Capítulo 31

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Bia

Acordei horas após ter sido levada ao quarto. Parir gêmeos não foi fácil, como esperado se fosse cesária, apesar que a cesária também não seria fácil depois que a anestesia passasse, corte é corte. Ainda precisei passar por toda revisão do parto, segundo fui informada. Retiraram as placentas, deram uns pontinhos lá embaixo, me vestiram em uma camisola, colheram meu sangue, me perguntaram um monte de coisa, depois me colocaram em uma cadeira de rodas e me deixaram no cantinho do centro obstétrico, com a única notícia de que meus bebês foram a UTI neo natal e estão bem.

Sentia dor, sangue ensopava os lençóis embaixo de mim, o frio me corroía, uma cólica infernal não me deixava nem pensar direito. A enfermeira me olhou de cara feia quando ia abrir a boca para falar qualquer coisa, verdadeiramente, queria a minha mãe.

Quando finalmente me levaram até o quarto onde ficaria, só pensava em um banho quente, seja para tirar todo aquele sangue de mim ou para me esquentar, fui impedida de levantar sem alguém, precisava comer primeiro, assim não corria o risco de desmaiar no banheiro por fraqueza. Até um banho foi negado, acabei de dormir por pura exaustão.

Acordei horas depois, da janela do meu quarto podia ver a claridade do sol, sentia a boca seca, tentei não me mexer, com medo da dor intensa voltar. Abrir os olhos e vi dois berços vazios, minha mão tocou meu ventre vago.

— Sinceramente, Tina. — Virei a cabeça e do outro lado, vi uma mulher sentada na outra cama com um bebê nos braços amamentando. — Você é esfomeada igualzinho seu pai. Nunca vi duas criaturas se parecerem tanto, o que é totalmente injusto, pois fui eu que carreguei você por sete meses dentro de mim. — A mulher negra com tranças no cabelo levantou o rosto e olhou para mim. — Acordei você?

— Não. — Disse ao tentar levantar e sentir dores na minha vagina, a carne latejava.

— Você é a outra moça que teve gêmeos coloridos? — A mulher perguntou de forma descontraída olhando o outro bercinho ao seu lado que tinha um embrulho com manta azul. — A minha menina é branquinha como o pai e o meu menino pretinho igual a mim.

— Acredito que eu seja diferente. — Finalmente conseguir sentar na cama trincando os dentes e respirando fundo. — Minha menina é negra e meu menino branco.

— Não gosto dessa palavra negra, prefiro preta. — Dei de ombros, nunca parei para pensar qual o melhor tratamento do meu tom de pele. — Mas enfim, a sociedade acha melhor esse termo, quem sou eu para falar qualquer coisa.

O tablet em cima da mesa tocou e Chay pegou atendendo uma videochamada de seu marido, aparentemente pelo tom da conversa. — Quindim! Não morre mais, acabei de falar sobre você. — O homem riu, do outro lado da linha, ela mostrou o visor em minha direção.

— Oi! — Disse ele.

— Essa é minha companheira de quarto, ela também teve bebês coloridos... — A mulher disse toda alegre. — Como é seu nome? — Perguntou para mim.

— Sou a Bia, Biatriz. — Respondi.

— Meu nome é Chay. — E apontando o homem ruivo no aparelho. — Esse é o Quindim, o Joaquim. Muita coincidência termos gêmeos de tons diferente, segundo o médico isso acontece menos de um por cento das vezes, ele ficou falando isso um milhão de vezes, aposto que mandou um cem números de mensagem contando sobre esse evento raro. Já estou procurando um agente para nossos pequenos, visualizo capas de revista, programas de TV, rádio, blogs, dancinha nas redes sociais. Garantindo a escola, faculdade deles.

— É porque você não viu o pai dos meus filhos. — Mal fechei a boca, a porta abre, dando passagem para o Bryan, de máscara, luvas e um avental azul, segurava minhas malas com uma mão.

Meu querido AdmiradorOnde histórias criam vida. Descubra agora