você só sabe que a ama quando deixa ir

45 3 24
                                    

Pov. Regina Mills

Não é uma quarta-feira ruim. Não foi estressante assinar papéis, encarar reuniões com homens de negócios terrivelmente insuportáveis e agendar eventos para divulgação da empresa. Hoje, ninguém vai estragar o meu dia, não mesmo. Eu estou tranquila, sem nenhum pensamento em excesso, sem aquela euforia negativa, sem ter a necessidade de sair correndo para qualquer lugar aleatório. É estranho, mas bom. É raro essa sensação, mas é exatamente ela que eu desejo sentir para todo o sempre. Sim, nós sabemos bem que o para sempre não existe e isso é uma pena. Às vezes eu questiono o porquê das coisas serem assim... É como se estivéssemos caminhando em uma linha tênue entre a felicidade e a dor. A vida é um labirinto em que nos perdemos em coisas boas e também em coisas ruins. É complicado, porque normalmente enxergarmos apenas o nosso tombo.

Eu sei que pareço uma idiota que só fala bobagens e talvez de fato eu seja, mas não vamos nos apegar a isso. Sabe, é mais difícil vos contar como é estar bem do que ao contrário. A dor é tão intensa que grita, a felicidade transborda de outras formas. Não é preciso que acredite fielmente nas minhas palavras, só espero que não se canse de mim, que não me abandone também, apesar que já estou acostumada com idas e vindas. Ter sido uma menina órfã me fez entender que tenho a obrigação de ser forte em qualquer situação, tenho que ser como a Fênix e sempre renascer das cinzas. Sabe, de alguma maneira eu fui sortuda e a vida me retribuiu cada noite mal dormida com um bom sobrenome e uma família carinhosa. Mesmo assim, ainda existe um vazio. 

Quando olho por essa janela de vidro do meu escritório, tendo a vista da rua movimentada lá embaixo, consigo me distrair. Os carros passam, as pessoas existem mesmo que de maneira quase imperceptível, e se eu prefirir olhar para cima posso ver os pássaros preenchendo o céu não tão azul devido a poluição da cidade grande. Estar assim me fez se lembrar de um dia na minha juventude em que fui ao cinema sozinha, antes de entrar na sala eu parei para observar ao meu redor e não pude chegar a nenhuma conclusão. Digamos que isso é irrelevante, mas faz parte de uma boa lembrança. O filme era um romance clichê onde uma personagem estava entre a vida e a morte. Eu não sei o porquê estamos falando disso, mas o engraçado é que aquele foi o primeiro filme que me fez chorar e não pelas razões que fez com que as outras pessoas chorassem, pelo menos é o que eu acho. De qualquer forma, foi a primeira vez que eu me senti uma tola. Aquilo não era a realidade. Eu não costumava chorar nem pela a minha realidade.

Eu poderia ficar aqui por horas, sem perceber que o tempo está passando só para continuar revivendo momentos. Teve uma vez que Zelena, minha mãe e eu fomos ao parque de diversão. Puta que pariu, como eu odeio esse dia. A minha irmã sabia do meu medo de altura e mesmo assim fez chantagem para que fossemos na barca. O que aqueles olhos azuis brilhantes não conseguem. Eu só sei que só não morri porque o diabo não me quis. Eu poderia contar as batidas do meu coração acelerado. Recentemente, antes de toda essa bagunça, nós fomos a outro parque e foi Ruby que me convenceu a desafiar a morte novamente. Essas mulheres na minha vida só me dão trabalho. Eu posso lhe contar um segredo? Tem horas que eu me pergunto se a pessoa que me deixou naquele orfanato sente falta das aventuras que poderíamos ter vivido. Será que ela me aceitaria como eu sou? Que tolice. Ela já não me aceitou. 

Me incomoda o fato dos meus olhos estarem lacrimejando por apenas ter cogitado entender a minha origem. O melhor a se fazer é esquecer e sorrir por outras razões. Ah meu caro, eu nunca pensei que seria feliz com uma única mulher, não depois de tudo o que aconteceu. Você já deve me conhecer o bastante para saber do meu jeito sem noção e um tanto vadia. Só que o fim de semana foi esplêndido ao lado de Ruby... Na verdade, tudo ao lado dela sempre foi maravilhoso, desde a primeira vez em que nos esbarramos. Ela é um pouco atrapalhada quando está nervosa ou deprimida... Ela é espontânea em todas as suas versões. É impossível conhecê-la e não se apaixonar. Os meus pais a adoram. A minha irmã sempre me disse que era ela a pessoa certa. Acho que Zelena queria dizer: "alma gêmea". Tanto faz, os sentimentos são os mesmos. Dizem que reconhecemos a nossa cara metade na primeira troca de olhar. Talvez. Nessa parte me sinto dividida, Emma também mexe com o meu ser, a minha vaidade, o meu espírito, só tem uma diferença e vossa mercê já sabe qual é. 

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora