Entre o Mar e a Noite

Destinos Virados

Cedo de manhã prometeu a Lua que resolveria sobre o cervo, isso se ainda estivesse lá, conhecia Poseidon pra saber que apesar de tudo, ele não espantaria o animal.

Ou o faria?

As perguntas vinham aos montes na cabeça da de cabelos brancos, aninhada ao irmão gêmeo que dormia na cama, aninhando a irmã em seus braços de forma protetora, preocupado e ao mesmo tempo solidário por vê-la em lágrimas. Embora gostasse do carinho por parte dele, não conseguia dormir.

Fechou os olhos tentando se concentrar novamente, o cristal na cômoda a frente e o de sua testa brilhava, o sangue desceu pelo nariz por conta do uso do poder. Conectada novamente ao cervo com símbolo de lua minguante na testa, o lugar familiar mesmo com a pouca iluminação vinda da janela a fora, o frescor e o som do mar deram a certeza de que estava no quarto de Poseidon. Confirmando ao ver o Tirano dos Oceanos dormindo sobre a cama, até dormindo ele fazia questão de exibir o peitoral, usando apenas uma calça de pijama. A testa do cervo brilhava se aproximando do rosto do loiro até tocar as testas.

Servindo de ponte para a ex Serafim que se deparou em meio à escuridão, olhando para todos os cantos buscando algum meio de se locomover entre ela, o cervo luminoso lhe chamou a atenção e andou na frente enquanto era seguido. A figura masculina sentada sobre a escuridão e cada vez que se aproximou reconheceu os cabelos loiros e os ombros largos.

­— Poseidon...

— Eu tinha tudo perfeito. — O Deus Grego respondeu, sem encarar a moça. — Pela primeira vez eu agi por impulso, e agora eu estou aqui... E sabe qual a pior parte disso tudo? — Poseidon suspirou. — É que por mais que cada fibra do meu corpo vibra com a vontade de apertar seu pescoço, eu não consigo fazer isso.

— Você acertou, eu estava lá na hora da briga. — Lua comentou.

– Que diferença isso faz agora?

— É que... É difícil não me sentir culpada. A Anfitrite veio me visitar na Terra. —  Ela contava com o loiro a encarando. — Me pediu uma leitura de cartas, e ela foi bem legal não revelando o meu paradeiro. — Riu baixo, mesmo desanimada. — Me deu seis moedas de ouro.

— Se contenta com tão pouco, não é perfeita.

— E você é perfeito demais. – A de cabelos brancos rebateu. ­— Está doendo?

— Não... Eu não sinto dor...

— Não é bem a esse tipo de dor que eu estava me referindo. — Lua tocou o peito do Deus com os dedos. — Mas aqui, esse é o tipo de dor que a gente sente, mas ao mesmo tempo não sente, e ficamos tão desesperados que queremos a todo custo coloca-la pra fora.

— Porque devo acreditar que não tem dedo seu influenciando a minha esposa? — O rapaz loiro perguntou a encarando. Lua observava cada feição dele pra saber que mesmo por fora ele aparentasse estar bem, por dentro estava exausto.

— Me conhece a tempo suficiente pra saber que eu jamais faria esse tipo de coisa. – A de cabelos brancos tocou o ombro dele. — Poseidon, mesmo agora sendo humana. O fardo de ser um anjo continua em mim. ­— Explicou. — Eu não posso mentir, sabe disso... Entendo que esteja com raiva, mas se a Anfitrite quis ir embora com as próprias pernas é porque ela não estava feliz, não acha?

— O que mais ela queria? – Essas informações não entrava na cabeça do Tirano dos Oceanos, tentando entender a todo custo. — Me dediquei ao máximo, sempre dei de tudo pra ela, investi tudo na nossa família...

— Se ouve falando. – Lua o interrompeu. — Refere-se a si mesmo e a quem estiver contigo como um investimento, como seria no futuro? Seus filhos seriam gerados unicamente para que no futuro se aliassem a Divindades poderosas. — A de cabelos brancos suspirou. — Não é assim que funciona, Poseidon. Nunca foi... Pensa só como ela se sentia em ouvir de Perséfone como o Hades lhe trata bem, em como se sente amada... Por acaso já ouviu isso da Anfitrite? — A pergunta fez Poseidon virar a cara. — Não, não ouviu... Por acaso já disse alguma vez a palavra "Eu Te Amo"?