quando estou do seu lado

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Pov. Regina Mills.

E aqui estou eu, em uma noite de quinta-feira qualquer, em casa, pensando sobre tudo mas não chegando a uma conclusão. É estranho saber que Emma me procura e depois some. Depois do café da manhã no domingo, não me mandou mais mensagem. Já se foi quase uma semana. Não que eu pense que é obrigatório o contato, nós não temos absolutamente nada, mas é que às vezes o meu coração reage a ela. Na verdade, eu nem sei as razões pelas quais estou refletindo sobre os fatos irrelevantes e os inesquecíveis. Nenhum dos dois são passíveis de soluções, nem no caso mais drástico. Não é preciso sofrer, sentir ou questionar. Pegue um copo de água com açúcar, um limão galego, jogue a água fora, pegue cachaça e faça a melhor caipirinha já produzida em todo o universo. É uma bebida saborosa, mata a ansiedade, dá calor e não a um porém. Divirta-se, meu caro. Sim, eu fiz exatamente isso. Me poupou alguns estresses. Não me julgue, brinde comigo, só não me pergunte a que. Eu acabo rindo desses pensamentos idiotas. Às vezes me sinto um pouco doida, sei lá. 

Vossa mercê me ignora de vez em quando, não? Eu sei, eu sinto e também faço isso. É o melhor para todos, meu caro. Dialogar sozinha, bêbada ou sóbria dá no mesmo. Não chame de solidão, ela não existe. Prefiro dizer que estamos num processo de autoconhecimento. Eu me apresento, me descubro e me esqueço na mesma página. Formalmente, me desculpo, e fica ao seu critério rir da minha pessoa. Quando eu estou assim, com um copo em mãos, sinto como se a felicidade se apresentasse para mim, com toda a sua plenitude, sem mais. Um, dois, três, beba. Ótimo. Eu viro a bebida de uma vez. É fascinante. 

Outro dia eu li um livro e me revoltei, ah meu caro, a vida não é assim, a dor não é bela para romantizá-la, os amores se vão e não voltam, um coração partido nunca mais se recompõe e não existe um depois, somos constantes mas ao mesmo tempo somos um passado. Marcas, superações e alguns esforços inúteis. Óbvio que tu concorda comigo, de alguma maneira, temos histórias parecidas. Alguém partiu o seu coração e nunca mais foi a mesma coisa. O que eu posso nos dizer? Beba, beba, beba. O álcool deveria ser sinônimo de cura. 

A dor é um fenômeno engraçado. Não é eterna, mas nunca some. Ela vive em cada verso, em casa música, em cada livro de um escritor fodido e frustrado. Quando eu insisto em dar uma olhada nos romances, sinto ânsia. Uma boa solução para tudo seria não amar. Sim, hoje é um daqueles dias em que me sinto terrivelmente devastada. Mas o que isso importa, não? O melhor é preparar mais uma caipirinha – e é o que eu faço, depois de tomá-la, decido me servir com uma dose de Jack Daniel's. Dizem que não é saudável misturar bebidas. O amor também não é saudável e ninguém enche a porra do saco. 

Não, não aconteceu nada que tenha relevância. É confuso aqui dentro, meu caro. Eu juro que preferia ser mais interessante, menos esquisita, menos louca, mas faz parte. Eu acabo rindo disso e de muitas outras coisas. É a vida sem grandes feitos. Tem horas que sinto um vazio desconhecido. Em outro momento, não me importo com nada. Bloqueio lembranças desnecessárias sobre a minha infância, mas não consigo bloquear os meus olhos da emoção e muito menos o meu peito do aperto. Droga. Acho que devemos mudar de assunto ou virar mais uma dose de whisky. 

A porta sendo aberta, a luz da sala sendo acesa e ela balançando a cabeça negativamente, como se não gostasse de me ver bebendo novamente, ou melhor, demonstrando que se preocupa com o meu estado. Hoje é uma noite fria. Ruby está vestindo uma blusa com touca na cor cinza, um moletom e um tênis. Simplesmente bela, em todas as suas essências. Não, eu não liguei para ela vir me fazer companhia, então digamos que isso seja coisa do destino. Involuntariamente, eu sorri. 

Ruby se aproximou, tirou o copo da minha mão e o colocou sobre a pia, depois, ela me abraçou. A minha amiga tem o poder de me fazer se sentir em paz, estranhamente em paz. Eu gosto de estar nos seus braços. É quente, aconchegante e o meu lar. Eu poderia morar aqui, não literalmente, enfim, tu entendeu. Ah meu caro, coração não é tão simples quanto pensa. 

- Eu não gosto de te ver assim. - Ela comentou enquanto nos conduziu para a sala. Nós nos deitamos no sofá, eu me aconcheguei em seu peito e fechei os meus olhos. - Tem dias que o seu olhar brilha um pouco menos e o seu sorriso não esconde a tristeza. 

- Como você sabe quando eu estou precisando de ti? Tipo, quando a solidão começa a me atormentar, quando a minha mente fica agitada, quando o álcool parece ser a solução, você é a pessoa que entra por aquela porta e me abraça. - eu pergunto de forma sincera e com vontade de chorar. - Eu não saberia te perder, meu amor. 

-E não vai. Eu sou tão sua, quanto tu és minha, senhorita Mills. - Ela disse docemente. - É estranho, a minha cama já estava arrumada e o meu corpo pronto para descansar, mas você não saiu dos meus pensamentos. 

-Estava com abstinência da minha pessoa. - Eu disse de maneira divertida e levei um tapa como resposta. - É muito amor envolvido, santo Deus!

Um breve silêncio.

-Mas me diga, minha rainha, o que lhe atormenta? - perguntou-me.

-Sei lá, está tudo confuso. Resumindo, problemas do passado; do presente e do futuro. Ah, não quero falar disso. São coisas insignificantes.

-Coisas que estão te sufocando, mas tudo bem, eu só quero que você saiba que sou o seu porto seguro. - Ela disse e nesse momento eu me arrumei no sofá para conseguir olhar em seus olhos. - Eu vou te amar para sempre, minha rainha.

Há tanta verdade em seus olhos. A sua respiração entrecortada me confunde e me faz acreditar que não é só comigo esses sentimentos. A maneira sutil como ela faz carinho em meu rosto, em minha boca. Tudo o que foi sentido antes ficou lá junto com a caipirinha e o whisky. 

-O que você faz comigo, meu amor? - Eu disse em relação a como ela me acalma e toda a ansiedade se finda. - Eu te amo. - A minha vontade é de beijá-la, mas droga, e se ela não gostar? Eu ainda tenho dúvidas se da outra vez foi correspondido, qual foi a reação, ou se não passou de um sonho. - Só seja minha, para todo o sempre. 

-Eu serei. - Ela sussurrou em resposta. Ruby sabe que quando estou assim a insegurança e o medo de perdê-la ficam a flor da pele e algumas coisas ficam repetitivas. Por favor, não me julguem, é tudo real, todas as minhas versões e eu não sou capaz de explicá-las. - E para de tentar me seduzir que tu está conseguindo. Se não parar eu vou ser obrigada... - A minha amiga comentou.

- A quê? 

- A lhe fazer carinho e cantar até tu dormir. - Ruby mudou o foco da conversa. Eu acabei decidindo não prolongar a situação, beijei o canto de sua boca, sorri ao vê-la fechar os olhos e suspirar. - Droga, Regina! - A minha amiga se dá por vencida, me puxa para mais perto, se é que isso é possível, e me beija. O seu toque é suave, delicado. Eu fecho os meus olhos querendo que seja eterno e que a bebida de outrora não me faça esquecer de nenhum detalhe. Ah meu caro, eu desisto de tentar me entender. O beijo foi lento e finalizado com um selinho. - Amanhã você finge demência, meu amor. - Ela brincou e eu voltei a me deitar em seu peito. - Vem cá, eu vou cantar para você.

"Quando estou do seu lado, tudo fica bem, mesmo quando nada, parece dar certo."

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora