XIV. Os caminhos se cruzam.

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O caminhante solitário adentrou a escuridão. Era imenso o vazio angustiante da noite. Algo parecia estar ali, ao seu lado, a cada passo. Era eu, e ele sabia disto! Ele reconhecia aquele sentimento, aquela agonia sufocante e o estranho drenar repentino de toda a sua felicidade. Sabia porque já tinha experimentado isso uma vez...

Deixamos a explicação de nosso primeiro encontro para depois!

Neste segundo encontro, em particular, foi muito diferente. Algo estava a lhe guiar pela noite, mas não havia ninguém além da sua sombra, a noite e, dentre as trevas, EU.

Preto e cinza. Tudo era preto e cinza. Não havia lua ou estrelas no céu. Não havia céu! A única coisa existente entre nós era a estrada sendo engolida pela densa neblina; o caminho bem à frente de seus olhos, diante de seu focinho e, aquela sensação: Um sentimento de angustia, traição e raiva....

Eram meus estes sentimentos!

A cada passada ele sentia sua felicidade se esvaindo, sendo dragada pela força opressora que me apossava. Seu medo espancava o coração, que se debatia pedindo uma silenciosa clemencia. Apesar da distância, eu conseguia ouvi-lo!

Geralmente é assim que acontece. O que sinto acaba transpassando por mim; Eu estou ligada a todas as coisas vivas; somos o oposto que se atraem! ...

A cada passada aqueles olhos pareciam chegar mais perto de si e, eu podia senti-lo estremecer. Estávamos conectados como um. E, quanto mais eu vinha em sua direção, andando na contramão, caminhando ao seu encontro. Mais, nossos sentimentos se misturavam e lhe causavam confusão.

Ele não deixaria transpassar, fisicamente, nenhuma expressão. Não conscientemente. Acredito que, no fundo, ele sabia que conseguia senti-los, mesmo que distante. Sabia que me alimentaria disto; de suas incertezas, de seus desejos, de todos os temores e, que, se ele se deixasse ser levado, tão logo, nada mais lhe restaria. Por este motivo, sua cabeça estava plenamente vazia!

Mais alguns passos.

Seu coração se apertou dentre o peito, repentinamente, e aquilo me ardeu! Ele sentiu uma forte vontade de chorar, mas não o fez. Era difícil entender o que se passava, como poderia este sentimento repentino lhe abater tão brutalmente, sem nenhuma outra explicação?!

Sua respiração pesou. Sentia agora como se tivesse perdendo uma parte de si. Como se tivesse deixando uma parcela de sua vida morrer.

Dez metros nos separavam...

Relutante ele parou e abaixou sua cabeça tentando esconder aquele redemoinho engolidor de vontades; logo após, ele suspirou. Estava tonto. Lutou para que não despencasse e, mais uma vez, continuou sua trilha, fingindo que nada acontecia.

Cinco metros.

Duck andou até não poder mais se conter e, quando se deu por conta, uma lágrima solitária lhe escorreu dos olhos. Sentia-se a raiva transpassar em sua respiração. Era um ódio profundo e destruidor criado pelos sentimentos de estar sendo ridicularizado! Ele até que tentava, mas não conseguia achar uma explicação tangível para o que estava acontecendo. De certo, ele não queria assumir que era a minha presença, mais uma vez, assim tão cedo e repentino. Não queria acreditar que aquele era aquele o seu momento.

E, não era!

Minha intenção nunca foi de assombra-lo. Acredite! Mas, somente a minha sombra já é o suficiente para que as pessoas se arrepiem por completo.

Seu espírito era forte, sua expressão era dura. Ele resistia de uma maneira do qual vi poucas vezes em minha existência.

Só quando ele sentiu estar tão próximo de mim que poderia até mesmo me tocar que: finalmente, ele ergueu seu semblante, dando de cara comigo. Nós finalmente havíamos nos reencontrado!

Amor, meu doce amor. Um conto para a morte!Onde histórias criam vida. Descubra agora