Capítulo 19 - Caixas

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"As pessoas sempre decepcionam você, porque não esquece deles e faz algo por você mesma?"

Júlia.

Aquela sensação na boca do estômago, porque eu me sentia traida? Não tinhamos nada, ainda sim, não parava de doer.
Saio dali antes que eles me notem, puxo o ar várias vezes.
– Não é nada demais! – Digo a mim mesma.
Eu nem se quer podia ir pra casa, fugir desse pesadelo, então aguentei firme, aula após aula até finalmente dar o horário de ir embora.
Quando saio da sala, vejo Rafael e frente a porta de sua sala, ele mexia no celular quando as pessoas começam a caminhar por ali, vejo uma garota loira se aproximar e dar a ele uma caixa de bombom e uma carta, ele era bem famoso por aqui, desde o primeiro dia foi assunto.
Crio coragem e começo a caminhar, passo por ele mas finjo que não o vejo, entro no estacionamento e antes de entrar no carro escuto vozes, não sei porque me escondo, talvez porque reconheço aquela voz.
– Então nos vemos amanhã? – A voz feminina indaga.
– Claro, estarei a sua disposição.– Rafael afirma.
– Obrigada mesmo por me ensinar Rafael, tenho medo de na próxima aula o professor fazer perguntas sobre essa doença e eu não saber nada, pior, e se ele aplicar uma prova? – Indaga.
– Vai dar tudo certo, Heloisa, amanhã eu te ajudo.– Ele diz, faço uma careta com a voz melosa da garota.
– Você é o melhor! – Diz animada.– Então até amanhã, lindo.– Conclui, escuto o barulho do salto dela se afastando, ainda sim não saio do meu esconderijo atrás do meu carro.
Vejo os pés dele andando pelos carros, o carro dele destrava e faz um barulho, eu me levanto e caminho em sua direção, queria saber que joguinho ele estava fazendo, uma hora se faz de coitado, outra diz que vai me conquistar, em seguida beija Marina e agora essa outra garota no estacionamento, fora a do corredor que lhe deu bombom, eu não gosto que tentem brincar comigo!
Ele se abaixa mexendo em algo no porta mala do carro, chego por trás, paro a três passos e meus olhos capturam as coisas nas quais ele mexia.

– As caixas que estavam na padaria do pai do Luan.– Afirmo, ele se assusta e se vira na mesma hora, quando me vê fica pálido.– Porque essas caixas estão aqui? Quando você as pegou? E porque não me disse nada delas? Nem se quer me deixou ver.– Indago.
– Nem eu as vi ainda, é uma longa história.– Diz.
– Então eu vejo agora.– Dou um passo em sua direção mas ele é mais rápido e fecha o porta mala, várias questões passam na minha mente naquele  momento.
– Está escondendo alguma coisa.– Acuso.
– Não estou, eu só quero dar uma olhada primeiro, sozinho, afinal, pertenciam ao pai do Luan, vão estar cheias de emoções e memórias, assim que eu terminar eu te aviso.– Diz.
Por algum motivo, não consigo acreditar nele, algo me dizia que ele sabia o qie estava ali, o jeito de querer me afastar, o modo como estava pálido e nervoso.
– Eu estou cansada disso.– Confesso, toda essa maluquice.– Fique com as caixas, eu estou desistindo.– Concluo, deixo ele ali e volto a andar na direção do meu carro, estava lavando as mãos.
– O que você quer dizer com "estou desistindo" ? – Ele pergunta me impedindo de entrar no meu carro.
– O passado, Laura e Luan, esses sonhos terríveis de morte e lembranças que não são minhas, você e seu rosto idêntico ao do passado, essas caixas, algo que você está escondendo e ainda tem você e a Marina, você e a garota do chocolate no corredor, você e a garota que vai ensinar amanhã  e seus joguinhos pra me confundir e achar que você gosta de mim quando eu fui só mais uma na sua lista, eu estou..cansada pra caralho.– Confesso.
– Se me deixar explicar..– Ele diz.
– O quê? Vai me dizer mais mentiras? Vai continuar tentado me fazer acreditar que você não sabe o conteúdo dessas caixas quando eu sei que você sabe, não me trate como imbecil Rafael e não tente me enganar mais.– Digo, puxo a porta do meu carro pronta para entrar.
– Eu estou te poupando, acredita em mim, é melhor não saber o que está nas caixas.– Ele diz.

Why don't you stay?Onde histórias criam vida. Descubra agora