Dez

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Meu pai finalmente se recuperou e posso concentrar em Ella. Meus homens estão a postos na Sicília, mas até agora ela parece não ter saído de casa. Ou talvez esteja sendo até mesmo torturada, meu peito dói ao pensar nisso, ao pensar que não a tenho comigo, que estou com abstinência dela. Preciso de Ella, e esses dez dias são os mais angustiantes. Não pude pensar e ficar com raiva por ela ter fugido, precisava garantir que meu pai seria minha prioridade, esquecer Ella foi o único jeito de não enlouquecer, mas agora eu posso pensar, posso lembrar. Lembrar de seus beijos, de seus olhos e do seu rosto fino e único.

Se aqueles filhos da puta tiverem tocado nela, arrancarei suas vísceras e exporei seus corpos sujos por todo aquele lugar.

Sentado em meu escritório olho para o computador à minha frente, tento focar nos explosivos que preciso negociar com a Ásia. Os chineses necessitam de tecnologia nova e eu necessito de acordos especiais. É uma troca ilegal, poder por armas.

Mais tarde preciso ter uma reunião com pessoas importantes do governo, assumi o lugar do meu junto a Nikolai enquanto ele se recuperava, mas agora acabou. Posso me livrar disso e me concentrar na minha mulher, em outro momento eu teria gostado desse poder em minhas mãos, porém, agora não consigo gostar disso tudo.

Yan é quem está feliz, não com o incidente do meu pai, mas para poder se livrar de seu trabalho com o mesmo. A relação entre eles está cada vez pior, meu pai não consegue aceitar que Yan não quer sujar suas mãos de sangue como nós. Não consegue ver que Yan não precisa disto. Mas agora eu entendo, Yan. Entendo o que ele faz pra ter certeza que ficará com a mulher que gosta, que a terá em seus braços. Eu faria isso por Ella, me deixaria ser escravizado.

Em alguns momentos eu sinto que enlouqueci, nunca fui um homem imprudente, sempre calculei e agi com paciência. Contudo, com Ella eu joguei todo o meu treinamento fora. Dormi com uma mullher e sequestra-la não é algo que eu faria em um dia comum. Sentir a perda de alguém muito menos. Nunca tive amigos, a não ser o meu irmão e nunca tive necessidade de sair para festas e fazer coisas de adolescente, aos 18 anos eu já comandava São Petersburgo, lugar onde resido, e dois anos depois, parte de Moscou ficou para mim. Para cobrar e punir quem eu quisesse. Fiz um bom trabalho por aqui, não há devedores, pois fiz questão de deixar um aviso sobre quem trapaceia e não paga suas dívidas. Mas o que acontece na Itália... Foi tão rápido, tão potente que me sinto fraco em momentos como este.

Yan adentra minha porta sem avisar e dou uma olhada rápida nele. Continuo examinando a parceria com os asiáticos, mas paro quando vejo que ele ainda está em pé. 

— Senta logo, porra! E diz o que você quer. — dessa vez, Yan se senta na cadeira. Observo suas feições descuidadas, não consigo entender como ele gosta de se vestir de qualquer jeito, casaco fino, blusa azul por baixo e um jeans sujo. 

— Acho bom você melhorar esse humor, irmãozinho. — arqueio a sobrancelha — Ivan quer nos ver em sua casa no fim da tarde.

— Por que? — pergunto sério?
— Também gostaria de saber, achei que tinha me livrado do trabalho , mas continuo sendo seu escravo.

— Está bem. Podemos ir juntos se você quiser, basta tirar estes trapos e se juntar a mim no final da tarde.

Yan dá uma gargalhada e se levanta da cadeira.

— Você está parecendo ele.
Entendo a quem ele se refere e não gosto da comparação, apesar de gostar de agir como meu pai, desejo construir o meu próprio método. Quero diferenças entre nossas maneiras de resolver problemas.

Ele caminha em direção a porta e por um impulso eu o chamo:
— Yan — se virando para mim, é a vez dele de ficar surpreso. — Como você suporta?

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