ay amor

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Pov. Regina Mills. 

"Não sei por onde começar, é muito difícil para mim..."

Eu posso sentir o ar um pouco mais leve... Eu venho conseguindo respirar com mais facilidade, o meu peito já não dói com tanta frequência, os meus olhos já não estão tão irritados e a minha boca não está seca. O tremor ainda é uma realidade, mas não tão presente. As noites são longas, porém, não existe mais tamanha tortura emocional. Doses de whisky foram necessárias, só que hoje, já não me parecem saborosas, por isso, antes de sair eu deixei algumas garrafas guardadas no fundo do guarda-roupa. A dor de cabeça estava sendo um problema, tentar e conseguir são duas coisas que caminham em direções opostas, então foi decidido que não era preciso esquecer os baseados. A decisão foi minha, confesso, e não contei a ninguém sobre... Na verdade, fazia tempo que eu não contava nada a ninguém do que se passava comigo.
 
Meu caro, eu tenho pensado em uma linha para traçar alguns objetivos. Entre meditações e renascimentos, passei a semana com o som ligado, procurando em meu interior motivos que poderia fazer a vida ser menos decepcionante, para quem sabe, chegar aqui, hoje, e surpreender a terapeuta. Não é tão fácil deixar uma casca para trás. Quando alguma ideia me chamava a atenção, milhões de questionamentos a colocava por terra... questionamentos - medos. É uma droga buscar razões e razões para se justificar. Eu não acho o meu início, o meu meio, quem dirá como trilhar o caminho até o fim. Eu não sei o que me mantém, já não me recordo sobre ter fé, sobre ter algo para lutar, sobre ter uma espécie de sentido na vastidão do universo. O universo é tão belo, tão perfeito, creio que há esperança em algum buraco negro perdido. 

Bom, de qualquer maneira, é preciso que a esperança também exista em mim. Eu preciso sentir o meu coração se aquecer com uma pequena ilusão do amanhecer; preciso sorrir por qualquer coisa; sentir o quão bom é a brisa matinal; ter vontade de caminhar antes das sete; correr para não chegar atrasada em um evento relacionado ao que eu gosto; tomar um capuccino com um amigo... Sei lá, eu preciso dessas coisas que parecem fazer os outros felizes. Seria gratificante se olhar no espelho e ter um reflexo não melancólico... Eu já não me recordo mais como é ter certezas, ao invés de conveniência. Não me pergunte quando foi que me tornei uma pessoa acostumada com o comum, simplesmente aconteceu. Eu vos confesso que sinto falta do que não me lembro de ter sido.

A doutora me serviu uma xícara de café. Ela disse que não teve tempo de tomar em sua casa e perguntou se eu gostava. Café é sinônimo de vida, para mim. É quente, doce, saboroso, impossível não gostar. Nesses últimos dias eu havia me esquecido de tomá-lo pela manhã. Ah, o que a dor não faz? Até as nossas paixões costumeiras ela nos tira. Não, não foi de propósito, nem porque eu me recusava a ingerir qualquer substância... Eu realmente esqueci de uma bebida essencial para a minha rotina... Até porque não tenho mais uma rotina. Enfim, a fumaça, o aroma, tudo trabalha em perfeita harmonia. Uma xícara seria pouco, caso eu estivesse em casa. Vossa mercê sabe como me entrego ao momento sagrado do café, arrisco a dizer que és mais importante do que cervejas e vinhos. 

O café chegou a fim. Era hora de iniciar a sessão. Eu estava olhando para a mulher a minha frente a alguns minutos, tentando começar. Dessa vez eu estava com menos receios, pois já tinha confiança e uma base de como funcionava. Só é complicado se organizar, tentar ser coerente, tentar colocar os sentimentos para fora... Nunca foi do meu feitio explicar as emoções. Por mais que eu não fosse extremamente fechada, tinha lá os meus bloqueios e tu sabes disso. A mente só precisava estar ativa, esquecendo os traumas, o passado... Sempre tinha outras prioridades. O perigo de agir assim está no futuro... Está na falta de reação quando o cérebro e o coração se sentem sobrecarregados. 

- Como passou a semana, Regina? - Perguntou-me de maneira gentil. O seu olhar é tipo um identificador de mentiras... assusta. 

- Eu estive melhor do que antes. Não posso lhe dizer que estive bem, mas um pouco menos mal. - Eu disse e desviei o olhar. 

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora