Dezesseis

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Sou arrastada outra vez para o banheiro, não penso duas vezes antes de me desvencilhar de Viktor e me arrastar até o vaso sanitário, coloco mais uma vez tudo para fora, fico sentada esperando meu corpo voltar ao normal, na tentativa de que o bebê pare de me trazer até aqui todos os dias.

Ao olhar para o vão da porta vejo Viktor me observando, ele me encara com seu olhar de superioridade. Não me diz nada, apenas estreita os olhos e me observa enquanto eu me levanto e escovo os dentes na pia.

Tento passar por ele, mas sou impedida.

— O que significa isso? — sua voz é mansa, mas seus olhos me estudam em busca de qualquer vacilo meu.
— Eu só preciso ir a cozinha.
Buscando forças que não sabia que tinha, me solto de seu aperto e vou em direção a cozinha, posso vê-lo pelo canto do olho, me seguindo.

Ao adentrar o cômodo começo a preparar algo para comer, em busca de acalmar o meu filho. Pego um suco de laranja na geladeira e me sirvo em um copo, buscando um pouco de carboidrato, arranco um pedaço de pão e me sento na cadeira para me saciar.

Viktor continua me observando, posso ver seus olhos escuros tentando entender o que está acontecendo.

Não quero ter que contar a ele, sinto que não gostarei da sua reação ao saber que terá um filho.

Decido tirá-lo de seus devaneios:
— Você pode se servir de algo, Viktor.

Isso parece tirá-lo de seus pensamentos, pois me entrega um sorriso sarcástico e toma de meu prato um pedaço de pão. Se sentando de frente a mim, ele diz:
— Claro que posso. E então, por que estava vomitando?
— Ainda não me acostumei com a latitude do lugar. — eu tento agir naturalmente, por isso, continuo mastigando o pão sem sabor.

— Mentirosa! — ele me acusa, seu semblante sério me assusta, ele obviamente sabe que não é isso.

Dou de ombros e ao ver meu ato, ele puxa minha mão e segura meu pulso quase o torcendo. Sua violência me deixa surpresa.

— Fala!

Fico em silêncio mais uma vez. Deus! Como poderei criar uma criança nesse mundo louco. Viktor é pior que meu pai. O que fará com uma criança que não planejou?

— Me solta, Viktor! Você está me machucando! — digo chorosa.

— E vou ainda mais se você não começar a falar.

— Você é louco!

Escuto o barulho da picape de Juan e começo a me desesperar, Viktor também percebe o barulho e me solta, caminhando até a janela aberta da cozinha que dá para a estrada.

Por que Juan tinha que vir justo agora?

Ele para na entrada do sítio e começa a buzinar. Me resigno, e levanto passando por Viktor. Este por sua vez, não me diz uma palavra, mas sinto o fuzilamento dos seus olhos nas minhas costas enquanto caminho em direção a saída. 

Quando chego na varanda, Juan já está trazendo o que pedi a ele para comprar, ele a aloja na varanda e se vira para me cumprimentar.
— Buenos días, Laura. Como passou?
— Muy bien, gracias.
— Eu trouxe o que pediu. Posso te ajudar com a instalação, se quiser.
— Não! Não é necessário. — ele me olha espantado, mas assente.
— Bom, acho melhor ir ver como a minha mãe está. — me arrrependo pela forma como falei com ele, mas não posso deixar que Viktor faça algo com ele.
— Desculpa, Juan. Só não é uma boa hora, não acordei bem hoje.
— Claro, isso, certo. Entendo perfeitamente. Melhoras, Laura.

Ele se aproxima de mim e me dá um abraço que retribuo com medo. Eu temo por ele, pois sei o quão obsessivo o homem dentro da minha casa pode ser.

Aceno enquanto vejo ele entrar dentro do carro e partir rumo a sua casa. Meus pés ficam presos na madeira do chão até que ele desapareça completamente do meu campo de visão.

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