesadelo, não sei.
—Ah... mas já passou, tá tudo bem. —César diz a abraçando e Soraya se afasta se levantando e inventando uma desculpa.
—Eu vou preparar o café tá?
César concorda e se deita novamente.
Na cozinha, Soraya passa as mãos pelo cabelo nervosa, pega a caixa de cápsulas e coloca uma na cafeteira. Pega a chaleira, enche de água e coloca para esquentar no fogão. Mas esse exército todo de nada adianta pois ela continua nervosa. Olha em volta procurando o celular e se lembra que deixou no quarto e vai buscar. Entra no quarto e vê que César voltou a dormir, procura o celular no criado mudo, no chão e no seu lado da cama mas não acha.
—César, César, levanta, meu celular, você viu ele? Deixa eu procurar eu preciso dele, levanta... —Soraya fala quase empurrando o marido da cama.
Ele se levanta e ela acha o celular embaixo dele, pega com rapidez e o agarra. César volta a dormir resmungando:
—Que tanto desespero por um celular.
—Preciso ver umas coisas do trabalho. —Soraya responde e volta para a cozinha. Tira a chaleira do fogo e coloca a água na sua xícara. Pega um saquinho de chá de camomila e coloca junto. Enquanto espera esfriar entra na conversa de Julianna sua assessora é melhor amiga, começa a digitar mas apaga pensando melhor.
Entra na conversa de Simone e vê que já haviam dias mensagens:
—Bom dia Meu amor, dormiu bem? Acho que não foi tão boa pq uma boa noite é só comigo aí... Se bem que, se eu tivesse aí, você nem ia dormir. Bom tenha um bom dia.
Bloqueia o celular e toma seu chá reflexiva e de olhos fechados. César aparece na cozinha pronto para ir trabalhar, endireitando a gravata e franze a sobrancelha vendo a pose de soraya. Pega uma xícara com café na cafeteira, pão no armário e manteiga. Se senta na frente de soraya que abre os olhos com os barulhos que ele fazia.
—O que é isso que você tá fazendo?
—Eu estou serenando meu espírito para pensar melhor nas coisas que eu preciso pensar.
—Hm, tá bom, e tá tomando chá? No café da manhã? Você raramente toma chá, quer dizer, só quando está no seu "momento sabático".
—É o que estou tentando fazer se você pudesse fazer menos barulho para comer. E o chá, sei lá me deu vontade ué.
—Hm tá bom então. Você quer aproveitar a carona e sair comigo para o trabalho? Tô indo agora.
—vou sim, me da um minuto para eu me arrumar. —Soraya responde depois de pensar, e vai para o quarto.
—Um minuto? Tá bom... É no mínimo uns 25 minutos. —César responde rindo e tomando um gole do café.
20 minutos depois Soraya aparece na sala pronta: vestia um macaquinho rosa e uma sandália branca de strass. César a esperava mexendo no celular sentado na sala e se levanta a beijando antes de sair do apartamento. Pegam o elevador junto com mais alguns senadores que se cumprimentam, e por fim chegam no carro. O trajeto foi rápido até o congresso, estacionou e saíram juntos. Cesar pegou as mãos de Soraya enquanto andavam e Soraya deu um sorriso sem graça. Cumprimentavam todos pelo caminho e se despediram na entrada.
—Bom trabalho amor, da seu melhor hoje! Te amo. —Cesar diz dando um beijo na testa
—Obrigada, bom trabalho para você também... amor...eu também...te amo... —Soraya responde com um sorriso sem graça e cada um vai para um lado.
Soraya corre para o gabinete de Simone aproveitando que não tinha muita gente pelos corredores.
—Bom dia, a Simone está por aqui? Acho que não né? —Soraya pergunta a recepcionista
—Bom dia, não senhora, não sei se ela vem hoje, quer deixar recado?
—Não, não precisa, obrigada!
Sai desanimada e vai para seu gabinete. Entra direto para sua sala, e já que estava ali sozinha, aproveita para trabalhar. Fica por umas 3 horas trabalhando focada e depois sai com sua assessora para resolver umas coisas que estavam pendentes. 10 minutos depois de ter saído, Simone aparece no gabinete dela:
—Oi, bom dia. A senadora Soraya está?
—Ah é você de novo procurando pela Soraya...—Julianna estava sozinha no gabinete e resmunga quando vê Simone. —Não, ela não está. Acabou de sair para resolver umas coisas.
—Obrigada.
—A Soraya é casada, e essa historinha de vocês não vai dar certo, você ficar atrás da Soraya só vai deixar ela confusa e sem saber o que fazer, e no fim vai acabar machucada. Então faz um favor para ela e não procura mais ela. Se você realmente se importa com ela deixa ela viver em paz com o marido dela, eles eram felizes juntos, nunca vi a Soraya reclamar de nada até você voltar. Então, pra que estragar um casamento de anos por uma histórinha de adolescência?
—Olha só, eu só vim procurar a Soraya porque ela é minha colega de estado aqui no senado, nós trabalhamos juntas. O que aconteceu ou acontece entre mim e Soraya não é da sua conta, não interessa se você é assessora ou amiga dela, mas aqui você está para trabalhar e não cuidar da vida pessoal, e eu não te dei liberdade nenhuma para falar sobre minha vida pessoal. Eu me importo muito com a Soraya, e nunca faria nada para machuca-la. E eu sei que ela é casada, eu também sou, mas mais uma vez, não te devo informações sobre minha vida privada. —Simone responde e sai, mas volta alguns segundos depois —Ah, e a propósito, não fui eu que vim procurar a Soraya, ELA que foi me procurar mais cedo... Tenha um bom dia. —Simone pisca para a mulher e sai.
Soraya voltando para seu gabinete quando Leila e Eli a para no caminho:
—Sory, não sabia que vinha hoje, não veio nos últimos dias... Vem almoçar com a gente.
—Ah, eu aceito.
Vão para o refeitório, se servem e sentam juntas.
—Não vi a Simone hoje, você viu Soraya? —Eli comenta
—Não, eu achei até que ela estava com vocês para almoçar.
—Engraçado, eu achei que ela estava com você...porque vocês estão tão próximas ultimamente né... —Leila comenta a provocando com humor e Eliziane pela primeira vez saca o comentário proposital de Leila e da uma cotovelada na amiga. Soraya apenas ri sem graça e voltam a comer em silêncio, apenas comentando uma coisa ou outra de vez em quando.
—Eu preciso ir agora, ótimo almoço... e ótimo papo —Soraya diz e refere a última parte a Leila em tom de humor também e essa o capta.
—Porque você disse aquilo na frente da Soraya? Se ela descobre desse jeito que a gente já sabe de tudo.
—Ah Eli, eu só tava brincando com a cabeça dela. —Leila solta um riso e leva mais uma garfada de comida a boca.
—Oi meninas, tudo bem? Posso me sentar com vocês para almoçar?
—Simone!! Que coincidência, estávamos almoçando com a Soraya agora acredita? Até estávamos falando de você mas ninguém sabia onde você estava. —Eliziane fala
—Senta aí. Por pouco não encontra a Soraya no caminho. —Leila diz
—É, eu passei no gabinete dela para chama-la pra almoçar mas ela não estava. Eu tive que resolver uns problemas na comissão.
—Mas eai, nos conta, você não está vindo muito nos últimos dias né? Já emendou com o recesso?
—É, não estou tendo muita coisa para fazer e tô aproveitando o tempo livre porque depois volta com tudo.
—A Soraya também não está vindo... será que também está com a agenda vazia? —Leila a provoca com humor do mesmo jeito que fez com Soraya, porém Simone entendia rápido as entrelinhas.
—Aí você pergunta para ela porque eu não sei.
—É que vocês estão tão próximas ultimamente que eu achei que soubesse. —Leila rebate
—Pois é, mas eu não sei. —Simone joga de volta no mesmo tom de Leila, que se da por satisfeita.
Soraya entra em seu gabinete correndo:
—Bom dia senadora, tudo bem? Hoje...
—Shh, depois você me fala Cecília...Julianna pode vim aqui na minha sala um minutinho? —Soraya chega correndo até sua sala e interrompe uma de suas colegas de trabalho. Julianna entra na sala e Soraya fecha a porta.
—Aconteceu alguma coisa?
—Eu não sinto mais atração pelo...meu marido.
—Certo, como assim? Me conta direito isso.
—É simples! Ele chegou ontem aqui em Brasília e eu não sinto a menor vontade de querer ficar com ele, passar tempo com ele, beijar, transar...
—Gente, mas isso é possivel?
—Possível é né Ju? Se não eu nao estaria passando por isso! Eu preciso do seu conselho, você é minha melhor amiga há anos, sabe tudo sobre minha vida. Você acha que eu devo me separar? Não quero tomar a decisão errada ou por impulso e me arrepender, mas também não quero machucar o César e continuar mentindo para ele, não é justo!
—Calma, vamos com calma! Você simplesmente parou de sentir tudo isso do nada? Ou alguma coisa aconteceu? Ou tem alguém?
—...
—Soraya, esse silêncio... aí meu Deus, Soraya!
—Não foi minha culpa, eu não mando nos meus sentimentos!
—Então você te gostando de outra pessoa? Rolou traição?
—...
—SORAYA!
—EU NÃO ME ORGULHO DISSO JULIANNA! Eu não sei explicar, só aconteceu, eu sinto a necessidade de estar com ela a todo momento, quero ver ela, falar com ela, estar perto dela...
—Espera... Ela?... você tá falando da...?
—...?
—...?
—Quem criatura?
—...me perdoe a intromissão, mas eu andei reparando umas coisas em uma certa senadora daqui... É a Simone não é?
—Aí meu Deus, como que você sabe? Você reparou? Está tão visível assim??? —Soraya fica desesperada
—Não, calma. É que eu te conheço bastante, por isso foi fácil para mim perceber algumas coisas... Então é ela, vocês estão ficando juntas?
—As vezes sim, embora ultimamente com bastante frequência...
—Tá, mas calma, não se precipite! Terminar um casamento de anos como o seu, você precisa ter certeza de que realmente ama ela e não é só de momento, que vai passar logo. E se ela te ama verdadeiramente também. E se você só não está carente e procurando o que não tem em casa.
—Ju, eu amo ela e eu sei que ela me ama também. Isso desde a adolescência!
—É, mas houve um motivo para vocês não terem ficado juntas naquela época.
—É, o motivo é que éramos muito jovens imaturas é inexperientes... —Juliana revira o olho e Soraya se senta mais perto dela segurando as mãos dela —Ju, se esse amor sobreviveu durante tanto tempo mesmo com a distância e a incerteza de nos reencontrarmos um dia, tem prova maior de que esse amor é verdadeiro? E eu não tô procurando o que não tenho em casa não. Eu sei que você foi minha madrinha de casamento, gosta muito do César e neo entende o que eu estou falando, pode parecer que eu estou tentando me justificar ou uma obsessão momentânea. Mas eu fui muito feliz com o César, sou muito grata por tudo o que vivemos juntos, pela nossa família, ele é meu melhor amigo, mas não é o amor da minha vida. E se eu tenho a chance de ficar com o verdadeiro amor da minha vida, porque eu vou desperdiçar?
—Soraya, você é minha melhor amiga e eu vou estar com você para tudo! Eu realmente não entendo e confesso que não sei se estou muito de acordo, mas se você está feliz é isso que importa! Eu te apoio e tô aqui pro que precisar.
—Obrigada! Ai tava me matando guardar esse segredo só para mim.
—Eu achei linda a história de vocês! E me emocionei nessa última parte, me conta mais, como é um relacionamento com mulher?
—Ah, é um relacionamento normal ué...
—Mas e o sexo? É bom?
—MARAVILHOSO! O melhor sexo que eu já fiz na vida... não que eu já tenha transado muito. Mas o sexo com a simone... me faz sentir coisas que eu nem sabia que eram possíveis de tão bom.
—Me conta mais.
As duas ficaram batendo papo por mais meia hora.

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