XX. A última chance.

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Euclides estava de volta ao lar, mas algo estava diferente: Imensas olheiras se empapavam abaixo de sua vista, sua pele estava cinzenta e ressecada, com longas veias escuras ressaltadas e, ele havia emagrecido pelo menos uns cinco quilos. Ao vê-lo, seus criados suspeitaram imediatamente de alguma coisa. O homem parecia possesso de um espirito maligno. Cochichos maldosos se espalharam pelos cômodos, mas ninguém ousou importuna-lo com perguntas, nem mesma para saber a verdade!

Ele desembarcou de seu Maverick se arrastando e adentrou a antessala sendo segurado pelos braços por Yan, um de seus serviçais. Era inevitável reparar sua debilidade e, subir aquele pequeno lance de escadas, da porta da frente, nunca teria sido tão difícil!

Ironicamente, sua vaidade ainda se fazia presente. Mesmo sentenciado a morte, o velho ainda se encontrava impecável!

Ao adentrar a mansão, a primeira coisa que fez, foi soltar as suas malas em um canto e ir para um banho. Durante este tempo, imerso na solidão dos pisos brancos e frios de seu banheiro, um milhão de coisas se passou em sua cabeça. Foi ali, que ele encontrou o que deveria ser sua verdade. A agua morna da banheira lavara sua alma e lhe pusera para pensar em um discurso contundente. Concluiu, por fim (e depois de muito pensar), que o certo a fazer era tirar as amarras e os pesos que carregara em seu coração para, só então, deixa-lo falar livremente. Por este motivo, não tardou-se embaixo d'agua. Ao sair, apressou o passo e caminhou decido em direção ao quarto de Charles. Era chegada a hora de se livrar do incomodo que descompassava o ritmar melancólico de sua vida!

─ Charles. ─ Chamou o velho, enquanto adentrava sem ao menos pedir permissão. Seu filho se recusou em virar e olha-lo.

Por um instante, atordoado diante a clara ausência de afeto, o pobre homem chegou a pensar em desistir, mas não o fez. Seu âmago gritava algo sobre este ser o seu último instante; uma última chance. Dizia claramente que: não poderia deixar aquela conversa para depois; até porque, não existiria um depois!

─ Eu irei morrer em breve, meu filho... — Ele começou cruelmente incisivo nas palavras. Estava certo e firme: finalmente desembucharia tudo que tanto lhe amargurava; tudo que a tanto tempo havia guardado em seu coração. Desabrocharia, de uma única vez, todo aquele maldito ressentimento deixado pela ausência da mulher e a dor que a solidão lhe trouxe, depois que seu filho sumiu pelo mundo e não deu mais respostas.

Suas mãos tremiam e sua garganta estava seca por culpa da doença, mas nem isso lhe faria desistir, pois, sabia que se encontrava em um ponto sem volta!

─ Acredito que você não leu a carta que te deixei... ─ Suas palavras pesavam toneladas.

─ Espero de todo o coração que você me entenda, meu filho. De todos os homens que conheci em minha vida, você é o que eu mais admiro. Você é amável, respeitoso, um filho do qual sempre tive orgulho! — Por fim, ele se aproximou.

Seu pobre coração, já cansado de apanhar da vida, se encontrava exprimido diante do aparente desdém e, sua boca se perdia em frases que saiam feito sussurros.

─ Meu filho... ─ Seus dedos se esticaram, receosos, e tentaram alcançar o ombro de Charles, mas o monstro se esquivou em um movimento rápido.

Sem saber como prosseguir, Euclides rompeu em lágrimas. Seus olhos se fecharam e suas palavras escorreram de sua boca como se ela tivesse sido criada unicamente para recita-las.

─ A morte de sua mãe não foi minha culpa. Eu não seria capaz! Em todos os anos que passei com ela, nunca vi uma esposa tão devota e prestativa quanto.... Ela sabia, Charles! Ela sabia que meu amor não era dela. Eu nunca escondi nada! Não seria capaz de mentir para uma pessoa tão pura e meiga quanto. Eu sempre amei Marydit e, sua mãe nunca me odiou por isso. Então, por favor, não faça isso; por ela. Não me odeie por algo que você não consegue compreender. Não faz sentido algum este rancor em seu peito!

Amor, meu doce amor. Um conto para a morte!Onde histórias criam vida. Descubra agora