suas linhas

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Pov Regina Mills

Amanheceu. Posso arriscar que os pássaros estão cantarolando pelos quatro cantos do mundo, enquanto se perdem por entre as nuvens. Não há sinal de chuva. A brisa que entra pelas janelas e balança as cortinas é suave em demasia, gosto de admirar o movimento sútil da natureza, mesmo que esteja por entre as paredes de casa. Parece tolice, talvez seja, como muitas outras coisas que já foram ditas. Parece que às vezes estamos perdendo tempo. Na verdade, tudo é perda de tempo. Ah, meu amigo, não sei mais no que me entreter. Estou aborrecida, melancólica, mas não estou derrotada, por mais que pense o oposto. Eu me renovo a cada novo nascer do sol para tentar ser um alguém da qual ela teria orgulho. Algumas pessoas acreditam em anjos, em outra dimensão e etc, se isso realmente existir, espero que Ruby, de onde quer que esteja, me ajude a erguer a cabeça e seguir.

Existem momentos em que planejo toda uma vida, como existem outros que esqueço as razões que me fazem tentar. É preciso ter forças para crer em algo. Não somos nada sem uma bela fantasia para se apegar. Digo, não temos nada além da fé no desconhecido. Eu me olhei no espelho e cheguei a conclusão de que eu sou mais do que esse alguém destruído que veste jeans, eu anseio por ser mais. Se houvesse uma lâmpada mágica só existiria um pedido: fazer da minha alma um jardim florido, poderia ser até de cactos - seria sinônimo de força. Confesso que vi uma frase semelhante em um filme, eu não sou tão criativa como acha, sou apenas uma jovem atenta a tudo que se passa ao redor. Não ria, não estamos conversando sobre nada que deva ser levado a sério. Me diz uma coisa, tu também costuma guardar frases toscas de filmes incríveis? Okay, okay, não precisa me responder. 

Falando em jardins, eu fiquei curiosa para saber se também gosta de flores... Se sim, de quais? Muitos são admiradores das rosas. Eu confesso que sou apaixonada por elas, principalmente as vermelhas, pois, são delicadas, aromáticas e lindas. Tem pessoas que acham que são simples e comuns, mas eu não concordo. E o que uma coisa tem haver com a outra? Pensar em flores é uma boa maneira para se distrair e me agrada. Eu nunca vos disse sobre este fato, não? Talvez, eu nunca tenha dito sobre mim, não verdadeiramente. É na angústia que passamos a nos conhecer com intensidade, tanto o que é positivo, tanto o que é cansativo. É complicado, porém, delicado. O melhor é focar nas rosas, no jardim que quero ver florescer em mim. É, eu vou conseguir ser a minha melhor versão por um período duradouro. 

Lembro-me de um fato em específico, que se passou há muitos anos atrás, algo que me faz sorrir só por recordar. Eu devia ter uns dez anos, estava entediada, era sábado e nada acontecia, não havia nada de bom na televisão, Zelena havia saído, foi quando o meu pai deu a ideia de fazermos um jardim. Mamãe preferiu cuidar do café da tarde. A primeiro instante me pareceu uma péssima ideia. Que graça teria plantar flores? Mas não demorou para que se tornasse fascinante, não porque seria bonito vê-las simplesmente perfeitas depois de uns dias, mas sim porque foi um trabalho em equipe. Até dona Eva se empolgou quando foi nos chamar para irmos comer mas nos viu se divertindo com a terra. Uma palavra para definí-los seria: cumplicidade. Com os meus pais eu aprendi que se o amor for uma necessidade, que seja o mais belo dos amores. 

A emoção é algo que não posso negar, não agora. O passado também tem sua beleza, sua essência, o seu ensinamento. O presente pode estar bagunçado, mas não vou deixar que me atormente mais. O futuro é incerto, mas é o caminho, é o meu amanhã, é o fruto das minhas decisões. É por isso que aqui, diante do meu reflexo, faço um juramento... Prometo não me entregar as dores. Prometo procurar a felicidade nos seus míninos detalhes e esquecer das minhas fraquezas. Perdida nos meus pensamentos, não percebi quando o meu pai entrou no quarto. Provável que o meu velho ficou me observando por alguns minutos, até que fosse notado. Eu acabei sorrindo. Eu amo a minha família. Eles são incríveis. 

- Eu trouxe um chocolate quente, minha pequena. - Ele disse e me entregou a xícara que tinha em mãos. - Como você se sente?

- Viva. - Eu disse e bebi. O chocolate quente estava adocicado em demasia, do jeito que eu gosto. - Obrigada, papai. 

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora