Girassóis de Van Gogh

To love somebody

Pov. Regina Mills

A morte é um fato muito delicado para ser narrado, para ser explicado, para ser sentido. Ela é a única certeza incerta que temos e por isso nos causa pavor. Ninguém sabe quando vai acontecer, como vai acontecer e nem o que existe depois. Ninguém a deseja, pelo menos não desta forma. Creio que até Deus chorou, não vos digo pela partida, mas sim pelo que foi deixado. Estar aqui é o mesmo que estar dentro de um buraco negro perdido em outra dimensão. Os sonhos se findaram e por mais mesquinhos que fossem, eram perfeitos, eram nossos. Tudo o que era bom se desfez em questão de segundos. Nós nunca falamos sobre o depois, mas ele existia na minha cabeça e era maravilhoso. Para ser sincera, eu não faço a menor ideia de como explicar a vossa mercê sobre os meus sentimentos. Eu só sei que a ficha ainda não caiu e por muito tempo eu vou acreditar que estou em um pesadelo que me causa dor, pânico e me sufoca.

Essa situação é injusta, é cruel. Ruby me prometeu por diversas vezes que jamais iria me abandonar, mas o fez. Agora eu não sei como vai ser. Eu perdi o meu arco-íris, o meu raio de sol. A tempestade chegou. Chove dentro da minha alma pagã. A chuva é forte, destrutiva. Metáforas idiotas que nem deveriam estar sendo ditas revelam a verdade. Por fora, pareço distante, sem reação, por dentro eu compreendo que os outros são o inferno da nossa alma, como disse Sartre. Não, eu não sou a mais devota da filosofia e de qualquer forma, isso não vem ao caso. Sabe, é como se esses que descrevem as emoções humanas com maestria não soubesse sentí-las. Observar a dor do outro é fácil, viver é difícil. Eu poderia escrever para vós uma poesia como Fernando Pessoa, assumindo um pseudônimo, mas nem assim estaria confessando o que se passa dentro de mim. Nesse instante, tudo é incompreensível. Dói, dói muito. 

Ah meu caro, antes de estar aqui, depois que os policiais colheram o meu depoimento, depois que a levaram para prepará-la para o velório, eu avisei os familiares e fui para casa tomar um banho e me trocar. Agora eu entendo do porquê o preto ser considerado a cor do luto... essa roupa pesa, idem a morte. Hoje, o meu desejo era de não existir. Foi a pior sensação chegar e saber que ela não estaria mais por perto, que ela não iria entrar a qualquer momento para me abraçar e dizer que ficaria tudo bem. Pela primeira vez, eu posso vos dizer com a absoluta convicção de que não ficaria tudo bem. Tu sabes me dizer se são essas as razões que levam alguém a loucura: uma perda imensurável, a culpa, a saudade? Eu acho que nem se eu beber tinta amarela conseguirei me sentir feliz. Nem se eu cortar uma orelha lhe mostrarei o tamanho da minha dor. Ah meu amigo, eu estou mais perdida que Van Gogh.

Zelena e os meus pais vieram até o local indicado. Os familiares de Ruby estavam desolados, sem entender porra nenhuma. Eu só não queria ter que sair do lado do caixão. Essa é a última vez que poderei vê-la, tocá-la... que poderei me despedir. E eu não queria estar fazendo-o. Eu não sei perder as pessoas que amo. Eu não sei ter que dizer adeus. É mais complicado do que tu pensas. Isso não precisava estar acontecendo. Qual o problema que Deus tem comigo? Por que ele permite que coisas ruins aconteçam? Eu nunca lhe pedi nada, eu nunca fui exigente, talvez surtada, mas não exigente... Por quê ele deixou isso acontecer? Ela era uma pessoa tão boa... Eu nunca fui ruim. Não era a gente que merecia esse castigo. É nessas horas que a fé se escorre pelos nossos dedos e isso é tão errado, mas me parece tão certo.

Do fundo do meu coração, tudo o que eu queria era poder voltar no passado e não sair de casa naquele dia... não ir à festa... Não conhecer a senhorita Swan... Não ajudá-la. Nos últimos meses eu pensei que ninguém me quebraria mais do que a minha ex noiva, mas agora vejo o quão errada eu estava. Nunca fale: "pior do que está, não fica", porque fica... é uma merda. Também não diga que está feliz, porque a vida te dá uma rasteira. Não ache belo quando alguém vos diz que és como a Fênix... Tu não imaginas o quanto ela teve que renascer. Deveria ter um limite, porque agora não há uma luz e talvez esse seja o meu para sempre. Na angústia a eternidade se faz presente. Você pode imaginar qual é o tamanho da dor de perder o único amor que não lhe feriu?