Capítulo 66

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• Renan Garcia •

Inspirei fundo o ar da máscara e olhei em volta, fui até o Caleb vendo ele com dificuldade pra carregar uma das vítimas.

- Segura nas pernas irmão. - Falei pra ele e com agilidade segurei a parte superior do corpo do homem que estava em seus braços.

O Caleb se ajeitou e passou o braço da cintura pra baixo.

Era um homem grande e acima do peso, então era impossível de carregar sozinho.

Caminhamos pra fora pela saída de emergência e fomos até uma das ambulância que nos era indicada.

Me abaixei e coloquei o homem na maca.

Me assustei quando uma explosão alta acontecendo atrás de mim e levantei rapidamente, me virando pro mercado.

Arregalei os olhos vendo que a quantidade de fumaça que saia de dentro do estabelecimento em chamas, tinha aumentado.

Olhei pro Caleb e então corremos juntos pra dentro do local.

Agora além de vítimas que eram cidadãos comuns, tínhamos nossos homens lá dentro também.

Já na porta haviam pelo menos três dos nossos e mais três vítimas caídas no chão.

Chamei reforço na porta pelo rádio e agarrei um dos meus colegas pelo uniforme, o puxando pra fora.

Logo mais cinco soldados chegaram e começaram a nos ajudar, tirando aquelas pessoas da entrada.

Assim que foi liberada, corri pra dentro e ofeguei vendo que não tinha por onde passar, uma parte da estrutura tinha caído bloqueando totalmente a passagem.

- Recuar soldado Garcia e soldado Gonçalves. - Ouvi a voz grossa do meu Capitão de batalhão no rádio. - Recuar, recuar imediatamente. - Ele disse mais alto e só me virei, pegando o braço do Caleb.

- Bora, vai dar merda. - Falei pro mesmo.

- Precisamos tirar nossos amigos Renan! - Ele exclamou e eu engoli em seco.

- Não temos mais acesso e mesmo se tivéssemos, a ordem é sair. - Respirei fundo o ar limpo da máscara e coloquei a mão em seu ombro. - Lembre-se que você tem uma mulher grávida te esperando em casa, esse não é o momento pra contrariar, vamos ajudar lá de fora.

Ele me olhava relutante em meio a toda aquela fumaça.

O Caleb demorou alguns segundos mas assentiu em concordância e então corremos juntos pra fora, indo diretamente até nosso Tenente.

- Não temos retorno de nenhum dos nossos soldados que ficaram lá dentro, então precisamos dos esforços de vocês agora para apagar o incêndio e assim que der, eu mesmo irei entrar para verificar a possibilidade de entrada novamente. - Ele disse alto pra todos que estavam ali em volta e também o ouvindo pelo rádio.

Acatando a ordem do Tenente e do Capitão, fui para um dos caminhões e desenrolei a mangueira com a ajuda do Caleb.

Uma das estagiárias ficou no acesso de água e assim que me posicionei com a boca da mangueira em mãos, com meu amigo atrás dando suporte, a água foi liberada.

...

Horas depois as chamas foram controladas sem mais nenhuma explosão que dificultasse nosso trabalho.

Entrei ao lado do Caleb e do meu Tenente, já preparado mentalmente pra pior cena possível.

Conforme íamos andando, checávamos todos os batimentos das vítimas que haviam ali.

Chequei a cronometragem e quantidade do meu oxigênio e então olhei pro Tenente.

- Acho que devemos olhar com mais atenção nossos soldados, meu oxigênio ainda está na metade. - Falei pra ele que logo assentiu, passando o recado pelo rádio.

E então assim foi feito, a cada movimento mínimo no peito dos nossos homens, os puxamos pra fora diretamente para o atendimento dos médicos que agora haviam ali.

As horas novamente foram passando rapidamente e só restaram os corpos carbonizados das vítimas dentro do edifício destruído.

Nenhum dos nossos foi incluído nessa tragédia, graças a Deus.

Agora é tudo com o IML e a perícia.

Depois de tudo organizado de novo nos caminhões, me joguei no banco de trás do mesmo e peguei meu celular no bolso.

23:47 da noite.

Respirei fundo e entrei no whatsapp, vendo que haviam muitas mensagens.

Primeiro tranquilizei a mãe do meu filho e minha mãe, falando que estava bem.

Logo após entrei na mensagem da Laura.

Whatsapp

13:34 Laura: Pelo amor de Deus, assim que vem essa mensagem me responde.
14:48 Laura: Amor.
14:48 Laura: Que esteja tudo bem com você.
18:45 Laura: Tô indo pra sua casa, não vou aguentar ficar no AP sem notícias.
20:36 Laura: Que você não esteja entre esses soldados sendo retirados do local.
20:36 Laura: Amém.
23:30 Laura: Eu vou surtar.
23:45 Laura: Já estou surtando.
23:48 Renan: Tô bem amor.
23:48 Renan: Me espera em casa que logo tô aí.

Sorri de lado com a preocupação dela e me encostei no banco do caminhão, deixando meu corpo relaxar depois de toda aquela adrenalina.

Ao chegarmos no batalhão, fomos dispensados e a equipe de plantão assumiu a limpeza e organização dos caminhões.

Entrei no meu carro após tirar a roupa anti chamas e dirigi diretamente pra casa o mais rápido que pude.

Meu corpo gritava por um banho quente e um chamego da minha mulher.

E sei que ela não deveria estar diferente de mim.

Cansada, preocupada, assustada e necessitando me ter em seus braços pra se acalmar.

...

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