Você faz bem a ela

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Caminhando pelos corredores até a saída, com a cabeça longe da realidade, enquanto mexia no celular. Simone encontra sua assessora que a chama, mas passa direto por ela. Percebe que alguém a chamava e diz:
—Me mostra depois, agora preciso cuidar de uma coisa.
Sai pegando sua chave do carro na bolsa, no caminho para o carro ignora alguns colegas de trabalho que a cumprimentavam no estacionamento,  não de propósito, mas porque sua cabeça estava muito distante. Entra em seu carro, coloca a bolsa no banco ao lado e sai com o carro numa velocidade um pouco mais alta do que costumava dirigir.
Em poucos minutos chega na delegacia, pega sua bolsa e sai caminhando com pressa até o local.
—Bom dia, o que procura? —a atendente pergunta assim que a vê entrar.
—Bom dia, eu estou procurando a minha...amiga, ela está em uma reunião do caso da bomba no aeroporto. —Simone diz se aproximando do balcão.
—Ah sim, a reunião está acontecendo agora no final do corredor. Tem uma sala de espera bem ao lado da sala da reunião. —A moça diz apontando para o corredor ao lado, e Simone agradece seguindo na direção indicada. Chega ao final do corredor e consegue ver pelas janelas de vidro: a sala estava cheia de homens de terno sentados, e três policiais, dois colhendo depoimentos e um falando alguma coisa ao resto. Soraya estava sentada bem na frente com as pernas cruzadas e os braços apoiados na perna. Simone notou que ela estava com os punhos cerrados, cravando as unhas da mão na própria mão. Conhecendo bem Soraya, sabia que aquele era uma mania sua para controlar a ansiedade e nervosismo. Sem pensar duas vezes, Simone abriu a porta e entrou, fazendo todos a olharem, inclusive Soraya que foi até ela imediatamente a abraçando forte. Simone desceu as mãos dos cabelos às costas dela.
—Me tira daqui, me leva para qualquer outro lugar. —Soraya pediu olhando para Simone, que reparou que os olhos dela estavam cheios de lágrimas. Pegou a mala que estava perto da cadeira que Soraya estava e se viraram para sair quando um policial as parou:
—Não podem sair agora, e você deveria aguardar na sala de esperas. —refere a última parte a simone.
Simone ia falar algo, mas Soraya a interrompe:
—Sr. policial, eu estou aqui desde cedo, já preenchi os formulários, já dei meu depoimento e estou muito cansada e com muito trabalho para fazer, não posso ficar o dia todo aqui.
—Tudo bem, pode ir. Qualquer coisa peço para entrarem em contato com você no número que deixou no formulário. —o policial cede e as duas mulheres saem da sala.
Julianna, que estava sentada atrás de Soraya, observa toda a situação: o jeito como Soraya correu para Simone assim que a viu, o abraço, os olhares, as duas saindo juntas...
No carro, antes de entrar Soraya abraça Simone forte novamente e deixa algumas lágrimas caírem em silêncio. Simone a conforta passando as mãos pelas costas dela. Se separam do abraço e Soraya entra no carro, Simone dá a volta e entra também.
—Quer falar sobre o que aconteceu? —Simone pergunta assim que entra e Soraya já começa a falar.
—Eu senti muito medo Simone. Ele estava sentado atrás de mim, ele me olhou nos olhos e sorriu para mim, e eu sorri de volta. Se a polícia não pega ele e o avião tivesse decolado, eu...
—O importante é que a polícia chegou a tempo e deu tudo certo. —Simone sorri tentando confortá-lá.
—O avião estava quase decolando Simone, questão de minutos, talvez segundos...E eu ouvi ele falando: "que se foda esse avião cheio de políticos, menos desgraçados no mundo."
—Tá tudo bem agora, tudo isso já passou, você está segura agora. —Simone diz segurando as mãos de Soraya, que a olha
—Como sabia que eu estava aqui?
—Eu estava te esperando no senado, mas você não apareceu. Então a Leila tinha ido tomar um café e soube que você e mais alguns senadores estavam num avião de risco. Não foi difícil para mim achar para onde iam levar as testemunhas e vim assim que soube.
—Obrigada por ter vindo rápido. —Soraya agradece sorrindo e Simone sorri também.
—Quer que eu te leve para o senado ou para seu apartamento? —Simone pergunta ligando o carro
—Não, não quero ir para o senado. Me leve para outro lugar, qualquer lugar longe de tudo isso, longe de políticos, parlamentares, advogados, direito, tudo isso. —Soraya pede e Simone começa a dirigir com o rádio tocando bem baixinho.
Dali a poucos minutos, chegaram em um prédio parecido com o de Soraya. Simone estacionou e subiram para o apartamento. 
—Esse apartamento é seu? —Soraya pergunta olhando em volta enquanto entrava
—Sim, seja bem vinda a minha residência.
—Caramba, é bem maior que o meu! É lindo, parece muito aconchegante e bem chique.
—Obrigada, pode ficar à vontade, minha casa é sua casa. Você precisa relaxar um pouco. Pode deitar lá na minha cama para descansar.
—Você deita comigo? —Soraya pede fazendo bico e Simone ri
—Tá bem, mas é para dormir hein?
As duas tiram os sapatos e se deitam na cama. Simone liga a tv e coloca em um canal de filme qualquer com o volume bem baixinho, só para não ficar completo escuro no quarto. Soraya vai para perto de Simone que estava com o braço esticado, Simone faz cafuné na cabeça de Soraya, que vai fechando os olhos aos poucos e pega no sono. Simone também dorme, abraçada com Soraya.
Soraya acorda duas horas depois e percebe que Simone ainda estava dormindo, então não se mexe para não acordá-lá. Fica observando ela dormir pensando em toda aquela situação e em seu casamento: pensou como seria largar César e viver todos os dias com Simone. Estava tão focada em seus pensamentos que nem percebe Simone acordando.
—Já acordou? —Simone pergunta
—Já sim, acordei morrendo de fome. Não como nada desde cedinho que tomei café da manhã lá em casa ainda. —Soraya responde com a mão na barriga
—O que quer comer? Vamos a uma lanchonete aqui perto? Tem uma ótima. —Simone sugere
—Sim. Acho que vou querer um hambúrguer. Vamos logo porque eu tô morrendo de fome. —Soraya diz se levantando e indo se arrumar em frente ao espelho.
Simone se levanta e se arruma também. Puxa a cintura de Soraya a fazendo ficar bem perto de seu rosto e diz:
—Eu te amo Yaya!
—Eu também te amo Simone Tebet. —Soraya responde sorrindo e Simone a beija.
—...E pensar que eu iria chegar mais cedo hoje para a gente se encontrar no meu gabinete antes de todo mundo chegar. —Soraya diz
—Vai estar me devendo esse encontro. —Simone brinca fazendo Soraya rir
—Você viu a mensagem? —Soraya pergunta
—Que mensagem?
—Que eu enviei hoje de manhã com esse encontro.
—Não chegou nada.
—O que? —Soraya pega o celular e percebe que a mensagem ficou no rascunho, não tinha apertado em enviar. —Droga, eu devo ter me distraído e esquecido de enviar.  —Soraya vira a tela mostrando que a mensagem ficou no rascunho e Simone ri.
—Tudo bem, mas eu vou te cobrar esse encontro hein?
As duas saem do apartamento indo para o carro e vão para a lanchonete.
Chegam e pegam uma mesa ao ar livre. A garçonete vem atendê-las e Simone diz:
—Eu vou querer um X-burguer e um suco de laranja. E você?
—Eu quero um X-tudo com suco de laranja também. —Soraya responde
—Vamos pedir a batata frita para dois com cheddar e bacon? —Simone pergunta para Soraya que confirma e a garçonete sai para preparar o pedido.
As duas tem uma conversa bem leve e descontraída até os lanches chegarem, e começam a comer.
—Obrigada por ter passado o dia comigo hoje. Eu fui dispensada, mas você tinha trabalho para fazer no senado hoje, e ficou aqui comigo. Me ajudou a relaxar e descontrair um pouco. Obrigada. —Soraya agradece
—Imagina, eu não ia conseguir trabalhar sem ver você ou deixar você naquela situação. Pode contar comigo para o que precisar, qualquer coisa, a qualquer hora do dia. Sempre. —Simone diz e Soraya sorri
—Você sabe que você também pode né? —Soraya diz
—Posso mesmo? —Simone pergunta
—Não sei porque ainda pergunta, não tá claro não? —Soraya diz e Simone ri. Ia dizer alguma coisa, mas foi interrompida quando um homem se aproxima da mesa delas. Elas olham para o homem e Soraya se assusta levantando da cadeira
—César? O que está fazendo aqui?
—Eu soube do que aconteceu e vim correndo para ver se você estava bem. Te procurei na delegacia mas disseram que você tinha saído. Fui ao seu gabinete, e a sua assessora me disse que você tinha saído com uma amiga. Então eu estava preocupado sem saber onde você estava e rastreei seu telefone. Por que não me ligou Soraya?
—Ah, eu não queria te preocupar, você lá em Mato Grosso do Sul, como iria me ajudar? Então eu não quis preocupar...
—Não iria me atrapalhar em nada, eu viria para cá no primeiro avião que tivesse, e é claro que eu vou ficar preocupado! —César diz bravo
—É...eu vou voltar a trabalhar, com licença. —Simone que tinha ficado quieta apenas olhando e escutando os dois conversarem, se levanta pegando sua bolsa para sair. Cumprimenta César que estende a mão para cumprimentá-la.
—Tudo bom? desculpe, é que eu estava preocupado com...
—Não, tudo bem, eu entendo. Eu já vou indo para vocês conversarem à vontade. —Simone responde saindo.
—Simone, não precisa ir... —Soraya pede
—Seu marido chegou Soraya, você não precisa mais de mim. —Simone sorri e se vira continuando a andar.
Soraya fica olhando ela andar, e César chama sua atenção quando diz:
—Ela é aquela que foi em casa aquele dia né? Ficou com você hoje? Uma boa amiga...—Quando percebe que Soraya o olhava continua —Por que não me avisou Soraya?
—Ah, eu tô cansada. Tive um dia muito difícil hoje e não tenho que ficar ouvindo sermão. Me leva para meu apartamento. —Soraya sai com os braços cruzados e cara fechada.
César paga a conta e vai atrás dela. Entram no carro que César alugou e vão para o apartamento dela.
Entrando no apartamento, Soraya indo direto para o quarto é parada por César:
—Eu sei que você teve um dia difícil é que não quer ouvir sermão, só que vai ouvir! Essa situação é grave e eu TINHA o direito de você me contar.
—Aí que saco, César!
—EU SOU SEU MARIDO SORAYA! Eu preciso saber  dessas situações, você não vai me preocupar porque eu já vou estar preocupado. Pelo contrário, você me avisando eu ficarei tranquilo.
—Essa situação toda é muito complicada César. Um cara que soube que o avião estava cheio de políticos disse que o avião poderia explodir que seria melhor para o mundo! Essas pessoas nos ameaçam só por sermos políticos, por isso temos que ter cuidado ao falar qualquer coisa para qualquer pessoa ou cuidar do nosso comportamento para não demonstrar que somos políticos. Por isso eu não te liguei! Porque eu preciso que você fique seguro lá no MS, ok? Você, minha família, minha filha. Aqui é perigoso. —Soraya grita segurando o choro e César se acalma e vai abraçá-la.
—É você quer continuar nessa carreira política?
—Você sabe que sim. É o que eu amo! —Soraya diz enxugando as lágrimas que escorreram
—Eu sei, e você sabe que eu te apoio no que você quiser fazer. Mas isso é tão perigoso, não quero ter medo se você vai ficar bem.
—Eu não vou sair César.
