XXVIII. Confissões.

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─ Então é isto, nossa história acaba aqui!

Diante destas palavras a Morte sorriu.

─ Por isso não queria lhe contar, sabia que acharia insignificante... — Janet suspirou e, a Morte trocou o assunto.

─ Eu falei que iria lhe dar um presente, certo Janet?

Ela assentiu com a cabeça.

─ Pois bem... ─ A outra se ergueu e, com um gesto evocou uma luz tão clara que cegou Janet temporariamente. Quando a pequena voltou a abri-los, tudo pareceu confuso. Foi quando sentiu. Algo quente tocou em seu peito, logo em seguida um puxão em suas patas. Eram mordidas! Junto delas, sentiu-se preenchida de uma paz e uma tranquilidade imensa. Quando sua visão voltou ela pode contemplar algo indescritível e, uma felicidade radiante lhe tomou. Abaixo de si estava um aglomerado de pequenos cachorros que lhe mordiam e brincavam com seu pelo. Foi difícil se segurar de tanta felicidade. Abaixou-se cordialmente e os acariciou. E, somente, tão próximo daqueles pequeninos, é que pode ter a certeza. Eram seus filhos, o fruto que carregava em seu ventre. Lágrimas correram de seus olhos, mas desta vez, não eram mais de tristeza. Ela se deitou, e logo, estava cercada, todos pulavam a sua volta. Ao todo, eram cinco. Tão pequeninos. Tinham seus olhos e, alguns, o pelo era raso e a coloração como o de Duck. Seu coração se encheu de nostalgia.

Demorou um bom tempo até que Janet se desse conta que a morte ainda estava a lhe olhar. Ela parecia sorrir misericordiosamente.

─ Obrigado. ─ Sussurrou Janet. A outra assentiu com um movimento em sua cabeça.

─ Então, estes são meus filhos? ... ─ Falou ela depois de algum tempo, ainda desacreditada. A outra novamente concordou com a cabeça. Logo Janet mudou seu semblante, ergueu-se e mais uma vez, sussurrou.

─ Então, eles estão todos... ─ E não conseguiu concluir sua fala, sua garganta arranhou e ela fechou seus olhos.

De cabisbaixa Janet sentiu os longos dedos da morte a lhe tocar em seus pelos. Deslizou pela sua cabeça e parou atrás de suas orelhas.

─ Nem todos...

Suas palavras ressoaram.

─ Então.... Onde estão os outros? ─ Janet voltou a olha-la.

─ Ainda se lembra do nosso trato? Te falei que lhe explicaria várias coisas do qual você provavelmente não tenha conseguido entender...

Ela voltou a se erguer.

─ Pois bem esta é a hora Janet.... Será que podemos?

E seu braço se ergue para o caminho a sua frente. Uma estrada de luz que resultava em um grande túnel branco, do qual não podia ser visto seu fim, repentinamente apareceu diante das duas.

Janet, se recompôs e ergueu-se. "Claro", ela sussurrou.

As duas começaram a caminhar rumo ao desconhecido. Logo que puseram os pés no caminho, sua temerosa amiga começou a falar.

─ Janet, antes de mais nada gostaria de lhe dizer: Charles, seu grande e único amor, como você mesmo o chamava, teve seus motivos para tudo que fez. Não quero que você deixe esta vida com este gosto amargo e decadente que ele lhe deixou, por isso gostaria que conhecesse toda a sua história.

Janet concordou com a cabeça, sem falar nada. Atrás de si, seus pequenos lhe seguiam.

─ Meu primeiro encontro com ele foi no verão de 1965. Quando lhe encontrei ele estava em uma floresta, totalmente longe de todos. Ele tinha acabado de cair de seu cavalo, sua cabeça havia se chocado fortemente contra uma rocha. Ele estava à beira da morte. E.... eu estava ali para leva-lo! A verdade é que algo aconteceu, não sei explicar o porquê, mas.... Ele estava de olhos abertos, me encarando, a poucos centímetros. Eu estava pronta para acolhê-lo em meus braços e retirar aquela alma eufórica daquele corpo. Mas ele relutava, debatia-se e implorava por sua vida. Foi quando nossos olhos se encontraram. Aquele olhar tão profundo e sincero. Se fosse outro, qualquer animal, não me assustaria em dizer que ele havia me visto, mas, os seres humanos não são capazes de me enxergar, somente depois que faço meu trabalho. E este foi o motivo pelo qual cometi meu maior erro. Ele me olhou, diretamente e eu estremeci, fiquei completamente petrificada. Seus lábios sussurram "Não me leve...", e por um instante tive a plena certeza de que ele podia me ver, como um resultado mais que esperado, fui comovida por sua suplica e, me afastei. Sem entender acreditei que seria um chamado divino de última hora. Quem sabe o senhor estivesse o usando para me dizer que ainda não havia chegado a sua hora... E, assim eu lhe deixei viver. Mas, minha curiosidade era maior, fiquei tão assustada e comovida pelo que acabara de presenciar, que acabei investigando por mim mesmo sua história.... Descobri, pouco tempo depois, que algumas semanas antes de nosso primeiro encontro, sua mãe havia morrido. Seu pai mal havia esperado o caixão ter sido entregue a cova para botar outra mulher em seu lugar. É mais que obvio que ele não aprovou esta ideia. Acabou tendo uma briga feia dentro de casa e pegando seu cavalo de suas aulas de hipismo para fugir, foi quando aconteceu o incidente, e foi quando nos encontramos.

Amor, meu doce amor. Um conto para a morte!Onde histórias criam vida. Descubra agora