Três

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Seus olhos negros me encaram com um brilho único, percebo que estou encrencada. Desvio o olhar e tento dar dois passos para traz, porém sou segurada por braços firmes. O simples toque de suas mãos em minha pele é suficiente para enviar ondas por todo o meu corpo. Olho mais uma vez assustada para ele e sinto que ele sentiu o mesmo.

Preciso me manter calma, lido com homens a minha vida toda e não será esse que me desconcertará. Limpo a minha garganta e com uma fina voz, digo:

— Não, não estou. Gostaria que o senhor me soltasse imediatamente. 

Tento puxar meus braços de seu aperto, mas ele aperta ainda mais. Não sei quem é esse homem, mas consigo perceber que não é a pessoa mais segura para se estar.

— Eu vi de onde você saiu. — ele diz casualmente. 

Meu coração gela, se for um dos empregados do meu pai e dizer a ele que estou na rua sem Marise eu morro. Mas ao mesmo tempo, algo me chama atenção neste homem, é o modo com que fala, ele fala perfeitamente o idioma, mas sei que não é daqui, não há sinal de sotaque em sua voz, ele não é italiano. Decido que o melhor é tentar enganá-lo e por fim, voltar para a casa.

— Sim, eu trabalho na casa. — eu não contei mentiras, é a verdade. Apesar de ser filha de um Morelli, eu tô mais para empregada.

Isso parece sanar parte da curiosidade dele, pois ele me solta. Aproveito esse momento para avaliá-lo, definitivamente, é bonito. Tem uma beleza diferente de todas as que eu já encontrei, o homem misterioso tem um rosto quadrado e uma barba para fazer. Seus olhos são negros, assim como os seus cabelos, e tem grandes beiços, enormes. A constatação me fez desejar prová-los.

Me peguei encarando sua boca carnuda e ele percebeu isso. Não entendia o que poderia estar acontencendo comigo, só poderia ser o medo de ser pega. Uma vez uma professora me disse que pessoas reagem de maneiras diferentes em situações estressantes.

Tentei retornar a minha caminhada, mas ouvi sua voz uma segunda vez na mesma noite:

— Não faça isso. Posso te agarrar mais uma vez e garanto que dessa eu não solto. Acho que vou querer que você me acompanhe, senhorita?

— Ella. E não gostaria de te acompanhar, preciso retornar a minha caminhada e você está me atrapalhando, por tanto...

Dei um pequeno grito quando sua mão agarrou minha boca e me jogou para um canto escuro. Era o carro de um dos meus irmãos, tentei não entrar em desespero pelo duplo problema, por sorte, Luigi pareceu não me notar e nem ao homem atrás de mim. Seus braços fortes me arrastaram para uma casa, tentei me soltar, mas ele continuou a me carregar. 
Assim que a porta foi aberta, ele me soltou dentro de uma sala e trancou a porta, colocando a chave no bolso. Na luz, podia vê-lo ainda melhor, definitivamente não era italiano. Eu poderia estar diante de um inimigo da Máfia e não seria salvo pelo meu pai ou meus irmãos. 

— Então, Ella. — ele faz uma longa pausa como se estivesse saboreando meu nome. — Com o quê você trabalha na casa?

— Eu sou assistente de cozinha. — digo rápida, cresci nesse meio e sei que grandes tempos de resposta se resume em mentiras.

Ele assente com a cabeça e depois diz:

— Então ninguém te procurará se você simplesmente desaparecer, não é?

— Meu pai, meu pai é sub-chefe da segurança, ele me procuraria se eu sumisse. — A simples possibilidade de não sair viva disso me fez mentir, precisava ganhar tempo. Tento não me desesperar e pensar no que vou dizer. — Foi por isso que saí daquela forma, ele não gosta que eu saia e ele estava trabalhando na ronda esta noite.

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