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 A sensação do luto não era estranha à Maelie

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A sensação do luto não era estranha à Maelie. Por mais desconfortável e angustiante que fosse, ela sabia que seria obrigada a lidar com situações assim várias vezes na vida.

Ainda assim, nada impediu as lágrimas que salpicavam os cantos de seus olhos, os soluços que lhe escaparam quando foi obrigada a proferir o recado sobre a morte de Aslan a Peter, ou a sensação de que seus ossos estavam sendo todos pressionados fortemente, espremendo todos os seus órgãos e trazendo-lhe uma sensação de falta de ar — mesmo ao lado de fora.

Sua mágoa era tanta que não lhe cabia no peito ao ser obrigada a passar pelas barracas, espalhando a notícia, e vendo as expressões melancólicas de cada ser narniano, questionando-se se a sua estava tão destruída quanto as que mirava.

Seus olhos estavam focados no gramado do acampamento, que estivera tão mais brilhante e vívido na noite anterior que nesta, assim como seu interior. Ela afastou-se das barracas, recusando-se a lidar com os lamentos do exército, não conseguindo controlar nem a si mesma.

Não conseguiu ser forte, como Aslan pedira.

Arrancando pedaços de grama do chão, Maelie suspirou dolorosamente, sentindo as lembranças se acumulando em sua mente. Até que passos delicados fossem escutados, e uma movimentação aconteça ao seu lado.

Virando-se levemente, ela encontrou Peter sentado com as pernas pressionadas contra o peito, olhando para onde encontrava-se Cair Paravel. A morena respirou fundo, arrastando sua mão até a do jovem ao lado, apertando-a fortemente e ignorando o olhar confuso que ele lhe enviava.

Aproximando-se, ela deitou sua cabeça em um dos ombros tensos de Peter, sentindo que ele posicionava a sua por cima da dela.

O silêncio era perturbador, como se os dois estivessem esperando que o grande leão surgisse à sua frente, com sua postura de poder e seus olhos aveludados, dando-lhes as respostas para perguntas que nem conheciam.

— Até meus pais se mudarem e me enviarem para morar definitivamente com o tio Digory, costumávamos passar todos os verões na casa dele. — Maelie começou, ainda apoiada contra Peter. — Era uma ótima alternativa à cidade movimentada e poluída, e sempre foi o ponto alto dos meus anos.

Ela sorriu, lembrando-se dos momentos vividos durante os vários verões na mansão do tio-avô, principalmente das broncas dadas por Dona Marta após suas brincadeiras.

— No último ano antes da mudança, aos meus treze anos, senti algo de diferente desde o momento em que cheguei lá, como se a casa não fosse a mesma. — suspirou. — Por volta do meu terceiro dia, acabei caindo em um lugar diferente ao decidir explorar o jardim, um lugar onde nevava.

— Nárnia? — a voz de Peter estava recheada de curiosidade.

— Nárnia. — ela assentiu. — No primeiro momento, fui recebida por uma mulher simpática, que sabia conversar e animar uma criança. Ela me ofereceu chocolate quente e tortas de limão, e me disse que as terras estavam cobertas de neve por conta de uma feiticeira má. Depois de conversar comigo, e convencer-me de que era especial, me levou até sua casa, onde me disse para trabalhar com ela e lutar contra os inimigos para transformar Nárnia em um local bom.

ANTI-HERO | as crônicas de nárniaOnde histórias criam vida. Descubra agora