𝖠 𝖼𝗈𝗋 𝖽𝗈 𝖼𝖺𝗆𝗉𝗈 ~ 𝖤𝗅 𝖼𝗈𝗅𝗈𝗋 𝖽𝖾𝗅 𝖼𝖺𝗆𝗉𝗈

03

Algumas vezes Carmen dizia para a sobrinha tentar a carreira de modelo, mas Suzana nunca se interessou:

— Você é bonita e tem altura Suzy, por que não tenta ser modelo? Poderíamos estar ricas se você me ouvisse!

— Esta carreira é muito difícil e disputada tia e na maioria das vezes não dá em nada... Acho que é mais fácil ficar rica jogando nas suas loterias... As meninas que ganham muito dinheiro sendo modelos são exceção!

— Mas você nem tenta! Você é mais bonita que muita modelo famosa!

Suzana era meio tímida para ser modelo, mas fora isto Carmen tinha razão, a garota tinha todo potencial para virar uma top model.

— Nossa tia que vergonha... Imagina eu desfilando em uma passarela com aquele tanto de gente me olhando e prestando atenção em mim... Acho que eu cairia em todo desfile... Minha cara nas revistas, ter que dar entrevistas... Definitivamente esta profissão não é para mim!

— E daí? Pelo menos eles pagam muito bem... diz Carmen.

Suzana trabalhava em um escritório de contabilidade como ajudante, depois de formada ela esperava arrumar um emprego em uma grande multinacional, se tivesse sorte talvez conseguisse em uma sede no exterior, era o que ela mais queria. A vida na Colômbia era difícil para a maioria da população, os únicos que viviam realmente bem no país eram os políticos e os milionários. Em uma manhã de sábado Suzana e Carmen saíram para fazer compras, Carmen aproveita e mais uma vez joga na loteria e tenta convencer a sobrinha a fazer o mesmo.

— Vamos Suzy faz a sua aposta também quem sabe você tem mais sorte que eu?

— A senhora sabe que não acredito nisto!

— Só se ganha se jogar!

Depois da insistência de Carmen, Suzana escolheu os números e pagou um jogo para ela. O sorteio seria na próxima quarta-feira.

Na quarta dia do sorteio Carmen mais uma vez não acertou nada.

— Droga eu não aguento mais! Eu não sirvo pra nada mesmo! Por que tudo dá errado? — Falava a mulher sozinha.

Carmen já não era mais jovem, a idade já pesava e ela não aguentava mais ter que trabalhar tanto e ganhar pouco. As vezes ela se revoltava de ter chegado naquela idade e não ter nenhum patrimônio para chamar de seu. A única coisa que ela tinha era a casa pequena e humilde que ela morava com a sobrinha e que nem era realmente dela, a casa era de Suzana deixada pelos pais.

Suzana não estava em casa e não conferiu o jogo que fez, ela não dava importância a isto por este motivo nem se lembrava.

A garota não tinha aula todos os dias mais e quando era dia de aula ela tinha permissão para sair do emprego mais cedo. O bairro de Suzana era na região periférica da cidade, no subúrbio, um local perigoso, suas aulas eram a noite, por isto uma van pegava a garota na porta de casa e deixava na porta da faculdade e na hora de ir embora também a deixava na porta de sua casa, assim ela não correria risco.

Os dias se passaram e como se não tivesse como ser mais difícil, Suzana é assaltada enquanto vinha do trabalho, nem escuro estava ainda, um garoto menor de idade a ameaçou com uma faca e levou seu celular. Era tudo que ela não precisava, mas este era o preço que se pagava por morar em um subúrbio. Carmen ficou possessa agora por enquanto, elas teriam que se virar apenas com o telefone celular de Carmen até Suzana poder comprar outro, pelo menos ela tinha um notebook.

— Quase que me esfaquearam tia não imagina o medo que fiquei, eu não pensei duas vezes e dei o celular pra ele!

— Você fez muito bem esta gente não tem pena de ninguém, mas graças a Deus que você está bem!

— Me assaltaram a luz do dia tia! Um absurdo!

— Está vendo? Por isto que odeio morar neste lugar!

— Como se tivéssemos escolha!

— O problema é este Suzana nós não temos escolha, parece que quanto mais a gente luta pior as coisas ficam!

— A vida está difícil para todos e infelizmente muitos morrem sem nunca melhorar de situação! — A garota diz triste e pensativa.

Carmen também fica reflexiva.

Suzana oscilava entre o pessimismo e otimismo em uma fração de segundos. Durante os próximos dias ela estava pessimista e desanimada por causa do assalto que sofreu.