sorry

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"Porque eu posso mudar de ideia a cada. Eu não quis te usar. Mas eu ainda sei o dia do seu aniversário e a música favorita da sua mãe. Desculpe meu amante desconhecido, desculpe por não acreditar que alguém comece a se apaixonar por mim." 

Mais um dia cinza para a conta. Nessas horas o meu desejo era de ser artista para poder me expressar de maneira útil. Me parece belo ser poetisa, músicista ou pintora, pena que não me cabe tal talento. De certa forma eu sou uma grande admiradora da arte. Creio que não há jeito melhor de se despir. Nós somos as nossas criações. E as nossas criações são o reflexo do nosso íntimo. Qual obra teríamos caso eu soubesse desenhar? Arrisco em algo abstrato. Me fascina os traços jogados por si só, sem mais. Me encantas a tinta jogada em uma tela em branco, dizendo tudo, sem dizer nada. Uma vez, vi com a dona Eva um quadro bem conceituado com um simples ponto. Nós compramos uma réplica que fica na parede isolada do meu quarto. Ao contrário do que parece, não é um quadro tolo. Porque estamos falando disso? Porque assim que acordei, me ajeitando na cama, tentando não sentir dor, vi Emma admirando o ponto. 

Pelo visto a loira dormiu aqui, mesmo de jeans, ela resolveu ficar. Mesmo de costas, posso vos dizer sobre a sua expressão um tanto confusa. Por quê? Porque eu também fiquei no primeiro contato que tive com o quadro. Por quê alguém levaria isso para casa? Um ponto até uma criança pode fazer. Por quê alguém compraria uma tela com uma única bolinha preta pintada? Que merda de significado isso pode ter? Não ria, não me tenha como tola. Eu detesto pontos finais, entendo que eles são precisos, mas os odeio. A verdade é que o comprei quando a farsa de Soraia veio a tona. A história por de trás do quadro é sobre o rompimento de um relacionamento. Podemos acreditar também que estamos frente ao recomeço. Temos a tela toda para moldá-la a nossa maneira. Temos a vida toda para mudar as cores, os rabisco, os amores.

Voltando a falar sobre mim, em momento como este, um ateliê seria pouco. A ansiedade me consome. Eu creio que as mentes conturbadas são carregadas de uma perfeição única, sem ferir a ninguém, apenas não encontram motivos para sorrir, dizem as coisas no silêncio, se perdem em sua própria imensidão e fogem de tudo. Fugir é o ato mais corojoso que alguém pode ter. Não viver o que está escrito é rasgar a felicidade que lhe espera. Às vezes acho que não sei o que estou fazendo, muito menos o que estou pensando. O que acontece é que eu sou uma contradição, eu não faço sentido algum e nem sei o porquê ainda sigo respirando. Pessoas como eu não passam de um peso no mundo. Aí que droga! Custa ser normal, Regina Mills? Eu nem acordei e já estou perdendo o meu tempo pensando demais. O melhor é ignorar tal fato. 

Quando falo sobre ignorar, estou vos dizendo sobre a minha pessoa. Nem sempre sou um bom livro. Enfim, agora, nesse momento, prefiro seguir observando a bela mulher que ainda segue rente a obra de arte. O que será que se passa em sua cabeça? Parece que ela está ali, mas não está. Emma sempre foi uma incógnita, um mistério, um segredo. Eu nunca soube decifrá-la. É como se ela nunca tivesse se entregado por completo... Ou, só o fazia quando estávamos a sós. Eu não sei qual a sua verdade... Se é essa, um tanto mais frágil, com medo... Ou se é a outra, impotente, sem coração, que foge do que pode lhe fazer feliz. Okay, okay, não vamos exagerar, eu não seria capaz de lhe fazer feliz, nem vice e versa, não somos uma boa história. Começamos errado, terminamos mais errado ainda. 

Final. Fim. É possível colocar um ponto em algo que teoricamente não existiu? Eu e Emma nunca falamos sobre nada a mais, nós apenas transamos. Não é preciso colocar um ponto em um caso qualquer. Observá-la me faz crer que poderia não ser assim, mas foi. Em outro momento, os sentimentos poderiam vir a tona, mas não agora, não mais. Não sinto o meu coração disparar, afinal, ele estava em pedaços por sua culpa. Eu nunca imaginei que um dia iria odiá-la. Não, não me agrada querer chorar pela sua presença. É péssimo querer que ela desapareça, mas ao mesmo tempo aceitar que fique. Sinto um aperto no peito, sinto falta de Ruby, sinto-me confusa com Emma. 

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora