ix.

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 Maelie encolheu-se com o ranger do abrir dos grandes portões de ferro, mas continuou caminhando a diante mesmo assim, tentando não se intimidar pelos olhares marcantes dos lobos deitados sobre o chão nem pelo frio extremo com o qual ainda não se ...

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 Maelie encolheu-se com o ranger do abrir dos grandes portões de ferro, mas continuou caminhando a diante mesmo assim, tentando não se intimidar pelos olhares marcantes dos lobos deitados sobre o chão nem pelo frio extremo com o qual ainda não se acostumara mesmo após um tempo considerável nas terras de Nárnia.

 A jovem fez de tudo para não olhar para os lados, arrepiando-se dos pés à cabeça só de imaginar a visão das estátuas de pedra dos seres inocentes que ousaram atravessar o caminho da Feiticeira Branca, desejando que não virasse uma dessas a qualquer momento.

 Quando entrou no castelo frio e coberto por gelo — assim como toda Nárnia —, Maelie analisou seu redor, seus olhos parando no trono feito da mesma pedra de gelo que todo o resto do castelo, onde uma figura muito magra, mas extremamente alta, sentava-se sobre. Sua pele era pálida como uma vela, e seus olhos sem vida encaravam o fundo da alma de Maelie, desafiando-a a dar um passo em falso.

— Maelie, querida.

 A jovem tremeu com a sensação desagradável de ter seu nome saindo da boca da mulher, que piscava para ela, balançando seus cílios cobertos pela neve pouco mais pálida que si e sorrindo falsamente em sua direção

— Jadis. — Maelie tentou manter-se firme e confiante, mesmo que conseguisse ouvir o leve tremer em sua voz e tivesse certeza de que a Feiticeira também ouvira. — Acho que você sabe porque estou aqui.

— Eu sei? — indagou Jadis, o veneno escorrendo de seu tom de voz. — Acho que não. Me diga, Maelie, por que está aqui?

 A garota suspirou, resistindo ao instinto de morder nervosamente os lábios e beliscar o braço, sabendo que demonstrar nervosismo só a faria parecer fraca e incerta sobre sua decisão, exatamente o oposto do que queria. Ela também perguntou-se se a escolha que estava prestes a tomar era a melhor. Correr o risco de despertar a ira da Feiticeira Branca não era algo que você gostaria de fazer, e certamente não era algo que Maelie gostaria de fazer.

 Juntando um pouco de ar e ajeitando sua postura, Maelie falou.

— Não trabalharei mais com você.

 O sorriso calculado de Jadis caiu, seu rosto ficando duro como a pedra de suas estátuas, e a mulher deu um passo à frente, sentindo-se satisfeita ao notar o terror nos olhos da garota.

— O quê?

 Maelie mordeu o interior de sua bochecha, tentando ao máximo não chorar de medo, e fixou seu olhar na mão da feiticeira, que carregava uma espécie de vara de condão, os nós de seus dedos ficando mais pálidos com a força com a qual apertava o objeto mágico — se é que isso fosse possível.

— Não sei se realmente acredito que você vai cumprir com sua parte. — disse, lutando contra a vontade de se encolher diante da enorme mulher e ajeitando sua postura. — Venho fazendo o que prometi fazer há muito tempo, e até hoje não vi um sinal de que você faria o que prometeu.

— E quem disse que já não o fiz?

— Se você o fez, então por que não vi sinal de Elijah no bosque?

— Oras, o nosso acordo era que eu o tiraria da prisão, não que o enviaria ao bosque. — Jadis deu de ombros, o fantasma de um sorriso zombeteiro no rosto.

— Por onde mais ele estaria perambulando?

— Quando disse que o deixaria perambular por aí?

 Maelie analisou a sala com cuidado, seu olhar voltando lentamente para a vara de condão na mão da feiticeira, notando como ela encaixava-se perfeitamente em sua mão, como se ela se sentisse até mais livre segurando-a.

 Seus olhos arregalaram-se e Maelie balançou a cabeça repetidamente.

— Não.

 Um uivo foi ouvido, e a garota se pôs a correr em direção à saída do castelo, sem um último olhar à Jadis. Maelie escutava passos ao longe, e sabia que a feiticeira havia liberado sua alcateia. Suas pernas moviam-se com agilidade, desviando de algumas estátuas solitárias no chão, e um suspiro aliviado escapou de seus lábios quando viu-se passar pelos grandes portões de ferro, mas ela não desacelerou nem por um minuto.

 Sua boca abriu-se quando um peso chocou-se contra suas costas e Maelie sentiu algo ser cravado em seu ombro, derrubando-a no chão. A garota foi rápida em virar-se para ficar de costas contra a neve, afastando o responsável pelo ataque. Seus olhos capturaram os de Maugrim, um jovem lobo membro da Polícia Secreta, que agora descansava deitado ao seu lado.

— Achou que poderia escapar, não é? — ele rosnou, sua voz fria, o que não combinava com sua aparência de lobo adolescente.

 Maelie ofegou, colocando a mão sobre o punho de sua adaga, antes de grunhir com a forte ardência em seu ombro direito. Levantando-se, ela direcionou seu olhar para as marcas de garras que derramavam um líquido carmesim por seu braço, amaldiçoando o lobo responsável baixinho.

— Machuquei você? — Maugrim zombou, também se levantando e aproximando-se da garota. — Que pena.

 Antes que o animal peludo chegasse mais perto, Maelie alcançou sua adaga e a lançou sobre o aliado da bruxa, o escutando choramingar, sem preocupar-se em ver que parte do corpo acertou.

 Ela voltou a correr, escutando os outros lobos uivarem à distância, e tentando apressar seu passo, sem vontade alguma de conseguir mais um hematoma — o estrago de Maugrim já fora profundo o suficiente.

Quando virou uma esquina qualquer, Maelie parou em seus rastros, encontrando uma enorme mesa de pedra à sua frente, coberta por neve.

A mesa da profecia.

Quando uma maldição deslizou por sua língua, acompanhada por um suspiro de surpresa, Maelie sentiu-se tonta, e suas pernas não pareciam mais querer fazer o trabalho de sustentar o peso de seu corpo.

E a escuridão a tomou.

ANTI-HERO | as crônicas de nárniaOnde histórias criam vida. Descubra agora