Entre o Mar e a Noite

Terceiro Círculo - Gula

— Lua... — Sol despertou às pressas.

Sentou ofegante sobre a cama, tirando as cobertas de cima de si. As gotas de suor desciam por seu peito nu, sua visão voltava a nitidez aos poucos. Respirou fundo para se recompor, tinha a impressão de sentir a energia da irmã, de ouvir a sua voz.

Juntou e afastou as duas mãos, com um pentagrama surgindo no chão no tom dourado, se sentou sobre ele em posição de Lótus, flutuando. De olhos fechados e concentrado naquela meditação, sua mente viajava rapidamente como se estivesse passando por dimensões, várias luzes como se estivesse em uma cena de Uma Odisseia no Espaço, porém, seu objetivo se cumpriu quando sua mente reproduzir a imagem da gêmea, desviando dos ataques do Cérbero.

— Terceiro Círculo? — Tentava entender, ela apenas usava do poder para aumentar a velocidade, como se estivesse tentando encontrar uma saída. Seu instinto foi de proteger a alma da de cabelos brancos, mas seu corpo tremeu e os olhos reviraram ao tocá-la. A imagem foi mudada para o laboratório, no qual o corpo de Lua repousava dentro do tanque, com Poseidon a observando de braços cruzados. — Ah Cara!

A verdade era absoluta quando se diziam que os gêmeos eram ligados, entre os humanos corriam boatos que irmãos gêmeos, sentiam um a dor do outro, tristeza, alegria. No entanto, eram apenas boatos.

— Sol! — Lua tocou o próprio ombro, sentiu por um momento o toque e o calor da energia do irmão.

Correu para o mais longe possível pra não ser acertada por uma patada do Cérbero. Porém o animal apesar de grande era rápido, uma patada sobre o chão foi o suficiente pro lugar tremer, e o Lago de Lama chacoalhar espirrando água suja pra todos os lados. Correu até a parte mais alta, as estátuas de pedra de onde desciam a sujeira, tinha a forma de duas pessoas com a boca aberta enquanto jorrava lama.

— As Quatro Fases da Lua. — Lua girou os braços no ar, desenhando um pentagrama luminoso. — Lua Cheia... — Fechou os olhos na tentativa de invadir a mente do cão de três cabeças. Nada aconteceu. — Tá de sacanagem?

De olhos arregalados, desviando do golpe em uma corrida veloz, um dos lados da fonte foi destruído e o impacto a empurrou, caindo no chão rolando em cambalhotas pra frente.

— Gyahh... – Sentiu as garras do animal arranhar suas costas...

Novamente a vibração tomou conta de si, mais forte e mais dolorosa, os olhos azuis reviravam, vendo novamente aquela sala subterrânea, ouvindo as vozes desesperadas das enfermeiras, o corpo de Lua no Palácio de Poseidon começava a movimentar os dedos compulsivamente, a marca de garras apareceu em suas costas e o nariz a sangrar de novo.

— De novo! — Beelzebub estava calmo até demais. — Esses espasmos estão cada vez mais frequentes, bem... Se minha teoria estiver certa, ela está no Lago de Lama enfrentando o Cérbero.

— Isso é uma perda de tempo. — Poseidon se armou com o tridente.

— Eu não diria que é uma perda de tempo. — O de cabelos negros apontou para o cristal. — O poder parece que tá tentando reencontrar sua hospedeira, talvez o Hades tenha percebido a situação e deixou ver o que acontece. — Tentava pensar. — Segundo o que dizem, o poder abandonou Lua... Agora por que ele quer retornar?

— Faz perguntas demais...

— A situação em si me deixa curioso. – O Senhor das Moscas respondeu. — Poder de Serafins tem vontade própria? Ou dependem da vontade de Metatron? — Se virou em direção a porta. — Você pode me responder, Sol?

O mesmo tinha surgido ali, seus olhos brilhavam em um dourado intenso, assim como a aura que canalizava em si.

Do outro lado estava cada vez mais difícil de esconder, precisava fazer algo rápido. Cérbero estava destruindo tudo em que pisava, Lua corria o mais rápido que podia e disparava magia que o animal devorava, ou explodia no pelo sem causar danos, aquele desgraçado era um oponente grande e pulava longe que conseguia a alcançar. Não havia portais, o granizo de água suja caindo machucava, estava frio.