VII. A intervenção da Morte.

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Abri meus olhos apresada. Tudo a minha frente estava confuso e borrado e, assim que minha visão foi lentamente melhorando, pude encontra-lo. Ele estava em um canto, todo encolhido. Uma enorme poça de sangue havia se formado a sua volta. Sua carroça estava virada. Havia papelão, latas e sangue; muito sangue; para todo o lado.

Meu corpo se petrificou e, ali fiquei, como uma estátua. Ele não movia nem se quer um musculo. Pensei por um instante que estivesse morto e: ─ Deus, se assim fosse; acredito que seria melhor vê-lo morto do que ter lhe visto agonizando daquele jeito!

Depois de alguns segundos ele moveu um dedo. Estava vivo, afinal! Seguido dele, seu corpo começou a se debater e sua boca começou a espumar. Seu rosto machucado se contorceu e seus músculos pareceram todos se atrofiarem ao mesmo tempo, estava tendo um ataque epilético. Seu gemido deslizou por seus lábios cortados e invadiu o beco como o grunhido de animal morrendo. Senti, imediatamente, uma enorme vontade de correr, mas meu coração disparou; relutei. Aquele homem havia me salvo da morte, teria que lhe retribuir! Não poderia fazer como qualquer outra pessoa; Não poderia abandona-lo daquela forma, entregando-lhe àquela horrenda morte. Deveria resistir e ser forte, ainda mais agora que ele precisava tanto de mim.

Respirei fundo, me aproximei e pude sentir o cheiro de sua vida se esvaindo. Haviam cortes pelo seu corpo inteiro e imensos hematomas se alastravam pela sua face.

Tentei puxa-lo:

"Se eu conseguir levanta-lo, ou ainda, acorda-lo."

Foi quando compreendi que sozinha não poderia fazer nada, apenas ficaria como uma espectadora sofrendo ao ver sua dolorosa morte.

Em um momento de coragem imensa meu peito se rasgou em bravura. Neste instante, reuni as poucas forças que me sobravam.

"Quem sabe, se eu puder leva-lo até a estrada. Se conseguir arrasta-lo até lá, então, alguém virá para socorrer! Alguém vira.... Alguém..."

Peguei-o pelo colarinho. Ele era bem mais pesado, não conseguiria levanta-lo, mesmo que quisesse, por isso tive que arrasta-lo. Caminhei, passo a passo, puxando-lhe pela camisa. Uma enorme mancha de sangue se expandiu pelo caminho, como fosse as marcas da derrapagem de um carro em alta velocidade.

A saída do beco estava tão distante e, eu estava tão exausta.

"Alguém, por favor..."

Depois das crises epiléticas, seu corpo apenas tremelicava. Sua respiração passava pela garganta fazendo um som agudo de um apito e chiava no peito. Ele parecia sufocado com alguma coisa. Talvez fosse o colarinho lhe apertando enquanto lhe arrastava, talvez fosse o sangue se entalando em sua garganta.... Não sabia dizer o que, a única coisa que sabia é que devia parar. Meu intuito era chegar até a estrada, mas, só estava piorando a sua situação.

─ Hummmm.... ─ Gemeu o vento carregado de nuvens sobre nossas cabeças.

Lhe encarei seriamente sem saber o que fazer.

"Se eu... Eu..."

Mil coisas passavam por minha cabeça.

Foi quando finalmente percebi e, meu corpo inteiro se gelou!

Ele não se movia mais.

Seus olhos estavam abertos, perdidos em um vazio absoluto.

Soltei sua roupa e, ao contempla-lo, minhas esperanças se desfizeram.

Uma lágrima correu de meus olhos.

"Não, não, não..."

Logo eu que havia prometido nunca mais chorar!

Amor, meu doce amor. Um conto para a morte!Onde histórias criam vida. Descubra agora