Eu sorrio ao te ver

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Pov. Regina Mills.

As luzes apagadas. O som alto. Duas garrafas vazias de cerveja no chão, ao lado de um copo de whisky com uma dose incompleta. Uma bituca de cigarro. As minhas roupas jogadas em um canto qualquer. A toalha molhada no sofá. E o meu corpo largado em cima do estofado após o banho – isso me parece estranho, mas enfim, estou apresentando a vocês uma descrição tosca sobre a dor... sobre a solidão... sobre mim. E agora tu irá me perguntar: "para quê?" – para nada, meu amigo. Ainda é sábado. Ainda é um sábado a noite. Merda!

Eu só estou entediada; esgotada e com uma enorme vontade que esse sentimento acabe logo. Hoje, em alguns determinados momentos foi possível ignorar essa sensação, em específico, quando Emma sorria.  Pensar nela me fez fechar os olhos e ter um segundo de paz. E aqui temos mais uma tolice dita por mim. Com certeza a culpa é do álcool. Falando nisso, se ainda estou refletindo, ainda consigo beber. E aqui temos uma boa ideia. Qual o objetivo? Tentar esquecer aquilo que não irei mencionar. E mais uma vez estou enchendo a sua paciência com o que não é do seu interesse saber. 

A preguiça, o cansaço ou até mesmo a embriaguez me impediu de se levantar e ir até a geladeira. Eu acredito que há duas coisas que deixam alguém nesse estado: a perda e o amor... Não me leve a sério. Esse meu estado só pode ser pela falta de sexo. Okay, essa mentira deslavada não convenceu, certo? Até porque eu transei com uma deusa nessa semana. Quer saber a real? O amor é a própria perda. O amante se perde em si para nunca mais se encontrar. Às vezes eu penso que seria melhor não ter tido um motivo para se tornar vadia. Eu prefiro a sensação de ser depravada, do que o amargo sabor de ter sido enganada. 

Agora é a hora em que o assunto é mudado bruscamente. Bem que a minha irmã poderia me ligar dizendo estar com saudades ou até mesmo aparecer por aqui, mas sei que a cura para o seu coração partido deve estar sendo um livro chato de cabeceira, aqueles que fala sobre uma invasão alienígena onde o mundo se torna o próprio caos... Sim, eu sei que isso já é uma realidade, e não, não estou me referindo a extra terrestres. Espera, será que acertei ao me referir a "livros de cabeceira?". Certo, isso não tem importância. Um fato curioso sobre Zelena é que ela gosta de cafuné mas não quando a sua mente lhe faz acreditar que isso a torna fraca. Ah, se ela soubesse da sua força... Enfim, eu a amo. 

A minha cabeça está girando. Um banho não foi o suficiente para acalmar os meus ânimos ou até mesmo diminuir o teor alcoólico que percorre a minha corrente sanguínea. Amanhã o domingo não será para missas, mas sim para ressacas. Por que eu ri disso, cara? Esquece esse comentário, lembre-se que agora o meu cérebro não está em perfeito estado... Se é que ele já esteve nessa fase. Okay, eu prometo que irei tentar não ser tão idiota no decorrer dos meus relatos. Afinal, porquê isso deve ser uma preocupação ou algo ruim? Pelo menos evitou sentimentos inúteis – dito isso, lembre-se da dor. 

A porta sendo aberta e depois fechada. Passos calmos sendo ouvidos. E eu tentando fazer um suspense atoa. Logo ela estava deitada ao meu lado, me puxando para deitar em seu peito. O seu perfume doce, os seus gestos delicados e a calmaria se fazendo presente por todo o ambiente, ou pelo menos em mim. As suas carícias sempre será o meu melhor remédio. E me desculpa, caro leitor, mas desta vez estou sem condições para descrevê-la e também não pude ver muita coisa com a luz apagada, para ser sincera, não arrisco nem a cor de sua calça jeans. 

- Eu já lhe disse o quanto odeio o seu gosto musical? - Ruby entrou em um assunto já esperado. É comum as reclamações quando o som está ligado. - É muito confuso isso: "eu não gosto de você... Sorrio ao te ver... Por favor não me deixe." Credo, isso não é contagioso, não né?

- Essas músicas tem um ótimo ritmo para fazer o que faço de melhor. - Eu disse tentando fingir malícia. 

