procuro alguem

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Pov. Regina Mills.

O sol mal nasceu e eu já estou acordada, pensando em como lidar com a realidade. Um café quente e doce, o celular ligado no volume baixo – tocando as novas músicas do djonga e uma mente dispersa. Quando a vida nos cobra atitudes não sabemos muito bem como reagir. Se papai estivesse aqui, agora, iria me dizer que nesse caso é preciso cautela, se mamãe fosse opinar, iria me chamar de caçadora de problemas. Eu rio com essa opção. Dona Eva não estaria de toda errada. Não que eu fosse reestruturar os fatos e mudar as minhas atitudes, talvez, mas eu me perco só de imaginar. Zelena seria a única a evitar conselhos. Sabe, na verdade não é necessário se apegar em coisas que não serão solucionadas. Eu preciso entender que Emma não quer que se metam na vida dela. Eu não tenho esse direito. Só que caminhando na direção oposta, eu já vivi algo semelhante, e porra! Não sei o que fazer.

Curtir o som e fingir demência é uma boa, fugir para outro planeta também. Imagine só, se ver livre de todos? Tem seus prós e contra. Por algumas pessoas – saudade, por outras – alívio, por mim – indecisão. Cara, o que será que eu fiz em outras existências? Será que brinquei com os sentimentos de metade da população? Porque, nossa senhora das vadias, não está fácil. Okay, não é hora para piadas. Era só para descontrair e criar um clima mais leve entre a gente, caro leitor. Ah, no fundo tu já se acostumaste com o meu jeito, certo? Talvez não, mas é isso. Vamos ignorar qualquer comentário irrelevante vindo de mim. Nem tudo o que digo é sábio, quer dizer, nada é, mas vamos evitar a humilhação.

Sim, eu sei que não sou um exemplo, que estamos agindo errado, que sou uma jovem sem noção e que não tem uma boa índole quando o assunto é putaria. Me falta foco, mas não é proposital. A djonga, eu também procuro alguém que me faça feliz de novo. Mentira, não procuro não, já é o bastante as que encontrei. Interessante seria aprender que o mais comum é idealizar e se decepcionar, e não tem nada demais. Não, não quero que ela seja perfeita, só desejo poder ajudá-la. Tu nunca irá me ver julgando ou dizendo o que é certo e o que não é, mas com certeza me verá com os olhos cheios de lágrimas por se sentir inútil. Ninguém deveria passar por quaisquer situação de desamor, é cruel demais, não tem veneno pior. 

Mais um pouco de café. Podemos notar um outro vício. Dizem que tudo em excesso faz mal, não deve ser mentira, mas é tão gostoso, esquenta a alma, o corpo e nos dá disposição. Tem como ser melhor? Acho que não. O universo todo deveria agir como os brasileiros, não consigo me imaginar vivendo a base de chá. Não que seja ruim, mas parece faltar o elemento essencial para começar o dia. Enfim, não tem relevância. Deixa para lá. Uma coisa interessante é que por mais que eu esteja agitada, o peito não está doendo. Não me sinto em desespero e isso me deixa feliz.

- Tia, está tudo bem? - Henry disse e só então eu notei a sua presença. - É que parecia que você estava no mundo da lua. - Ele continuou, me fazendo rir. Eu o chamei para se sentar na cadeira ao lado da minha e assim foi feito. - Ai onde os seus pensamentos estavam as pessoas também brigam? - o garoto parecia abatido.

- Oh meu querido, não, não tem brigas na terra da imaginação. - Eu disse sutilmente. - Posso te contar um segredo? O seu nome é muito bonito, é igual o do meu pai. - Ele abriu um sorriso encantador ao ouvir o elogio. - Você iria gostar de conhecê-lo.

- Não gosto muito de conhecer homens. Eles machucam a minha mãe. Por quê eles fazem isso, tia? Ela acha que eu não sei. É tão ruim vê-la com o rosto ferido. - Henry falava baixo, com uma voz de choro. 

- Meu príncipe, nem todos vão machucar vocês, alguns podem ser heróis e tenho certeza que o meu pai iria ser um bom amigo. - Eu disse de forma doce. Triste, mas essa criança está cheia de traumas que precisam ser tratados. - Olha, pode ficar tranquilo que as coisas vão melhorar e ninguém mais vai tocar na sua mãe.

- Você vai me ajudar a protegê-la, tia? - Ele perguntou e eu respondi que sim com um aceno. O garoto se jogou no meu colo e me abraçou. Não chora, Regina, não chora. 

- Eita, o que eu perdi? - A voz de Emma se fez presente. - Está tudo bem por aqui? 

- S-sim. - Eu disse. Henry voltou a se sentar na cadeira em que estava antes. - Eu só perguntei se ele queria pedir um monte de guloseimas na padaria por telefone e o garoto ficou feliz com a ideia. - Eu menti. A loira percebeu, mas não questionou. Ela tinha o cabelo preso em um coque, e a maquiagem feita as pressas. 

Eu ofereci uma xícara de café para a bela mulher, que aceitou de prontidão. Nós fizemos o pedido para o desejum por telefone, como fora dito e não tardou para chegar a encomenda. Henry se deliciou com fatias de bolo, tortas de limão e brigadeiro. Depois, eu baixei um jogo no celular e dei na mão do garoto para deixá-lo entretido no sofá. Aparentemente funcionou. 

- O que vocês tanto conversavam? - Emma perguntou um tanto receosa. O seu olhar carregava tristeza.

- Meu anjo, não dá mais para continuar assim. Eu não posso mais. Você está se afundando e levando o seu filho junto. Não é saudável. Não é justo. Se você não está conseguindo encontrar uma saída por ti, faça por ele. Henry merece uma infância sem traumas. Dinheiro nenhum, sobrenome nenhum vai apagar as lembranças que estão se formando na cabeça dele. Porra, Swan! 

- Não me aponte o dedo, Regina, por favor! 

- Eu não estou fazendo isso, pelo contrário, só quero que tu percebas que és mais forte do que pensa. Agora você tem um emprego bom, vai poder se mudar para um condomínio num bairro renomado, a empresa paga o colégio dos filhos dos funcionários, você vai poder ter as suas coisas, viajar e etc... Não dá para continuar numa relação que não te permite saber disso, que não te permite ver o quão foda tu és. - Eu disse e ela respirou fundo. 

Silêncio. Tensão. Será que falei demais? Ai droga! Regina, Regina, por que você se mete na vida alheia?

- Eu tenho medo. Jones impôs algumas regras quando me pediu em casamento. Parece que a família estava com uma má reputação devido a escândalos envolvendo ele e o pai. Uma boa história mudaria as fofocas, abafaria o passado. - Ela disse. - Se nós acabarmos rompendo vai bagunçar os planos e vai deixá-lo furioso. Eu não quero o meu filho órfão.

- Jones pode ser um babaca, mas não iria se arriscar a ter o rosto estampado nos notíciarios. 

- Eu não sei, eu realmente não sei.

- Eu fiz uma promessa e vou cumprir. - Eu disse de maneira convicta. 

- E como pretende fazer isso?

- Nós vamos conversar com uma amiga minha advogada, você vai fazer os exames para comprovar a agressão e guardar. Depois vou dar um jeito de te mandar para outro país usando de argumento o projeto, nem que seja por duas semanas. Você vai e a minha mãe se resolve com Jones. - Eu disse e a loira me olhou com uma certa confusão. - Dona Eva é a melhor quando o assunto é chantagem, tenho muito o que aprender, ainda sou um bebê. - Eu disse em tom de brincadeira, fazendo-a sorrir. 

- Okay, eu vou confiar em ti.

Ah meu caro, eu acho que me apaixonei sem perceber. Quem, em sã consciência estaria se metendo nessa confusão? Okay, é óbvio que eu iria ajudar qualquer pessoa que estivesse passando por essa situação. Quer saber? Seria uma boa ideia fazer alguns aliados e criar um grupo de proteção para mulheres vítimas de violência doméstica. Sim, eu vou conversar com o meu pai para usar da nossa influência e ajudar os outros. 

- Você fica linda quando está dispersa. - Emma me roubou um selinho. - Bom, acho que agora é a hora que nós voltamos a realidade e vamos embora?

- Não, aproveite o sábado. Vamos ver um filme na Netflix, que tal? - Eu falei como sugestão. Ela me deu um selinho mais demorado e fomos para o sofá junto de Henry.

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora