18. Dangerous?

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O almoço foi o que eu chamaria de completo fiasco

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O almoço foi o que eu chamaria de completo fiasco. Ninguém tinha clima para conversar, o ambiente estava definitivamente pesado e desconcertante.

Tudo que se podia ouvir era o barulho dos talheres batendo contra as louças. Noah que estava ao meu lado, não levantou a cabeça em momento algum, e talvez fosse melhor assim, tenho certeza de que se levantasse; seria para encarar Jake, sentado na cadeira a sua frente. Ele deve ter feito de propósito, com tantas cadeiras vazias, ele não precisava se sentar de frente para Noah.

- Então Sina, com o que você trabalha exatamente? - Sra. Urrea pergunta quebrando o silêncio.

Eu sei que o silêncio estava prevalecendo à algum tempo, e já estava ficando desconfortável; mas ela precisava puxar assunto justo comigo? A propósito, Wendy parece aquelas mães de séries, aquelas que investigam a vida das pessoas desde que nasceram antes de perguntar algo. Nesse caso, não seria prudente mentir. Vai que depois ela me acusa de algum crime ou algo do tipo.

Nossa, quanto drama.

- Eu trabalho em um café no centro.

- Ah, sim.

- Você faz o que lá? - Ashley indagou repentinamente.

- Eu sou garçonete.

- Garçonete!? - repetiu mais para si mesma.

Afinal, o que ela esperava que eu dissesse? Que era dona do lugar? Ela pareceu não acreditar na minha resposta, tanto que abaixou a cabeça e voltou a ficar em silêncio. Essa não é a parte em que ela zomba de mim por ser pobre e trabalhar de garçonete? Essas pessoas são indecifráveis para mim, tanto que eu já nem tento mais entender o que passa na cabeça delas.

Após o término do almoço, todos se levantaram sem delongas da mesa. Errados não estavam, eu mesma não permaneceria mais dois minutos lá. Fiquei um pouco triste pela Sra. Urrea, o almoço dela não saiu como o planejado. Não sei se por culpa daqueles dois, ou se a família dela que está acostumada a esse ambiente tóxico. Ela não merecia isso.

- Vem. - Noah interrompeu meus pensamentos me puxando para fora dali.

Sem soltar a minha mão em momento algum, ele me levou pelas escadas e corredores, e parando em frente a uma porta. Suponho ser o quarto dele ou sei lá. O moreno não hesitou em abrir a porta e me arrastar cômodo a dentro. Era de certa forma, desconfortável, diria até estranho. Essa era a primeira vez que eu entraria em um ambiente habitado por ele; além da sala e da cozinha é claro.

Noah conhece todos os cômodos da minha casa, até na minha cama ele já dormiu. Mas para mim seria algo novo, essa era a minha vez de conhecer a intimidade ele, e isso me deixou animada. Não que fosse grande coisa. Era apenas o quarto de um garoto, com uma cama, um closet - meio bagunçado -, e uma tv; uma enorme tv.

Ele me largou no meio do quarto e andou até a cama, se jogando sobre a mesma. Soltou um suspiro pesado enquanto fitava o teto do quarto. Acho que esse dia está sendo tão difícil para ele, quanto está sendo para a Sra. Urrea. Segurei as mãos atrás do corpo e caminhei alheio pelo quarto, observando o território dele. Era engraçado, eu esperava algo mais demonstrativo vindo do Noah.

Sorri ladino ao imaginar ele tentando arrumar o quarto as pressas antes de ir me buscar. Não seria anormal vindo dele.

- Por que me trouxe aqui? Vai me assediar de novo? - ironizei parando em frente a grande tv.

- Engraçadinha. - resmungou sem relação.

- Você bem que poderia ter me largado lá fora, mas não o fez... Por quê? - questionei contemplando meu pouco reflexo refletindo na tela escura da televisão.

- Te deixar lá fora? Tá louca?

- Não acho que seja tão perigoso quanto estar a sós com você. - o provoquei me virando para observá-lo.

- Perigoso? eu? - sentou-se na cama me encarando fixamente. - Você tem noção do que está falando?

- Tenho. - retruquei com convicção tombando levemente a cabeça para o lado.

- Tá, então... De todas as chances que eu tive de tentar algo, você acha que escolheria essa? Dentro da minha casa?

- Nunca se sabe o que passa na cabeça de um pervertido. - balancei a cabeça em negação fingindo decepção.

- Você é inacreditável. - sorriu a contragosto se levantando. - Você realmente me vê assim? - perguntou apoiando as mãos na mobília que sustenta a televisão, me prendendo; novamente.

- Eu nunca sei ao certo o que pensar de você, Noah Urrea.

De alguma forma esse tipo de coisa não me assustava mais. Apesar de estar mantendo a postura impassível por fora, meu interior se revirava a cada centímetro que ele descartava, aproximando-se relativamente do meu rosto. Eu poderia dizer que sentia a respiração dele batendo contra a minha, mas seria obsceno. A minha intenção era tirá-lo da fossa em que se encontrava pouco tempo atrás, o Noah desgastado e ranzinza de agora a pouco, não é nem de longe, o Noah que eu conheço.

E por mais que eu tenha conhecido um Noah Urrea resmungão e egoísta no início, não é mais assim. Ele mudou eventualmente. Se mostrou uma pessoa divertida e alguém que se preocupa.

Eu prefiro o Noah chato que vem a minha casa sem ser convidado mas que acaba deixando meu dia mais leve; ou até mesmo o Noah que vai até o meu trabalho simplesmente encher meu saco. Porém acho que escolhi a maneira errada para tentar trazê-lo de volta. Talvez provocá-lo não tenha sido uma boa ideia.

Duas batidas na porta foram suficientes para tirar a atenção dele de mim. Voltou-se para a porta, indo até ela. Me deixando então respirar aliviada. Ele tem a péssima mania de me confundir. Eu nunca sei o que realmente passa pela cabeça dele, muito menos entendo suas atitudes.

O assisti abrir a porta, e dar de cara com a Ashley. Eu não sei se fico com raiva ou a agradeço. - seria estranho ter ficado desaponda de alguma forma? Eu não sei o que está acontecendo, mas acho que alguma coisa mudou, mesmo que só para mim, algo mudou...

- No, eu vim te dar tchau, já estou indo. - ela falou.

- Vocês estão indo? E por acaso aquele cara também vai embora agora?

- Jake? Acho que não.

- Por que esse idiota é tão persistente? - Noah perguntou mais para si mesmo.

- Bom, estou indo. - agarrou Noah em um abraço nitidamente desconfortável para ele.

Eu posso até dizer que não gosto da Ashley, e que ela me irrita. Mas eu não vejo maldade nela. Tudo que eu vejo é uma garota, com uma paixão platônica e incapaz de se tornar real. E eu acredito que ela sabe disso. Ela não parece má pessoa, só não sabe lidar com o ciúme que sente dele.

Será que alguém já chegou pra ela e disse algo como: "Você deveria esquece-lo, pare de criar ilusões na sua cabeça", espera; isso é algo que eu diria. Talvez alguém devesse falar com ela, antes que ela se machuque mais ainda.

- Onde estávamos? - indagou Noah arrancando-me mais uma vez dos meus pensamentos.

- Como assim "onde estávamos"?

𝗔 𝗖𝗼𝗻𝘁𝗿𝗮𝗰𝘁 | ᴺᴼᴬᴿᵀOnde histórias criam vida. Descubra agora