- E o que seria? Beber e ficar brisada? - Ela disse e riu alto. Ah como eu amo o som da sua risada. Na verdade, como eu amo a sensação de estar junto a ela. Eu juro que não acharia ruim se a minha vida se resumisse a esses momentos. É que todos os problemas se tornam inexistentes quando Ruby cuida e ao mesmo tempo debocha de mim.

- E a resposta está errada! - Eu disse divertida. A minha amiga sussurrou algo do tipo "e qual seria a certa?",  e então eu me afastei para ficar em uma posição confortável próxima do seu rosto. - Transar! - a minha voz saiu rouca. Ah como eu queria um pequeno feiche de luz nesse momento. Okay, não está tão escuro assim, mas a bebida deu uma embaçada na minha visão. 

- Se você tivesse dito "fazer amor", teria me cativado e despertado a curiosidade em descobrir. - Ela disse após alguns segundos de silêncio e mais uma vez acabou rindo. 

Ficamos em um silêncio confortável por alguns minutos. Eu havia voltado a me deitar em seus braços e ela já havia mudado a playlist. Fazer o que se Ruby consegue me convencer de que os seus desejos devem ser realizados? De qualquer forma, o meu anseio era por agradecê-la por mais uma vez me tirar da solidão. Às vezes eu acho que não gosto muito de morar sozinha, eu acabo pensando demais.

- Eu já te disse que você é um anjo? - eu perguntei docemente, tentando disfarçar a vontade de chorar. E por quê essa vontade se fez presente de repente? Coisas de bêbado. - Você é um anjo, cara! O meu anjo! 

- Agora é a hora que eu te abraço? Ou é aquele momento que tu vai se levantar correndo, ir vomitar, precisar de ajuda e de mais um banho? - Digamos que essa ordem não é muito aleatória. E não, a minha amiga não estava brava. A bronca normalmente fica para o outro dia. - Eu não gosto de ver você assim, meu amor, não pelo o que ela fez. Por que? Você fica um tempo bem, e aí tem recaídas na melancólia. Você é mais forte que essa lembrança. - A minha amiga disse com tanta sinceridade e pesar que talvez depois eu pense duas vezes antes de beber em demasia. Sendo um pouco sem noção, eu acabei preferindo beijar o seu pescoço ao invés de responder que ela estava certa. - N-não adianta vir me seduzir para fugir da conversa. - A sua voz vacilou. Não, não foi sempre assim, mas é que atualmente a atração e o tesão segue só aumentando.

- Eu estou bem. - Eu sussurrei e continuei com os beijos ao sentí-la reagindo. 

- R-Regina M-Mills você não tem jeito nem quando está na pior? Não é assim que funciona a sofrência, baby. - Ruby tentou brincar mas suspirou quando os meus lábios tocaram no canto de sua boca. - V-você até que não é ruim nos detalhes, mas eu sou hétero, meu amor. - A gente pode apostar que nem ela estava acreditando em suas palavras? Eu confesso que a minha vontade era de prosseguir e ver aonde isso iria parar mas como ela mesma disse, não é desse jeito que funciona a carência... Sofrência... Sei lá, é tudo parecido.

- Fique tranquila, eu só estava te dando boa noite, meu anjo. - Eu disse. 

Quando fui me afastar Ruby me puxou para deitar em cima do seu corpo e segurou firme em minha cintura. Não houve a questão tempo para nós naquele instante, ela apenas cedeu e deixou de lado as suas inseguranças. Em relação a que? Não é hora de perguntas complicadas, eu ainda estou bêbada. Enfim, eu só sei que os seus lábios tocaram os meus e que a sua boca é realmente tão gostosa quanto pensei – obviamente que eu não deixaria a oportunidade de mordê-la passar. Puta que me pariu, esses suspiros em meio ao beijo! Caralho, esse gosto! Mas como é de costume dizer, toda felicidade dura pouco e quando pensei em aprofundar o contato veio a frustração.

- Se você me perguntar sobre isso amanhã, eu juro que nego! - Ruby disse e beijou a minha bochecha. Acho que devo voltar a posição inicial e apenas dormir abraçada a ela. Ah meu caro, parece que a minha amiga me faz querer o impossível... Talvez seja por isso que me parece tão tentador 

 

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