—Tá, tudo bem. Mas me promete que vai me avisar por mensagem de qualquer coisa que acontecer para eu ficar mais tranquilo?
—Tudo bem, eu te aviso. Mas você tem que ficar no MS, promete? —Soraya responde
—Tá, eu prometo. —César sorri e a abraça, Soraya o abraça também e fica pensativa com a cabeça apoiada no ombro de César.

Simone de volta ao senado, passa pelo salão onde acontecem as sessões e observa do andar de cima, o final da reunião de alguma comissão que estava tendo, quando é interrompida:
—Gostei do jeito que ajudou a Soraya hoje, ela estava tão nervosa que eu não consegui acalmá-la. Ai você chegou e, ela ficou melhor só de ver você... Devem ser muito amigas.
Simone olha para o lado e vê Julianna apoiada na grade olhando para a sessão lá em baixo.
—É, nós somos amigas há muito tempo. —Simone responde
—Desde a faculdade né? Soraya falou.
—É, nos conhecemos na faculdade. —Simone respondeu com um sorriso.
—Era professora dela né? Achei muito linda a relação de vocês desde essa época quando Soraya falou. —Simone a olha disfarçando a desconfiança e Julianna a olha diretamente pela primeira vez naquela conversa, e continua —...relação de amizade, que eu digo.
Simone fica a olhando, dessa vez sem disfarçar.
—Se vem que a outra relação também deve ser boa, porque da pra ver o quanto a Soraya fica feliz. —Julianna continua e Simone vira o corpo para ela dizendo:
—Não sei aonde quer chegar.
—Não estou em posição de dar opinião ou julgar ninguém aqui, muito menos a vida da minha chefe, e não vou fazer isso principalmente porque além de minha chefe, Soraya é minha amiga, e eu vejo o quanto ela fica feliz quando você está por perto. Conheço ela há muitos anos e nunca vi ela tão feliz quanto nos últimos meses desde que te reencontrou, e eu acho isso ótimo. Mas a sua volta e essa relação está deixando ela muito confusa, tanto que veio me perguntar sobre o casamento dela para mim. Ela não quer ficar enganando o César, porque é uma boa pessoa e não consegue mentir, mas ela está muito confusa e com medo de tomar a decisão errada. Eu sou madrinha de casamento dela e já fui há muitos almoços e churrascos em família na casa dela, por isso conheço o César e sei que ele é um bom homem e ama muito ela. Por isso não posso deixar que ela o engane e continue com isso. Um casamento é uma coisa séria, e ela precisa se decidir, se não com essa demora, vai acabar machucando a si mesma, o César e você também.
—E qual a dúvida? —Simone pergunta
—Você deve ter marido também né? Não sei como é o casamento de vocês, mas se coloca no lugar da Soraya: César foi o primeiro e único cara que ela amou na vida dela inteira... depois de você. Mas você foi embora e ela não sabia se iria encontrar alguém, até que conheceu César. Eu estava lá quando eles se conheceram. Eles começaram a conversar, ela relutava em ir para um próximo passo com ele porque parecia esperar alguem, e hoje eu sei que é você quem ela esperava. Então César insistiu, insistiu e ela cedeu. Se casaram, ele esteve com ela durante o período da depressão, cuidou dela, tiveram uma filha, criaram e ela cresceu. E agora depois de tudo isso você volta, e ela fica se perguntando se fez a coisa certa em ficar com o César, se não devia ter ido atrás de você, ou esperado mais um tempo... Eu não julgo, ela está tentando descobrir o que quer para a vida dela. Por isso estou aceitando esse período de "pulada de cerca" com você, mas isso não pode se estender por muito tempo.
—Eu não quero estragar o casamento de ninguém. E eu não vou magoar ela. —Simone diz
—Eu sei que não vai, vejo isso em você, só precisava confirmar o tipo de pessoa que você é... e conversar com voce. —sorri —Boa tarde senadora. —Julianna se vira e sai, deixando Simone sozinha com seus pensamentos.

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